Capítulo 45: Veneno.

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Eu gostaria que eles tivessem batido em mim de novo, para que eu apagasse de novo. Tudo em mim queimava quando Arden afastou os lábios sujos de sangue da minha garganta, me encarando com os olhos vermelhos e uma expressão de puro prazer. Elara gritou algo para os vampiros, mas eu não prestei atenção, porque logo já estava sendo arrastada de volta para aquela cela.

Minhas veias pareciam estar em chamas, enquanto meu sangue e meus ossos pareciam brasa. Eu mal conseguia respirar direito, porque todos os meus músculos ardiam como o inferno, me fazendo gritar sempre que uma pontada atravessava minha coluna, me deixando ofegante e com o rosto repleto de lágrimas. Era demais pra mim. Intenso demais.

—Fawley? —Ouvi o grito de Corey, antes de escutar o barulho da cela sendo aberta, antes de eu ser jogada pra dentro dela sem qualquer cuidado. Meu rosto bateu com força contra o chão imundo, mas nem assim eu apaguei, desperta demais para sentir o veneno consumindo cada pedaço do meu corpo. —Fawley? O que fizeram com ela? O que está acontecendo?

Ele não estava na mesma cela que eu. O pequeno corredor separava a cela onde ele estava preso da minha, provavelmente para evitar que ele tentasse me ajudar e estragasse os planos de Elara e Arden. Me deitei de barriga pra cima, com as lágrimas queimando nos meus olhos quando gritei de novo, sendo atingida por uma pontada profunda e dolorida bem no meu coração.

—Faw? Faw, fale comigo. O  que eles fizeram com você? —Exclamou, enquanto eu apertava meus olhos fechados, sentindo o gosto do veneno na minha língua, queimando cada palavra que eu pudesse dizer. Gritei de novo, choramingando quando senti meu coração se comprimindo e comprimindo cada vez mais, causando um incêndio no meu peito. —Ah, merda, merda, merda...

—Doí, Corey. —Sussurrei, com minha voz não passando de um suspiro rouco quando levei a mão até minha garganta, sentindo o local sensível aonde Arden havia me mordido, queimando tanto quanto o restante do meu corpo. Apertei meus olhos com força, soluçando quando fui atingida por outra pontada, que atravessou meu corpo inteiro, levando todo o ar de dentro de mim.

A sensação de estar sendo queimada viva era horrível, além de eu poder ouvir o som do meu coração batendo muito rápido, como se estivesse se esforçando ao máximo para me manter viva. Podia sentir o veneno agindo também. Percorrendo cada gota do meu sangue e a devorando, levando toda a humanidade de dentro de mim. Mordi o lábio para não gritar, desesperada para que aquilo acabasse logo.

Mas quando fui atingida por outra onda de dor, que parecia estar me partindo ao meio, gritei tão alto que as paredes estremeceram ao meu redor. A voz de Corey estava em toda a parte, chamando meu nome e implorando para que eu permanecesse acordada. Mas quanto mais aquela coisa tomava conta de mim, mais difícil de respirar era e permanecer acordada era a última coisa que eu queria. Tinha que acabar. Tinha que acabar rápido, porque eu não iria suportar mais.

Girei a cabeça pro lado, vendo Corey agarrado as grades da sua cela, movendo a boca para falar comigo. Mas minha mente já estava longe demais para ouvi-lo, apesar de eu poder ver toda dor e o desespero na expressão dele, como se ele pudesse abrir aquela cela e correr pra me ajudar. Seu rosto desapareceu quando outro grito escapou pelos meus lábios, ardendo na minha garganta quando a escuridão finalmente me levou embora.

[...]

Nunca tinha pensado em como a transformação aconteceria comigo, porque estava mais ocupada pensando na reunião entre os lordes vampiros, que eles iriam falar sobre meu laço de parceria com Jason. Sabia como a transformação acontecia e que eu precisava beber sangue logo, ou o veneno correndo no meu corpo, que me transformou em vampira, também me mataria. Não tinha certeza de quanto tempo eu iria ter normalmente, mas sabia que antes, se tivesse sido transformada por Jason, ele estaria do meu lado a cada segundo, me dando sangue assim que fosse necessário. O seu sangue.

Mas ele não estava ali e também havia me escondido algo super importante. Tenho certeza de que ele não tinha a intenção de se unir a Arden, porque nunca me disse sobre ter interesse em machos também, e que tudo foi apenas uma jogada para livrar Ágape de uma punição. Mas ainda sim, o fato de não ter me contado me deixa com raiva.

Quando abri meus olhos, fitando o teto rochoso da caverna, meu corpo se encontrava na mais pura calmaria. Nada mais doía ou queimava. Eu estava imóvel no chão, sentindo minha boca incrivelmente seca, desesperada por uma gota de sangue. Os cheiros ao meu redor eram mais fortes do que antes, assim como minha visão parecia se ajustar a cada coisa que eu olhava no teto.

Erguia mão lentamente, observando meus dedos mais macios que antes, com minha pele tão lisa quanto porcelana. Na mesma hora levei minha mão até minha garganta, sentindo o colar preso ali, antes de tocar o local que Arden havia me mordido, sentindo a pele perfeita e intocável, como se eu nunca tivesse sido tocada ali. Tudo poderia passar de um sonho e eu acreditaria nisso, se não estivesse ouvindo o som do coração de Corey batendo, o sangue correndo pelas suas veias e sua respiração.

—Faw? —Ele parecia hesitante ao chamar meu nome, como se não soubesse o que esperar de mim.

Finalmente me movi, me sentando no chão, com meus cabelos caindo como uma cachoeira loira ao redor do meu rosto. Estavam sujos, mas pareciam mais macios e menos volumosos do que normalmente eram. Meus olhos se encheram de lágrimas, grossas e quentes, me fazendo perceber que vampiros podiam chorar também, assim como eu podia sentir meu coração doendo quando entendi o que havia acontecido e o que eu tinha me tornado e que Jason não estava em lugar nenhum.

—Faw, você está bem? —Corey indagou. Eu não estava olhando pra ele, mas sabia que ele havia se movido para mais perto das grades. Para mais perto de mim.

Seu cheiro tomou conta de cada canto da minha cela, fazendo meu sangue ferver e minha boca se encher de água. Balancei a cabeça negativamente, apertando meus olhos quando minha mente nublou de desejo e eu me obriguei a arrancar aquele colar do meu pescoço, o lançando por entre as grades até Corey.

—Coloque isso. —Supliquei, com a voz tão baixa, que nem a reconheci direito.

Finalmente olhei pra ele, vendo sua expressão preocupada se transformar em algo hesitante quando encarou meu rosto e viu o que tinha acontecido comigo. Ele se abaixou lentamente, enquanto eu me forçava a ficar imóvel, vendo-o pegar aquele colar e colocar no pescoço, me fazendo respirar aliviada quando toda aquela sensação poderosa que tomava conta de mim desapareceu.



Continua...

Jogo de Sangue e Vingança / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora