Capítulo 58: União de almas.

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Garrett focou em explicar tudo que sabia sobre os clãs de Artenis, começando pelo clã que ele fazia parte antes de sair de lá para encontrar sua parceira. Nicolay se inclinou sobre a mesa, prestando atenção em absolutamente todas as palavras dele. Lorde Veliant também prestava atenção, além de olhar uma vez ou outra para Kyara, que estava com a atenção fixa no parceiro, com um brilho de paixão nos olhos.

—O Clã Fletcher fica nas montanhas sobre a faixa de terra entre o mar. Como pode ver pelo mapa, só existe uma entrada para o clã e ela é extremamente guardada por vários vampiros. Jason pode confirmar que é impossível você entrar lá e principalmente tentar atacar o clã sem ser detectado muito antes. —Garrett colocou a ponta do dedo sobre a faixa de terra mais afastada do continente. —Possuem cabelos prateados e a pele dourada, mas vocês também podem encontrar vampiros com uma variação de cabelos brancos por lá. Meu antigo lorde era reservado e evita mais do que qualquer coisa entrar em problemas. Seu problema principal sempre foi com o Clã Kendrick.

Ele subiu o dedo, apontando o dedo para o clã que ficava ao norte.

—O Clã Velmont, nas montanhas entre o deserto e o mar, é liderado por dois machos e uma fêmea. Os três são irmãos e estão no comando do clã a muito, muito tempo mesmo. —Garrett lançou um olhar demorado a Nicolay, como se um aviso de que com aquele clã ele deveria tomar cuidado. —Apesar de não ser comum termos mais de um lorde vampiro por clã, eles prosperam a séculos com os três.

—Não consegui fazer contato com eles. —Jason murmurou ao meu lado, arrancando uma risada de Garrett, que estalou a língua ao mesmo tempo.

—Eles são extremamente violentos com visitantes. Não me surpreende que não tenha conseguido contato com eles. —Garrett fez uma careta para Jason. —Mas deveria agradecer por ainda estar com a cabeça grudada no corpo. O Clã Velmont é conhecido por sua cerca de cabeças, onde eles prendem as cabeças de todos os inimigos e de qualquer outra criatura em estacas, que seguem a divisa do seu território com o dos outros clãs.

—Que horror! —Lyn sussurrou, se virando para Kane, que murmurou alguma coisa pra ela que a fez exibir uma careta.

—Você viu? —Garrett perguntou a Jason, que balançou a cabeça que sim. —É um aviso para manter todos longe. Ninguém de lá tem dúvidas que o Clã Velmont é o mais poderoso de Artenis.

—Vamos evitar esse. —Foi Lou quem disse, mas recebeu um olhar e um sorriso preguiçoso de Nicolay, como se ele fosse adorar testar a teoria de eles serem os mais poderosos. —Nem pense nisso. Algumas ideias devem ser expressamente ignoradas.

—Mas é tentador demais. —Nicolay sibilou, negando com a cabeça. —Como eles são, Garrett?

—Eles não tem uma aparência física definida, como o restante dos clãs. Pode encontrar vampiros de todos os tipos lá. —Nicolay ergueu as sobrancelhas e Garrett deu de ombros. —Por que acha que são tão violentos e perigosos? É difícil você saber de que clã um vampiro pertence, quando o Clã Velmont é tão variável. —Garrett desceu o dedo para o sul. Para o clã mais próximo das ruínas da muralha. —Clã Kendrick. Cabelos vermelhos e pele negra. São territoriais e caçam humanos, tanto em Artenis como no Mundo Inferiror.

Olhei para Jason, vendo os olhos dele encontrarem os meus e a confirmação de que ele sabia o que eu estava pensando. Os vampiros que atacaram a casa de Silas depois que eu o matei e seu sangue chamou a atenção. Os vampiros que Jason e Ágape mataram para me proteger.

—Particularmente, são uns babacas, como o Clã Huxley daqui. Mas talvez eles aceitassem uma aliança, já que aceitaram trocar correspondências com você com o tempo. Mas não ajudariam sem ganhar algo em troca. Então eu tomaria cuidado com o tipo de acordo que faria com eles. —Garrett finalmente subiu a mão, apontando para o Clã Goodwin, nas montanhas ao norte, entre o deserto e a floresta. —Lady Goodwin sempre foi um pouco excêntrica. Como seu clã fica perto da entrada do mundo inferior, ela costuma fazer muitos negócios por lá, com todo tipo de criatura que você pode imaginar.

—Eles querem uma reunião. —Nicolay batucou os dedos na mesa. —Já imagino o que ela irá desejar.

—E eu imagino que já tenha um plano sobre isso, com ou sem aliados. —Garrett retrucou, lançando um olhar sarcástico na direção de Nicolay quando ele abriu um sorriso, confirmando que tinha sim um plano em mente.

[...]

Saí para o jardim, encontrando Ágape se esfregando na grama e pegando sol. Abri um sorriso ao vê-lo desse jeito, escondido na pele de um gato por tanto tempo, que agia realmente como um. Me aproximei dele aos poucos, chamando sua atenção, porque ele olhou pra mim quando ouviu os meus passos e então revirou os olhos.

—Que cara é essa, hein? —Indagou, se sentando na grama, antes de começar a se lamber. —Já está entediada com a eternidade, Fawley?

—Não, ainda não. —Me sentei na grama ao lado dele, vendo-o me lançar um olhar surpreso e até mesmo um pouco desconfiado. —Estou me perguntando como você não está entediado com a eternidade.

—Não tem como ficar entediado quando se é um yatori e você está constantemente pensando se algum deus idiota irá aparecer e tentar te matar. —Resmungou, me fazendo comprimir os lábios, pensando em como seria passar a vida todo sendo caçado. —Mas já que quer tanto saber, parei de contar depois que passei do 1000. Sou mais velho do que todos os vampiros desse lugar. Estava aqui quando os humanos viviam em guerra com os vampiros e essa terra era apenas sangue. Estava aqui para ver a criação do tratado e a construção da muralha.

—Sozinho? —Indaguei, soltando uma respiração pesada. —Você estava sozinho antes de encontrar Nicolay?

—Não, não sozinho. Eu tinha amigos... Quer dizer, não sei se posso considerá-los amigos, mas eu tinha algumas pessoas. A questão é que as coisas mudam com o tempo e a prioridade das pessoas também. Só fui ter uma família de verdade e uma casa, quando conheci Nicolay. —Ágape balançou a cabeça negativamente. —Quero contar a ele e a Lou a verdade. Mas tenho medo do que vai acontecer. Da última vez que contei pra alguém o que eu era de verdade, essa pessoa foi embora.

—Eles não vão fazer isso com você. —Afirmei, porque sabia, mesmo com tão pouco tempo ali, que Nicolay e Lou jamais deixariam Ágape para trás. —Você faz parte da família, Ágape. Mais do que qualquer um aqui, você faz parte da família.

—Eu gosto mesmo de acreditar que sim. —Ele fechou os olhos, deixando o sol bater contra seu rosto. As orelhas baixas como se ele tivesse desanimado. —Vocês tem sorte, sabia? Todos vocês. Por poderem encontrar seus parceiros e serem felizes pela eternidade. Mesmo tendo problemas com outros clãs, vocês ainda conseguem ser felizes.

—Você nunca teve ninguém em todos esses séculos? —Indaguei, vendo-o balançar o rabo de um lado para o outro, enquanto abria os olhos para me encarar. —Ninguém, romanticamente?

—Parceiros funcionam de uma forma diferente para yatoris. —Ágape murmurou, se remexendo como se estivesse sem graça de falar aquilo. —É como uma união de almas, mas não como o laço de parceria. Você pode se envolver romanticamente com outras pessoas durante a vida, mas apenas uma delas será a certa. Um yatori sabe quando encontra a parceira certa, porque é como se as almas se ligassem de alguma forma, no instante que os olhares se encontram.
Quando isso acontece, ambos sabem que vão passar a eternidade ao lado um do outro. Em relação a outros envolvimentos durante a vida, pode acontecer, mas não é prazeroso de verdade, então a minha raça costuma evitar envolvimentos assim, até de fato encontrar seu igual.

Ágape esclareceu, me deixando surpresa, porque não estava esperando nada como aquilo. Tão importante e talvez mais complexo que o próprio laço de parceria.

—Tive apenas um envolvimento todos esses anos. Foi uma coisas de meses, porque como eu disse, não era prazeroso e bom pra mim. Yatoris não sentem prazer ou paixão com facilidade. Vocês ainda podem se apaixonar fora do laço de parceria, mas com a gente? Absolutamente, não. Acho que meu envolvimento foi uma tentativa de não me sentir solitário.

—Sinto muito, Ágape. —Falei, erguendo a mão para passar os dedos sobre os pelos dele. Ágape se aproximou mais de mim, escorando o corpo pequeno nas minhas pernas. —Essa união de almas acontece apenas entre yatoris ou...

—Com qualquer um. É a magia que corre dentro de mim que escolhe, Faw. Quando eu a ver, a magia vai saber e vai me avisar, independente se ela for como eu ou não. —Ágape afirmou, subindo no meu colo antes de se deitar ali. —Agora chega de perguntas. Já contei coisas para você, que não tinha contato para mais ninguém.



Continua...

Jogo de Sangue e Vingança / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora