Capítulo 9: Ela é minha.

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Pensei em várias coisas que queria dizer a ele. Em como eu queria xinga-lo por não ter matado meu tio, por ter me assustado e ficado atrás de mim, me observando de longe. Ao mesmo tempo que queria saber quem ele era e porque ele havia sumido, depois de ter passado dias me seguindo.

Mas naquele momento eu havia ficado completamente sem palavras, com o meu coração batendo tão forte que chegava a boca. Meu corpo se acalmou com a presença dele, ao mesmo tempo que o medo me corria por dentro sem saber o que iria acontecer agora que ele estava finalmente na minha frente.

Ele não parecia ser muito mais velho que eu, mas eu duvidava muito que fosse jovem, já que vampiros eram imortais e não envelheciam, não importa quanto tempo passe. Então essa era outra coisa que eu queria perguntar a ele, mas certamente não faria.

—Entregue-a pra nós, Arteryon. —A voz atrás de mim me fez perceber que não estávamos sozinhos e que aqueles vampiros estavam a metros de mim. —Nós chegamos primeiro.

O vampiro na minha frente ergueu os olhos para a floresta atrás de mim, onde os outros estavam. Três, pelo que eu pude ver por cima do meu ombro. Ele ficou um segundo em silencio, antes de enrugar os lábios em reprovação.

—Mas parece que eu a peguei primeiro, então ela e minha. —Murmurou, tão calmo que eu engoli em seco ao ouvir suas palavras, tremendo contra a neve no chão. Duvidava muito que conseguiria ficar de pé. —E eu não gosto de dividir.

—Pare de brincar! —As palavras vieram como um rosnado atrás de mim, de uma voz feminina. —Traga-a pra nós. Além de não ser de Artenis, você está em menor número aqui. Então não nos faça perder tempo.

—Estamos ao sul da muralha. —O vampiro se moveu na minha frente, se aproximando mais até estar ao meu lado. —Esse território é dos humanos, pelo que eu saiba. Então a palavra de vocês não é lei por aqui. Posso fazer o que eu quiser. E, além do mais, eu não estou sozinho.

—Você ficou metido demais desde que recebeu aquela proposta de Lady Goodwin. —Uma voz masculina retrucou, enquanto eu pensava em qual a probabilidade de sair viva daquela situação. —E pelo visto não aprendeu nada com os erros.

—Vocês já mataram aqueles outros humanos. —Eu olhei pra cima, vendo o vampiro indicar a direção da casa de Silas. —Sangue o suficiente para vocês três.

—Queremos essa também. O cheiro dela é delicioso. —Eu estremeci ao ouvir aquilo, sentindo o sangue latejar na minha cabeça. —Pare de perder nosso tempo e a entregue, antes que nós três irmos ai e arrancar sua cabeça.

—Vampiros, sempre tão idiotas. —Me encolhi quando passos soaram, até um rapaz de pele negra parar do meu outro lado, revirando os olhos incrivelmente amarelos. —Além de burros, porque agora que o ameaçaram é que ele não vai entrega-la mesmo.

—Quem é esse? —A vampira indagou, e eu olhei por cima do ombro, vendo-a com uma expressão incrédula no rosto. —Ele fede a pelo molhado.

—Não me ofenda, eu tomo banho todo dia! —O rapaz soltou, estalando a língua e virando a cabeça para o vampiro ao meu lado. —Podemos acabar logo com isso? Eu tô morrendo de fome e minha bunda já está congelando aqui, Jason!

Jason.

Aquele nome causou um arrepio por todo meu corpo, enquanto o calor se concentrava nas minhas bochechas. O rapaz que não parava de resmungar do frio me segurou pelos ombros, me puxando pra cima. Me obriguei a ficar de pé, com as pernas tremendo ao pensar que eles iriam me entregar aos outros vampiros.

Mas o rapaz me empurrou de leve na direção de Jason, que deslizou os braços ao redor da minha cintura, fazendo meu coração parar de bater quando senti o quão quente o corpo dele estava, além da firmeza das suas mãos em mim.

—Vamos fazer o seguinte. —O rosto dele ficou colado na minha bochecha, enquanto eu mantinha meus olhos fechados, sentindo meu corpo inteiro queimar ao sentir a respiração dele na minha bochecha, quando ele sussurrou no meu ouvido. —Você vai correr em direção ao rio, enquanto nós dois cuidamos disso aqui. Se algo der errado, você pula na água. —Meu sangue esquentou, enquanto meu corpo se arrepiava. —Preciso saber que você entendeu, Faw.

Minha boca estava seca e meu coração prestes a explodir quando o ouvi me chamar daquele jeito, mas consegui balançar a cabeça que sim, incapaz de dizer qualquer coisa. Tinha certeza que gaguejaria se tentasse, porque minha cabeça ainda estava absorvendo a proximidade dele.

—Você não quer fazer isso, Arteryon. Você e esse seu amigo esquisito estão em menor número. Vamos acabar com vocês dois e depois pegarmos ela. —Um dos vampiros resmungou.

—Muito bem. —Ele afastou o rosto da minha bochecha, olhando na direção daqueles vampiros. —Então corra.

Eu corri, sentindo o vento cortar meu rosto quando o vampiro me soltou e disparou em direção aos outros. Fui em direção ao rio, desviando das árvores pelo caminho e usando toda força que conseguia para não cair na neve de novo.

Não ousei olhar pra trás de novo, mas podia ouvir o som da luta atrás de mim. Como ele iria vencer os três, com aquele rapaz que eu não fazia ideia do que era, mas certamente não era um vampiro, eu não sabia. Mas também não estava interessada em saber.

Não demorei a chegar no rio, parando sobre as pedras, observando a largura dele e a força da água, que era rápida demais e certamente me carregaria antes que eu conseguisse atravessar. Isso se a água fria demais não me matasse congelada.

Olhei para os lados, antes de começar a correr de novo, seguindo o percurso do rio. Minha respiração estava tão rápida que minha garganta doía a cada puxada de ar, enquanto minhas pernas tremiam e doam a cada passo apressado que eu dava. Eu estava lutando para permanecer de pé e não desabar.

Olhei para trás quando ouvi o som de algo se partindo, sentindo meu sangue gelar quando vi a vampira que estava vindo pra cima de mim. Não tive tempo de pensar antes de minhas pernas escorregarem e eu cair na água, sentindo o choque do meu corpo com a temperatura congelante quando a correnteza me puxou.



Continua...

Jogo de Sangue e Vingança / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora