Capítulo 59: Uma maldição de amor.

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Fiquei uns segundos em silêncio, pensando no que Ágape havia me contado. Parecia uma relação muito mais intensa do que ter um laço de parceria. Não consigo imaginar como seria não conseguir em apaixonar por absolutamente ninguém, enquanto tenho que esperar pela pessoa certa aparecer. Soava único e profundo.

—Merida me contou sobre a maldição que você acredita ter caído sobre os Arteryon, depois do que Nicolay fez. —Comentei, vendo Ágape erguer a cabeça para olhar pra mim. —Acho que você está certo, sabia? Faz muito sentido, na verdade.

—Eu sempre estou certo. —Retrucou, me arrancando uma risada. —Mas, sim, realmente acho que isso não está certo. Além do mais, não se pode brincar com um deus como o destino sem ter consequências. Nicolay pode ter vencido uma batalha, mas não venceu a guerra.

—E como você vence a guerra? —Indaguei, franzindo a testa quando me senti confusa com o que ele disse.

—Nicolay enganou o destino com uma maldição, então ele criou uma maldição de amor como punição, fazendo os vampiros da nossa família se apaixonarem por humanos e tudo se tornar caos. —Ágape sussurrou, parecendo estar pensando muito longe. —Não sei como se vence essa guerra, Faw. Mas acho que vamos descobrir com Merida e Corey.

—O que quer dizer com isso? —Eu o olhei com as sobrancelhas erguidas, podendo ver que Ágape também entendia o quão profundo era o sentimento de ambos, um pelo outro, mesmo que eles fingissem ou mantassem distância.

—Ou eles vão ficar juntos e seguir a maldição, ou vão manter a distância e tentar quebrá-la dessa forma. —Ágape balançou a cabeça negativamente. —Eu não sei, Faw. Mas eu realmente acho que aqueles dois são a resposta pra tudo isso.

—Você acha que os dois tem um laço de parceria? —Indaguei, vendo-o solar um suspiro pesado, me lançando um olhar demorado que deixava claro que ele não fazia a menor ideia.

Ágape saiu do meu colo, se afastando na direção do castelo. Fiquei o observando, tentando pensar em todas aquelas coisas confusas. Corey não quer se tornar vampiro e Merida não quer se tornar humana. Mas não consigo imaginar como eles conseguiriam manter distância um do outro assim.

[...]

Nicolay recebeu uma carta do Clã Goodwin no dia seguinte. Um vampiro do clã de Elara apareceu no vale e deixou a carta na entrada do clã. A mensagem era muito curta e muito clara. Elara queria Corey em troca da vampira que ele havia matado no reino humano. Não deixei de notar a tensão que exalou de Merida ao ouvir Nicolay lendo aquilo, além do escurecer dos olhos dela, como se pudesse ir no Clã Goodwin e destruir ele com suas próprias mãos por tentarem mexer com Corey.

—Era o que eu esperava, de certa forma. —Nicolay jogou a carta sobre a mesa, enquanto eu encarava o chão, lembrando de Arden e do que ele havia feito comigo. Elara parecia ter dado essa parte como encerada, mesmo que pra mim tudo ainda estivesse muito vivo. —O ego deles está ferido, tanto pelo que Jason fez, como por um humano ter matado um deles.

—Foi pra isso que o treinamos. —Kane murmurou no canto da sala, com o rosto inteiro tenso. Normalmente o via sempre tranquilo e sorridente, mas o fato de estarem falando do seu sobrinho parece ter tirado toda a sua calmaria.

Estou incomodada também, por Corey, pelo fato de Elara ter ignorado Jason e eu naquela carta, como se o que ela tivesse feito comigo não fosse nada. Como se ela sequer estivesse incomodada com o fato de termos fugido de dentro do seu clã, enquanto Jason, Will e Quinn a enganavam com palavras vazias. Tudo aquilo fazia meu sangue esquentar a ponto de virar brasas dentro do meu corpo.

—Eu sei e vamos usar isso ao nosso favor. —Nicolay afirmou, e eu vi Merida dar um passo para frente, como se fosse rebater. Mas Lyn a segurou, abrindo um sorriso tenso para a filha. —Irei até o reino humano conversar com o rei e Corey sobre o que está acontecendo. Garrett, eu preciso que vá até Artenis e fale com seu antigo clã. Vamos ver se conseguimos algum tipo de aliança com eles.

—Vou dar o meu melhor. —Garrett prometeu, lançado um olhar questionador a Kyara, como se quisesse saber se a parceria iria com ele ou não. Ela assentiu silenciosamente, fazendo um sorriso brotar nos lábios de Garrett, antes de ele se virar e olhar para Chase, que estava escorado na entrada da varanda, olhando lá pra fora com aquele rosto inexpressivo de sempre.

—Onde você colocou o espelho, Chase? —Kyara indagou, me fazendo lembrar daquele pequeno detalhe.

—Em um dos lagos congelados das terras humanas. —Respondeu, sem se dar ao trabalho de se virar para nos olhar, nem mesmo para ver o sorriso que se abriu nos lábios de Nicolay. —Eu usaria uma pedra dimensional se fosse vocês. Ele já deve estar completamente congelado uma hora dessas.

Kyara soltou uma risada quando Garrett revirou os olhos, mas os dois dispararam para fora da sala. Senti a mão de Jason nas minhas costas, roubando minha atenção pra ele. Seu sorriso era doce, mas eu podia ver que ele estava preocupado também, por conta de Corey. Sendo treinado ou não, ele ainda era um humano. E eu já tinha visto até onde o Clã Goodwin poderia ir para conseguir o que quer.

—Não gosto da ideia de Corey nas mãos de vampiros. —Falei, fechando meus olhos quando Jason se inclinou e beijou minha testa. —E se der tudo errado?

—Não vai dar errado. Nicolay já derrubou um clã uma vez, Faw. —Jason piscou pra mim, soando tão confiante que eu acreditei nele. —Apenas confie. Logo vamos estar longe de problemas, a ponto de nos sentirmos entediados até os ossos.

Aquilo me arrancou uma risada baixa, enquanto eu o abraçava e escondia meu rosto no seu peito. Os outros estavam conversando ao nosso redor, mas foi a voz de Lou que chamou minha atenção. Ela estava perguntando aos outros se eles tinham visto Ágape em algum lugar. Desde o escritório, quando Nicolay brigou com ele e Jason, Ágape tem se mantido afastado. Não sabia se era pelo puxão de orelha, ou por estar se decidindo entre contar ou não a verdade. Eu esperava que ele fizesse a escolha certa.


Continua...

Jogo de Sangue e Vingança / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora