Capítulo 61: A decisão não é sua.

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Nós partimos para o reino humano no mesmo instante, porque Nicolay não parecia nem um pouco interessado em esperar mais um pouco. Tentei não pensar direito no que ia acontecer, porque isso estava me deixando com mais ansiedade que o normal. Tinha certeza de que Jason podia sentir isso pelo laço, porque ele me olhava uma vez ou outra, parecendo um pouco preocupado comigo. Jason estava perto de uma das varandas, conversando com Quinn. Mas seus olhos não me deixavam um segundo sequer.

—Acha que Corey vai querer participar disso? —Indaguei, me virando para olhar para Ágape, que estava sentado no sofá se lambendo. Ele apareceu quando estávamos saindo do clã, murmurando sobre querer vir com a gente.

—Ah, ele vai sim. Corey pode parecer gentil e inofensivo, mas ele não é do tipo que corre de um problema, por maior que ele seja. —Ágape afirmou, me fazendo comprimir os lábios com a lembrança de Corey matando aquela vampira quando fomos atacados. —Mas o problema não é ele, certo? Estão todos fingindo que a bomba não vai explodir, quando ela vai sim, a qualquer momento.

—Todos tem sua própria forma de lidar com as preocupações que envolvem tudo isso. —Rebati, fazendo uma careta quando Ágape soltou uma risadinha debochada, como se eu estivesse contando alguma piada. —Além de não  ser o único problema com que temos que lidar.

—Ah, claro, aqueles malditos ataques que ninguém consegue descobrir absolutamente nada. —Ágape revirou os olhos, como se estivesse muito frustrado naquele momento. —Jason estava lendo e pesquisando sobre isso, sabia? Tentando achar pistas e descobrir o que está acontecendo aqui. —Olhei para Jason, que ainda estava conversando com Quinn, me dando conta que não sabia sobre isso e que sequer tivemos tempo de conversar direito. —Tenho uma teoria, mas não sei se estou certo. Tantos séculos vivendo aqui e eu as vezes não tenho certeza mais se o que já vi pelo mundo são apenas lendas ou verdade.

—Já contou sua teoria ao Nicolay? —Indaguei, mesmo sabendo que ele não tinha contado nada, porque estava evitando tanto Nicolay como Lou. —Eles são sua família, Ágape. Não deveria ter medo de nada perto deles. Eles não vão deixar de gostar de você por ser outra coisa.

—Você não faz ideia de absolutamente nada, pra falar em nome deles! —Sibilou, como se eu estivesse me intrometendo mais do que deveria. —Cuide do seu parceiro, Fawley. É o melhor que você pode fazer nesse momento.

—Bom ver que mesmo com medo, você continua tão ranzinza quanto antes. —Soltei, ficando de pé para me juntar a Jason e Quinn. Mas a porta da sala se abriu e Corey passou por ela, seguido por Nicolay, Kane e Will. A expressão séria e frustrada, como se alguma coisa estivesse o incomodando. Não demorei pra descobrir o que era, já que Merida entrou por último, absurdamente irritada.

—Isso é uma péssima ideia. Por que nenhum de vocês está me ouvindo? —Merida indagou, cerrando os punhos de raiva, enquanto Nicolay lançava um olhar demorado a Kane, como se deixasse claro que mesmo sendo o líder, era Kane quem deveria resolver isso. —Ele vai morrer se o mandarem pra lá sozinho!

—Nós o treinamos bem o suficiente para que ele soubesse se defender e se proteger quando necessário, Merida. —Kane se virou pra ela, soando cauteloso com as palavras. —Corey não é uma criança e sabe o que está fazendo. Podemos confiar nele e em Nicolay.

—Ele vai ser mordido e transformado. Você sempre teve medo que isso acontecesse com ele e agora vai manda-lo direto pra esse destino, pai! —Merida insistiu, atravessando a sala até onde Nicolay havia parado. —Por favor, tenho certeza que tem outra maneira de resolver tudo isso. Não o mande pra lá. Por favor, não o mande pra lá!

—Eu quero ir. —Corey não deixou que Nicolay respondesse, provavelmente porque viu que Nicolay estava muito tentando a ceder, já que Merida estava com os olhos marejados e com uma voz que deixava claro que ela estava praticamente implorando. —Nicolay não me pediu pra ir ou sugeriu qualquer coisa parecida. Eu deixei claro que queria ir e queria ajudar.

—Porque você é louco! —Merida se virou pra ele com uma expressão furiosa. —Do que vai adiantar todo aquele treinamento se você vai ser transformado ou até mesmo morto!

—Eu vou morrer um dia, mais cedo ou mais tarde. É o que acontece com os humanos, Merida. —Corey deu de ombros, como se não se importasse mesmo com os riscos daquilo. Mas Merida bufou, parecendo não acreditar no que estava ouvindo. —Quero ajudar e vou ajudar.

—Por que está fazendo isso? Você vai ser rei. Esse lugar e esses humanos precisam de você. —Merida se aproximou de Corey, que olhava pra qualquer lugar, menos para o rosto contorcido em preocupação e para os olhos cheios de lágrimas. —Por que se arriscar tanto assim? Por que se arriscar em outro continente?

—Você gosta muito de me lembrar que somos uma família, Merida. —Corey finalmente olhou pra ela, com apenas determinação tomando conta do rosto. Mas aquelas palavras eram como brasa na boca dele, fazendo o rosto de Merida exibir uma expressão de mágoa. —Já perdi a conta de quantas vezes você ficou satisfeita em me jogar isso na cara. Então, como você parece ter se esquecido desse fato, somos uma família, eu sendo humano ou não. Se a minha família precisa de ajuda, eu vou ajudar sem hesitar.

—Você não precisa se arriscar por nós. Não precisa arriscar sua vida e nem sua humanidade por um bando de vampiros. —Merida sussurrou, apertando os lábios com força quando Corey desviou os olhos dela para o chão, parecendo pensar no que teria que fazer em breve. —Por favor, Corey, não quero que faça isso.

—A decisão não é sua. É minha. —Corey tocou na mão de Merida de leve, antes de se afastar na direção da porta. —Vou conversar com meus pais. Me avise quando vocês estiverem prontos pra ir, Nicolay. Vou ficar esperando suas ordens.

Ele desapareceu da sala, parecendo carregar algo muito pesado nas costas. A tensão deixando o clima naquela sala pesado e esquisito. Observei Kane dar um passo na direção de Merida, como se quisesse conversar com a filha. Mas ela desapareceu em um piscar de olhos, o fazendo soltar um suspiro pesado.


Continua...

Jogo de Sangue e Vingança / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora