Capítulo 8: Vampiros.

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Escorreguei para fora da cama, sentindo meu corpo inteiro tremer em um soluço, ao mesmo tempo que eu me engasgava com as lágrimas. A porta se abriu com força, com a governanta entrando e escorregando no sangue que se espalhava pelo chão. Ela soltou um grito assim que viu Silas.

—O que você fez? —Gritou, enquanto eu ficava de pé, sentindo o cheiro do sangue embrulhar ainda mais o meu estomago sensível. —O que você fez, garota?

—Ele ia abusar de mim. —Sussurrei, mesmo tendo certeza que aquilo não iria significar nada para ela. Ela havia acabado de me conhecer. Ela não se importava.

—Estamos perto da muralha, sua garota burra. —Ela se engasgou, correndo até a janela do quarto e olhando para o horizonte. —Eles vão sentir o cheiro do sangue dele. Eles virão até aqui.

Ela correu para fora do quarto, gritando pelos homens de Silas. Encarei o corpo dele no chão, enquanto o sangue não parava de se espalhar pelo chão. Minha mente continuava martelando, gritando comigo, mesmo que eu não pudesse entendê-la.

Eu havia o matado. Eu havia pegado aquela faca, sabendo o que poderia acontecer. Meus olhos não conseguiam se desviar do corpo dele, caído no chão com aquela faca cravada no início da garganta. Os lábios abertos escorrendo sangue. Era um pesadelo pior ainda.

Limpei as lágrimas do rosto, pegando minhas botas e as calçando. Agarrei minha bolsa sobre a poltrona, que eu nem havia mexido ainda, passando pelo meu pescoço antes de correr para fora dali. Não havia motivos para ficar esperando. Sabia que se os vampiros não aparecessem, então eu teria que enfrentar os homens de Silas.

Quando sai da casa, os vi pegando espadas e arcos, como se estivessem se preparando para algo ruim. Me lembrei naquele instante que aqueles homens caçavam do outro lado da muralha, onde ninguém tinha coragem de ir. Talvez eles já tivessem encontrado vampiros antes. Eles sabiam com o que estavam lidando, mesmo que não tivessem chance alguma contra aquilo.

—Onde você pensa que vai? —A governanta me viu assim que saiu do celeiro, gritando tão furiosa que aquilo me deixou paralisada. —Você o matou, sua garota burra... Você o matou!

—Eu não queria. —Falei, com as palavras se embolando na minha garganta. —Eu só estava tentando me defender. Mas eu não queria matá-lo. Eu juro que não queria.

Eu queria sim. Eu queria ter feito aquilo com o meu tio, mas nunca tive coragem o suficiente. Mas eu queria. Eu era uma mentirosa horrível. Eu havia perdido a única coisa que tinha, meu coração. Ele estava sujo de sangue, assim como meu corpo.

—Volte para dentro. —Ela agarrou meu braço, me puxando em direção a casa de forma grosseira, sem me dar a chance de dizer nada. —Você não sabe o que fez. Não tem ideia do que vai acontecer...

Ela parou de falar, com nós duas nos virando para a floresta atrás do celeiro. Alguma coisa havia assustado os pássaros, fazendo eles cantarem e voarem para longe. A mulher soltou meu braço, correndo para dentro da casa quando o primeiro vampiro apareceu, saltando do meio das árvores.

Meu coração deu um solavanco no peito, porque não eram nem um pouco parecidos com o vampiro que havia invadido a casa de Ronan. Tinham pele negra, como a noite infinita, e os cabelos tão vermelhos quanto sangue. Eu corri assim que mais deles apareceram, entrando na floresta.

Meus pés afundavam na neve, que impedia que eu fosse tão rápida quando poderia ser. Os soluços ainda estavam cortando minha garganta, enquanto o medo me consumia ao ouvir os gritos na direção da casa. Galhos de árvores se enroscaram no meu vestido, me fazendo lembrar que eu estava manchada de sangue e que aquilo poderia atraí-los.

Eu iria morrer. Tinha certeza que depois de dias sonhando com um vampiro, um deles finalmente ia acabar com a minha vida. As lágrimas embaçaram minha visão, enquanto minha garganta ardia e meu peito subia e descia. Mas não parei de correr, ouvindo o som de galhos se partindo atrás de mim, deixando claro que eles já estavam vindo na minha direção.

Eu os havia trazido até ali. Eu havia matado Silas e os trazido direto até eu e os outros. Olhei para trás por um segundo, vendo a sombra dos cabelos vermelhos desviando das árvores tão rápido que era quase impossível definir sua forma. Aquilo me causou um segundo de desatenção, que fez minhas pernas se enroscarem em raizes escondidas na neve e ir pra frente.

Soltei um grito quando desabei no chão, com os joelhos afundando na neve. Sangue pingou do meu vestido, manchando minhas mãos, enquanto eu percebia que havia alguém parado bem na minha frente. Ergui a cabeça, observando as botas pretas e a calça de mesmo tom, sentindo a respiração se prender na minha garganta quando encarei o rosto daquele vampiro que havia atormentado meus sonhos.

O rosto era quase tão branco quando a neve ao redor, com os cabelos negros bagunçados em várias posições diferentes, caindo sobre suas sobrancelhas erguidas, como se ele também estivesse correndo antes. Os lábios rosados estavam curvados em uma linha fina, enquanto os olhos me encaravam carregados de algo curioso.

Meu coração parou de bater por um segundo, enquanto eu sentia uma sensação inebriante tomar conta de mim, lembrando da sensação de ouvi-lo tocar piano. Do seu cheiro que remetia a um lugar calmo e acolhedor. Aquelas sonhos que deveriam me deixar assustada, mas me deixavam curiosa.

Ele não deveria remeter a algo bom. Eu não podia sentir meu corpo relaxar por vê-lo ali. Ele era um vampiro. Ele matava pessoas e sugava seu sangue. Aquele rosto não podia ser real. Meus sonhos não podiam ser reais. Mas ele estava bem ali na minha frente, com aqueles mesmos olhos que me encaravam toda vez que eu dormia.

—Eu tiro os olhos de você por alguns dias, e você já se mete em confusão? —A voz dele saiu como um sussurro rouco que me causou um calafrio.



Continua...

Jogo de Sangue e Vingança / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora