Capítulo 12: Por que você me salvou?

2K 320 56
                                    

Ele entrou na cabana, fechando a porta atrás de si, antes de andar casualmente até o sofá e se sentar. Parecia algo tão natural pra ele, como se ele fosse um humano acostumado a agir daquela forma. Eu precisava lembrar a eu mesma que ele era um vampiro e poderia me matar se sentisse vontade.

—Ágape faz parte de uma raça que utiliza magia pra se transformar em animais. Ele, por exemplo, consegue se transformar em um gato. —Ele olhou para Ágape, que estava sentado na minha frente com uma expressão de tédio. —Eles existem aos montes pelos mundos, mas passam a vida se escondendo, porque são caçados pelo deus da magia. Esqueci alguma coisa? —Jason franziu a testa, enquanto Ágape revirava os olhos amarelos como se estivesse irritado. —Ah, sim, ele escondeu isso da minha família por séculos.

—Primeiro, a família é nossa e não só sua, projeto de demônio. —Ágape o corrigiu, bufando em indignação. —Segundo, eu cheguei primeiro que você naquele clã. Terceiro, eu não escondi nada. Eles pensam que eu sou um gato. —Ele ergueu a pata, em uma tentativa esquisita de apontar para si próprio. —O que eu sou nesse momento? Um gato. Então eu não escondi nada.

—Mentiroso. —Jason sibilou, fazendo o gato soltar um rosnado. —Você inventou uma história ridícula sobre uma bruxa ter lhe dado poções e isso ter permitido que você falasse. Nicolay acolheu você, acreditando que você é uma coisa que na verdade não é. Seu nome verdadeiro nem é Ágape.

—E daí? —Ele revirou os olhos. —Esse foi o nome que Nicolay e Kyara escolheram para mim, vampiro idiota!

Engoli em seco, olhando de um para outro, com o coração na boca. Não sabia se encarava o gato falante que parecia indignado com as acusações de Jason, ou o vampiro que estava atormentando meus sonhos. E agora, não eram sonhos tão simples com ele tocando piano.

—Acha que eu sou mentiroso? —O gato soltou uma gargalhada, se virando pra me encarar. —Ele e manipulador e chantagista. Tomaria cuidado se fosse você, com as coisas que saem da boca dele.

—Obrigada pelo elogio. —Jason não apareceu nem um pouco ofendido com aquilo, abrindo um sorriso que fez os pelos do meu corpo se arrepiarem ao ver o quão bonito ele ficava daquela forma, ao mesmo tempo que sombrio.

—Ridículo. —Ágape xingou, parecendo furioso, enquanto virava de bunda para Jason e se deitava onde antes eu havia dormido. —Vampiro idiota.

—Ignore-o, Fawley. —Jason falou, fazendo algo queimar dentro do meu peito ao ouvir meu nome sair dos lábios dele. O encarei, tentando respirar e pensar em algo concreto. —Ágape gosta de resmungar sobre absolutamente qualquer coisa.

—Você já o chantageou? —Consegui perguntar, um pouco hesitante sobre a resposta que ele iria me dar. Porque se a resposta fosse sim, significava que ele podia muito bem fazer aquilo comigo em algum momento.

—Não. —Falou, sem nem hesitar, o que vez o gato soltar um resmungo indignado. —Quando eu descobri o que ele era, ele me perguntou o que eu queria para não contar aos outros sobre sua verdadeira natureza. —Jason desviou os olhos do gato e me encarou, com os olhos carregados de algo sombrio e doce. —Eu pedi para que viesse comigo pra cá e que compartilhasse comigo tudo que sabia sobre os outros mundos. As dimensões.

—Isso se chama chantagem. —Ágape virou a cabeça peluda pra ele.

—Temos significados diferentes dessa palavra então. Porque se você tivesse me dito não, eu não contaria a eles sobre você. —Jason afirmou, sem desviar os olhos dos meus, o que fez meu sangue esquentar e correr com mais força pelo meu corpo. —E você sabe que eu estou falando a verdade. Sabia o que você era muito antes de pegar você na sua outra forma e nunca falei nada sobre isso pra ninguém.

Desviei os olhos de Jason, porque acho que me desmancharia a qualquer momento. Minha mente ficava puxando as cenas daquele sonho. A forma como ele me tocava e falava comigo, como se fôssemos algo mais. E a forma como ele me olhava agora, parecia saber exatamente o que se passava na minha cabeça.

—Qual o seu nome verdadeiro? —Indaguei, olhando para Ágape, tentando regular minha respiração rápida e meu coração acelerado.

—Não importa. É o nome de alguém que não existe mais. —Ágape retrucou, parecendo ofendido por eu sequer ter perguntado. —Meu nome é Ágape. Vampiro ou não, sou parte do Clã Arteryon. E eu odeio, mais do que qualquer outra coisa no mundo, me transformar.

—Eu nunca o obriguei a isso também. Você se transforma porque quer. —Jason ficou de pé e eu estremeci, ansiosa e ao mesmo tempo nervosa com o que podia acontecer ali. —Supere, Ágape. Você só está tão irritado assim, porque eu fui mais esperto que você e descobri o seu segredo.

Ágape ficou em silêncio, deitado feito uma bolinha naquela cama no chão. Fiquei encarando ele, porque sentia os olhos de Jason sobre mim e aquilo estava me matando por dentro, com meu corpo formigando em antecipação. Não sabia o que esperar. Não sabia como prosseguir com aquilo. Eles estavam agindo tão naturalmente na minha frente, que era assustador.

—Ela está fedendo a medo agora. —Ágape ficou de pé, caminhando na direção de Jason, antes de se esfregar nas pernas dele como um gato normal faria, como se os dois não tivessem discutindo segundos atrás. —Parabéns, vampiro idiota, a culpa é toda sua.

—Faw... —Jason deu um passo na minha direção e eu bati contra a parede atrás de mim, quando dei um passo para trás no automático.

—Por que eu estou aqui? —Indaguei, sentindo o medo voltar com tudo e me consumir na mesma hora. Porque me lembrei dos vampiros, daqueles humanos mortos e do que havia feito com Silas. —Que lugar é esse?

—Estamos em uma cabana no litoral das terras humanas, bem longe da muralha. Você ficou muito doente. Levei você pra uma bruxa e ela passou o dia de ontem todo cuidando de você. —Jason afirmou, indicando as roupas no meu corpo. —Matei três vampiros tentando protegê-la, além daqueles humanos que eles haviam matado antes de eu chegar. Isso alertou o clã deles. Precisei trazê-la pra cá, longe da muralha, porque ficar lá era perigoso demais.

—Pra quem? —Indaguei, observando a expressão cautelosa no rosto de Jason. Aquele rosto belo e sobrenatural que havia me perseguido por dias.

—Pra todos nós. —Afirmou, umedecendo os lábios com a língua, o que causou um efeito estranho no meu corpo. Uma faísca de algo muito maior. —Eu não vou machucar você. Se quisesse fazer isso, teria feito dias atrás.

—Por quê? —Minha boca ficou seca e eu senti que iria desabar naquele instante. —Por que estava me seguindo? Por que ficou me observando por dias? Por que você me salvou?



Continua...

Jogo de Sangue e Vingança / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora