Capítulo 25: Estou com medo.

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Jason deslizou de cima de mim, se deitando ao meu lado. Meu corpo ainda estava trêmulo e minha respiração ofegante quando ele me envolveu com os braços e meu rosto ficou pressionado contra seu peito. Não consegui pensar em mais nada por longos segundos, enquanto meu corpo se acalmava aos poucos.

Fechei meus olhos e absorvi o calor e o cheiro de Jason, me lembrando das palavras dele. Ele queria me beijar, mas não podia e não faria isso até eu aceitar o laço. Meu coração se apertou e eu senti seus braços se firmarem ainda mais ao meu redor, enquanto sua boca tocava minha testa com cuidado.

—O que foi? —Sussurrou, passando os dedos pelos fios volumosos dos meus cabelos. —Eu machuquei você?

Balancei a cabeça negativamente. Eu ainda estava sentindo o puxão dele nos meus cabelos, o latejar dos seu aperto na minha coxa e da mordida no meu seio. Mas eu não estava incomodada com aquilo, quando eu sabia que ele só estava tentando provar seu ponto de não me machucar de verdade.

—Estou com medo. —Revelei, odiando ouvir minha voz tremer. —Eu nunca tive nada, Jason. Meu tio era como um peso nas minhas costas que eu estava ansiosa para me livrar. Eu desejava que ele morresse todos os dias, pra que eu pudesse ser livre. Eu não me incomodava com a ideia de ficar sozinha. Era algo que eu queria. —Meus lábios se comprimiram quando ergui a cabeça para encarar os olhos de Jason e a imensidão que havia lá dentro. —Então você apareceu e veio o laço, clãs e... você me prometeu uma família. Você me prometeu amor e proteção, quando nunca tive nada como isso. Estou com medo de dizer sim e tudo desmoronar. Estou com medo de desejar essas coisas, porque tenho a sensação de estar sonhando com algo impossível que vai ser tirado de mim quando eu menos esperar.

—Nada vai ser tirado de você. —Jason balançou a cabeça negativamente, beijando minha testa, enquanto meu coração batia como se fosse a última vez. —Sou seu, Faw. Mesmo que não tenha dito sim e que esteja com medo, eu sou seu. Tudo que prometi pra você, também é seu. Tudo que você quiser, pode me pedir e farei acontecer.

—Mas você precisa ir agora, não é? —Indaguei, sentindo um gosto amargo na boca com o pensamento. Havia esquecido da visita de Chase e Merida por alguns minutos, mas agora tudo voltou e caiu como uma tempestade na minha cabeça.

—Sim, eu preciso. Não quero deixa-la aqui, Faw, mas Chase tem razão, você estará mais segura aqui. —Ele acariciou minha bochecha, sem tirar os olhos de mim. —Até sabermos o que de fato está acontecendo em Vênus, é melhor que fique aqui. Se eu a levasse, ficaria distraído demais com a sua segurança lá, e se você dissesse sim, teríamos que lidar com as leis e os outros clãs sobre a questão da sua transformação.

—Eu entendo. —Falei, mesmo que estivesse com um aperto no peito ao pensar que ele iria sumir por dias de novo. —Posso continuar procurando o espelho nas ruínas do castelo.

—Não, melhor não. —Ele riu, como se gostasse da minha sugestão. —Quero que fique aqui, quietinha, onde eu sei que ficará bem. Se precisar ir na vila, vá quando estiver amanhecendo e não tiver muito movimento. Tente ser rápida, está bem? Mas não se coloque em risco. Quero encontra-la aqui quando voltar.

—Tudo bem. —Abri um sorriso pra ele, me sentindo transbordar com o carinho e o cuidado na voz dele. Era quase demais pra mim. Era como se aquele sentimento dele fosse me esmagar com a intensidade que eu o sentia. —Vou ficar segura, prometo.

Jason deslizou o nariz sobre o meu e meu coração disparou com a possibilidade dele ter mudado de ideia sobre o beijo. Mas ele apenas beijou delicadamente minhas bochechas, me envolvendo mais ainda com os braços. Escondi o rosto em seu peito e me agarrei a todo tempo que ainda tinha com ele, antes que ele fosse embora.

Não demorei a adormecer, sonhando de novo com aquele aquele castelo sobre uma cachoeira entre um vale. O cheiro de pinheiros estava por todo lado, assim como o som de pássaros cantando. Jason estava comigo de novo, sorrindo tanto quanto eu. Eu não estava lá, mas eu sabia que lugar era aquele. Eu sabia o que aquilo significava dessa vez.

Quando acordei, meu coração estava queimando dentro do peito e algo dançava na boca do meu estomago, agradável e doce. O fogo estalava sobre as lenhas da lareira, enquanto eu olhava ao redor e percebia que Jason já não estava mais ali e eu estava completamente sozinha. O calor do seu corpo já não me envolvia mais, mesmo que seu cheiro estivesse grudado em mim.

Fiquei de pé e sai da cabana, olhando para a floresta congelada ao redor, sentindo minha garganta ficar seca. Tudo estava silencioso e quieto. Não havia pássaros, sol ou qualquer outra coisa além de neve por todo lado, pintando tudo de branco. Jason havia ido embora enquanto eu dormia, evitando qualquer tipo de despedida. Eu só não sabia se havia feito isso por mim ou por ele.

Voltei pra dentro, sentindo um emaranhado de pensamentos naquele momento. O que estaria acontecendo lá. Quanto tempo Jason levaria para voltar. Ele ficaria seguro, assim como o restante do seu clã. Será que ele sabia que havia dado uma resposta para o meu medo ao mesmo tempo que precisou partir sem saber disso.

Parei de pensar quando olhei para a cama na frente da lareira, vendo que havia algo ao lado de onde eu estava dormindo. Caminhei até lá, me sentando na frente da lareira, enquanto observava o livro surrado e cheio de anotações que Jason havia deixado ali. O livro que ele guardava com ele e que estava sempre anotando ou lendo algo.

Quando o peguei, um papel escapou do meio das paginas, fazendo meu coração errar algumas batidas. Não demorei para perceber o que era, enquanto meus dedos trêmulos o pegavam e o abriam, vendo o desenho da família de Jason ali, junto com ele. Ele havia me contado que Nicolay havia desenhado aquilo pra ele, pra que quando ele estivesse longe de casa, não se sentisse tão sozinho. Pra que soubesse que eles estariam sempre esperando por ele.

E agora ele havia deixado aquilo pra mim. Uma parte dele, pra me lembrar que nunca mais estarei sozinha e que não preciso ter medo.


Continua...

Jogo de Sangue e Vingança / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora