Capítulo 27: Eu vou com você.

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Quase caio para trás, trombando com força antes de meu braço ser agarrado para que eu não caísse de bunda na neve. Demoro muito pra perceber quem está na minha frente, porque minha cabeça ainda está desesperada para fugir com a possibilidade de meu tio me ver. Mas o alívio toma conta do meu corpo quando reconheço o vampiro.

—Chase... —Soltei o ar com força, tão feliz por vê-lo ali que poderia me jogar em cima dele se ele não estivesse me encarando com toda aquela seriedade que me deixava sem graça. —É você. É só você.

—Por que correu? —Indagou, soltando meu braço quando percebeu que eu não iria mais cair, enquanto erguia os olhos para encarar a floresta ao redor.

—Ah, nada. —Limpei a garganta, constrangida. —Você me assustou. Não estava esperando vê-lo aqui.

—Você não tinha me visto até esse momento. —Retrucou, me lançando um olhar afiado que me fez encolher. —Por que correu? O que a assustou?

Esfreguei a testa, percebendo que Chase não sairia dali até que eu falasse a verdade. Não sei se estava me observando por muito tempo ou não, mas deve ter visto meu desespero quando entrei correndo na floresta.

—Meu tio estava ali na vila. —Falei por fim, desviando os olhos dele para a floresta. —Não é um bom homem e eu não queria que ele me visse.

—Mas ele te viu? —Insistiu, me fazendo balançar a cabeça negativamente.

—Acho que não. Eu só vi o cavalo dele. Ele não estava na rua quando passei. —Afirmei, vendo ele assistir por fim, parecendo satisfeito. —O que está fazendo aqui? Jason veio com você?

—Não, sou só eu. —Ele deu um passo para o lado, saindo da minha frente antes de indicar que eu fosse. Comecei a caminhar, sentindo meu coração apertar ao saber que Jason não estava ali. Por um segundo, pensei que o veria de novo. —As coisas não melhoraram em Vênus. Minha passagem aqui é rápida. Tenho que entregar um aviso ao Clã Fletcher e ver como você estava.

—Pensei que quem trazia esses avisos era Jason. —Comentei, olhando por cima do ombro, vendo que Chase me seguindo, sem parar de olhar ao redor.

—Era. —Foi a única resposta que tive dele.

Meu coração disparou com a possibilidade de algo ter acontecido com Jason. Mas me obriguei a pensar que se tivesse mesmo, Chase me contaria, porque sou parceira dele. Mas ele também não parecia disposto a conversar mais, então caminhei o mais rápido que conseguia e fiquei em silêncio.

[...]

Demoramos para chegar na cabana, porque havia nevado mais durante a noite e mais neve estava acumulada no chão. Chase não reclamou da minha demora para me mover, mas eu podia ver sua impaciência nos seus olhos verdes. Precisava me lembrar do que Ágape havia dito, ou ia mesmo pensar que ele não gosta de mim.

Soltei a bolsa sobre o sofá, vendo Chase fechar a porta e olhar para a cabana, vendo que tudo estava arrumado e limpo. Minha língua formigou para enche-lo de perguntas. Queria saber de Jason. Queria saber sobre Ágape e como as coisas estavam por lá. Queria saber se ele voltaria.

—Você foi muitas vezes a vila? —Indagou, me observando colocar mais lenha na lareira, que estava quase apagando.

—Não. Foram poucas vezes. Só quando era muito necessário. Tentei tomar cuidado. —Afirmei, me virando para encara-lo quando não aguentei mais. —Jason está bem?

—Sim. —Chase parou, olhando para o desenho aberto no sofá, que eu passava muitas horas do dia observando. Já havia gravado os detalhes de cada um deles. Até mesmo dele. —Estamos todos bem. As coisas só não melhoraram.

—Mais vampiros mortos? —Questionei, estremecendo ao ver ele balançar a cabeça que sim. —E os humanos?

—Por enquanto estão seguros. Mas a muralha está sendo protegida, para que nada passe para o outro lado. —Chase esclareceu, enquanto eu engolir em seco e guardada aquela informação. —Jason me pediu para vir até aqui, porque Ágape o meteu em problemas com um dos clãs. —Chase torceu os lábios em reprovação. —O que não me surpreende, vindo do Ágape. Mas ele achou melhor que fosse eu a fazer isso, já que andar nos territórios dos clãs nunca é uma boa ideia.

—Você já foi até lá?

—Ainda não. Vim primeiro aqui, saber como você estava. —Ele voltou a me encarar, deixando o desenho de lado. —Mas preciso ir até o Clã Fletcher. Os lordes acharam melhor avisarmos os clãs daqui sobre o que está acontecendo em Vênus. Então não posso demorar.

—Entendo. —Falei, umedecendo os lábios com a língua ao perceber que aquilo era uma visita e ele logo iria desaparecer também, assim como Jason.

—Eu não quero supor nada, então preciso que me diga se vai comigo ou vai ficar aqui? —Questionou, me pegando completamente de surpresa.

—O que? —Soltei, com os lábios tremendo ao ver a determinação no rosto dele. —Ir com você pra Vênus?

—Sim, Fawley, exatamente isso. Você teve quase três semanas sozinhas. Penso eu, que já deve ter chegado a alguma conclusão sobre o laço de parceria. —Afirmou, fazendo meu coração acelerar mais ainda. —As coisas não melhoraram e não tem porque pensarmos que vai. Então não faz mais diferença manter você aqui. Jason quer você lá. Então precisa me dizer o que decidiu.

—Se eu for, serei transformada? —Indaguei, com a voz quase falhando.

—Vai. Não pode encaixar o laço de parceira sendo humana. —Murmurou, fazendo meus lábios se comprimirem ao pensar naquilo. —Meu pai terá que fazer uma reunião com os outros lordes, por conta das leis. Mas você precisar dizer sim e precisar estar lá. Então, você vai comigo ou vai ficar aqui?

—Eu vou com você. —Não hesitei em responder, sentindo uma emoção diferente se apossar de mim naquele momento. Entendi naquele momento outro motivo que fez Jason mandar Chase até aqui. Ele não queria estar presente caso eu negasse o laço. Mas eu jamais faria isso. Eu jamais diria não a ele.

Chase soltou um suspiro e eu podia jurar que a sombra de um sorriso surgiu nos lábios dele. Mas foi rápido. Quase imperceptível. A primeira emoção que vi ele demonstrar além de seriedade.


Continua...

Jogo de Sangue e Vingança / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora