19. A Garota

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Thalia

  Acabamos de nos despedir de Ashley na porta principal do prédio. Eu e Sally já estávamos no quarto andar, exaustos e sujos.

  Sentia minhas pernas doloridas de tanto andar por aquele templo, e a cada suspiro que eu dava, sentia a dor incessante em minha cabeça se agravar mais, mesmo que eu esteja ao máximo tentando ignora-la

  O céu já estava escuro do lado de fora, e meu pai com certeza estava preocupado comigo, e me sinto mal por ter feito isso com ele.

-Boa noite Lia, nos vemos pela manhã, okay?- Sally disse fazendo um "toca aqui" comigo.

-Tenta dormir desse vez, senhor Sal Fisher- Brinquei

-Vou tentar, prometo- Ele respondeu, se virando para ir até seu apartamento, e eu fiz o mesmo.

-Boa noite Sal- Despedi, e ele me entregou um aceno de cabeça antes de adentrar cuidadosamente seu apartamento.

  Eu suspirei fundo, criando coragem, e entrei em casa, tentando fazer o mínimo de barulho possível, mesmo que a porta ruidosa não ajudasse, andando com as pontas de meus pés,  para não despertar meu pai, e assim fechei delicadamente a porta da sala. Soltei o ar, ao ver que não acordei...

-Thalia Darko!

Meu pai...

  Me virei para a sala, e me deparei com um Frank sentado em sua poltrona iluminada pelo abajur, que emitia uma luz cor de cobre em seu rosto repleto por preocupação, e ouso dizer, decepção.

-Onde você estava?- Ele perguntou rigidamente, se levantando da poltrona e vindo em minha direção- eu te procurei por toda parte, na casa do Sal, do Todd até da Lisa, mas nenhum sinal de você e nem do seus amigos, quer me matar de preocupação?

-Desculpa, eu perdi a noção do tempo- Respondi, em um tom triste- Eu estava no lago Wendigo, com meus amigos- Menti

-O que raios estava fazendo lá? Você sabe que quero te ver em casa quando eu chego, e você precisa me avisar antes de sumir assim...- Meu pai suspirou, como se desistisse da discussão-Deixa quieto...Você ta toda suja, menina

-Pois é...-Respondi, tentando ser o mais breve ali

- Você parece cansada, hm?-Ele disse, afagando meus cabelos- Eu só fiquei preocupado com você, entende meu bem?

Assenti em resposta

-Vai tomar um banho e dormir, okay?- Ele disse- Boa noite

  Papai se virou para seu quarto, e se fechou lá, cansado demais para discutir comigo. E eu, sem demora alguma fui direto para o quarto, pegando o primeiro pijama pela frente e entrando rapidamente no banheiro.

  Tudo que eu queria naquele momento era um banho, para esvaziar minha mente conturbada e principalmente confusa, sobre toda a historia que aconteceu hoje. Definitivamente era muito para meu cérebro processar, ainda mais quando ele esta passando pela dor semelhante a de sentir um prego cravado no córtex, o que me deixara mais tonta. Não me importei em acender uma luz sequer, pois não queria que nenhuma fonte de luminosidade forte atingisse minhas retinas, apenas deixei que a luz natural da lua adentrasse pela pequena janela que havia local.

  Me despi ligeiramente, deixando as roupas em um cesto no banheiro, e assim me dirigi a banheira deixando meus pés desnudos sentirem sua superfície gelada. Girei o registro do chuveiro,  sentindo as gotas mornas começarem a cair ao poucos em minha cabeça, o que logo se tornou uma chuva quente percorrendo meu corpo nu.

   A medida que o sabonete passeava pela minha pele, tentei me tranquilizar ao fechar meus olhos e tentar apreciar a água caindo em mim. Mas no momento em que fechava os olhos as imagens perturbadoras voltavam como flashes em minha mente. O bode, o senhor Packerton, a carne humana, o templo, a pilha de ossos. Tudo aquilo somado a minha dor que martelava em minha cabeça de dentro para fora, não me deixava tranquilizar minha mente, e faziam meu coração apertar em angustia e ansiedade. Cedi-me ao cansaço e aflição, abrindo meus olhos rapidamente, fechando o registro e saindo de dentro da banheira, lutando contra a tontura.

Fragmentos Da Verdade (Sally Face)Onde histórias criam vida. Descubra agora