ANA
Estou sonhando. Estou correndo por uma floresta densa à noite. O luar flui através dos galhos de árvores altas, manchando o chão da floresta fantasmagórica entre as manchas de vegetação escura. Raízes maciças torcem através em pilhas de folhas caídas que eu chuto enquanto corro, meus cabelos voando atrás de mim, meu coração batendo forte no peito.
Uivos vêm de todos os lados em ecos assustadores através do ar frio da noite.
Tudo está silencioso, exceto pelos uivos, o som da minha respiração ofegante, o baque dos meus pés batendo contra a terra e o triturar seco das folhas mortas. Estou nua, mas sem pudor, meu corpo mais confortável do que se restringido pelas roupas, minha mente tão livre quanto o vento.
Estou tentando alcançar o grande animal escuro, galopando por entre as árvores bem à minha frente. Ele vira a cabeça, olhando para trás com olhos que piscam rapidamente através das sombras. Ele mostra os dentes brancos e afiados em um sorriso lupino, depois abaixa o focinho grande em direção ao chão e se lança para a frente, correndo para longe, deixando-me gritando de frustração enquanto desaparece na escuridão.
Eu acordo com um suspiro e me sento na cama, estremecendo com a dor que atravessa meu corpo pelo movimento.
— Pesadelos?
Christian senta-se calmamente na cadeira ao lado da minha cama com um livro nas mãos, uma perna cruzada sobre a outra, tão bonito que ele não pode ser real.
Eu engulo, querendo que meu coração pare de ser uma britadeira. — Não. Na verdade, eu estava sonhando com você.
Ele olha para mim. Muito suavemente, ele diz: — Um pesadelo, então.
É noite agora: para além da janela, o mundo está escuro. As luzes do quarto também foram diminuídas e o barulho do hospital durante o dia se transformou em silêncio. Ou Christian saiu enquanto eu estava dormindo, ou alguém lhe trouxe roupas novas, porque o ponto vermelho revelador no colarinho da camisa se foi.
— Você sempre usa terno e gravata?
Os lábios dele se arqueiam. Eu acho que ele gosta das minhas mudanças aleatórias na conversa. Não que ele fosse admitir isso.
— Só estou perguntando porque seu combate ao crime provavelmente seria muito mais confortável se você investisse em algo mais maleável.
Ele fecha o livro e me lança um olhar severo. — Pareço o tipo de homem que usa moletom?
A resposta é tão óbvia que eu nem me importo com isso.
— Mas e a gravata? Isso não é chato?
— Não.
— E em casa? Você não pode dormir com esse traje. O que você veste para dormir?
Segurando meu olhar, ele diz: — Nada.
Puta merda. Dentro do meu corpo, os músculos que eu nem percebi que tenho se apertam.
Ele coloca o livro na mesa de cabeceira e cruza as mãos no colo, resignado com o fato de que eu vou começar a reclamar sobre seu guarda-roupa. Mas eu não quero ser previsível, então mudo de assunto.
— O que você estava lendo?
— Proust.
Eu penso por um minuto. — Eu sei que é um autor, mas só isso.
Ele silenciosamente me entrega o livro. A capa está gasta. No interior, as páginas estão amareladas e muitas delas têm orelhas. Eu o levanto até o nariz e fungo, folheando as páginas para obter aquele cheiro bom de livro. Então eu o viro para a frente e olho para a página de título.
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Lobo Cruel
RomanceAlfa (substantivo) 1) A mais alta classificação em uma hierarquia de domínio. 2) O homem mais poderoso de um grupo. 3) Christian Grey. Ele era um estranho para mim, uma presença sombria e perigosa que se materializou das sombras em uma noite chuvosa...