Capítulo 51: Fadado ao caos.

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Merida passou o braço ao redor da minha cintura enquanto descíamos as escadas da muralha, chegando ao lado norte. Meu coração disparou quando encontrei todas aquelas árvores verdes, sem nenhum trecho coberto de neve. Parecia um mundo completamente diferente. O calor varreu meu corpo quando senti a luz do sol assim que passamos pela entrada da muralha. Meus olhos engolindo cada centímetro daquela floresta verde.

—Como os ataques ainda continuam e não conseguimos descobrir quem está os causando, não é recomendado que os vampiros andem por essas terras sozinhos. Por isso sempre andamos em grupos. —Merida abriu um sorriso leve, indicando com a cabeça uma área da floresta mais à frente. Quando olhei pra lá, encontrei um grupo de 6 vampiros de cabelos tão brancos quanto os de Chase. —Alguns deles vão ficar aqui, para retornarem com Jason quando ele não estiver mais ocupado.

Ela me lançou um olhar demorado, como se estivesse morrendo de curiosidade para saber o que havia acontecido. Aquilo me fez soltar uma risada baixa, procurando pelo laço na minha mente. Jason ainda lançava ondas de possessividade por ele, que faziam meu corpo estremecer dos pés a cabeça. Não vou mentir, porque estou realmente ansiosa pra saber o que vai acontecer quando ele finalmente conseguir se soltar.

Merida me puxou em direção da floresta quando Chase saiu da muralha. Os vampiros se dividiram para vir um pouco com a gente e outros para esperar Jason. Chase ficou para trás de nós, conversando com um deles, enquanto eu lembrava do que havia visto na muralha. A tensão quase palpável entre ele e Lorde LaRue. Merida apertou os braços ao redor, me fazendo girar a cabeça para olhá-la.

—Eu sei o que está pensando. —O sorriso dela era doce e gentil, apesar de não chegar até os olhos. —Eles não tem nada, nem nunca tiveram.

—Jura? —Minha voz soou mais surpresa do que eu esperava, porque pela forma como se olhavam, era como se fossem importantes um para o outro. —Mas eles são?

—Parceiros? —Merida completou por mim, balançando a cabeça negativamente. —Não sabemos. Não temos como saber disso, já que eles nunca se relacionaram. Se forem, o laço está muito silencioso. —Ela tirou a mão da minha cintura, passando o braço ao redor do meu. —Mas os dois estão assim a algum tempo. Trocando olhares que fazem faíscas correrem pelo ar, sem nunca fazerem nada ao respeito, mesmo que ambos visivelmente queiram a mesma coisa. Mas Chase jamais tomaria à frente, já que Lorde LaRue é literalmente líder de um clã. Assim como Lorde LaRue não dá o primeiro passo, porque Chase ainda é um vampiro jovem, além de ser o herdeiro de outro clã.

—Nicolay e Lou sabem sobre eles? —O sorriso de Merida era quase preguiçoso quando olhou pra mim ao ouvir minha pergunta.

—Nunca falamos sobre, mas ambos são inteligentes e provavelmente notaram o interesse do filho. —Merida afirmou, enquanto eu me dava conta de que estava prestes a conhecer os outros. —Acho que todos concordariam que Nicolay jamais ia querer o filho com outro lorde vampiro, sendo aliado ou não. Apesar de eu ter certeza que ele também jamais impediria se esse fosse o desejo de Chase.

Abri um sorriso ao ouvir isso, pensando em como Chase e Lorde LaRue eram tão diferentes, ao mesmo tempo que pareciam exercer uma influência um ao outro, que os faziam combinar de um jeito único. Eu podia imaginar o lorde vampiro de cabelos de fogo, se apaixonando por um jovem vampiro de cabelos de gelo, escondendo seus sentimentos até que não pudesse mais suportar ficar longe dele. A luz do sol se apaixonando pela neve e mesmo que houvessem motivos pra não dar certo, ainda sim eram fortes o suficiente para tentar um pelo outro.

—E quanto a Corey? —Indaguei, soltando um suspiro quando o sorriso de Merida diminuiu e ela me encarou confusa, franzindo a testa. —Vocês dois...

—Ele é meu primo, Fawley. —Merida soltou uma gargalhada, como se a ideia não fizesse o menor sentido pra ela. Mas eu ainda podia ver o brilho nos olhos dela ao ouvir o nome dele e imaginar o contrário. —E ele é humano, caso tenha esquecido desse pequeno detalhe. Somos absolutamente incompatíveis.

—Você não está errada. Ele é seu primo, não seu irmão. —Sussurrei, sentindo o braço dela que estava enganchado no meu ficar um pouco rígido, quando o sorriso dela se desfez por completo e ela respirou fundo, olhando para qualquer lugar menos pra mim.

—Não tenho qualquer desejo de me tornar humana, assim como Corey não tem qualquer desejo de se tornar vampiro. —A voz dela soou firme, apenas dos lábios tremerem ao dizerem aquelas palavras. Ela riu depois de um segundo, soando mais amarga do que feliz. —Sabia que Ágape acha que nossa família é amaldiçoada? Ele acredita que depois das ações de Nicolay, de alguma forma o grande deus que ele ousou enganar amaldiçoou toda nossa família.

—Como assim? —Fiz uma careta, tentando entender o porquê daquilo.

—Lou era humana quando Nicolay descobriu que ela era sua parceira, então ele se amaldiçoou para que a maldição a trouxesse pra ele. Você já deve ter ouvido essa história pela boca de Jason. —Merida prosseguiu, me olhando com cautela. —Ágape diz que existem quatro grandes deuses pelos mundos. Cada um deles dotado com um poder especial. O laço de parceria está ligado ao destino, o deus que  escreve todas as histórias. Quando ele está entediado, ele mudar o rumo das coisas para ver o que vai acontecer. —Ela deve ter percebido a minha confusão, porque voltou a sorrir. —O que eu quero dizer é que Ágape acredita que sempre foi o destino de Lou nascer como vampira, mas que por uma brincadeira do próprio destino, ela nasceu como humana. Mas Nicolay enganou o destino para ficar com Lou, então como vingança, o destino amaldiçoou nossa família.

—Amaldiçoou de que forma? —Indaguei, vendo-a comprimir os lábios, com algo cintilando nos olhos calmos naquele momento.

—Não importa quantas décadas se passem e quanto sangue seja passado de geração em geração. Um vampiro da nossa família sempre se apaixonara por um humano e esse romance sempre estará fadado ao caos. —Os olhos de Merida pareciam longe dali naquele momento. Imaginei na mesma hora que poderia estar pensando em Corey. —Meus pais se apaixonaram quando eram humanos, mas minha mãe foi transformada em vampira depois disso. Quando ela voltou a ser humana e os dois ficaram juntos, Will nasceu sobre o peso de uma maldição e o reino quase caiu em desgraça por isso.

—Eu era humana e Jason... —Merida riu, me fazendo ficar quieta, mesmo que meus pensamentos estivessem confusos demais naquele momento.

—Vocês dois possuem um laço de parceria. Pode ser apenas coincidência e você ser como Lou, destinada a ter nascido como vampira. —Ela deu de ombros, umedecendo os lábios com a língua. —Ou Ágape está certo.

—Você acha que Ágape está certo? —Questionei, assim que ela soltou meu braço e começou a andar mais rápido, indo um pouco mais na minha frente. Sua resposta demorou pra vir, o que me fez pensar em Corey no castelo e no que eu vi no seu rosto quando perguntei sobre Merida.

—Acho que preciso ficar longe de Corey, porque não estou interessada em tirar a prova se Ágape está mesmo certo ou não.


Continua...

Jogo de Sangue e Vingança / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora