Capítulo 27

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ANA

Christian não demora muito, mas quando volta para a cozinha onde eu estava esperando, percebo instantaneamente que algo está errado.

Ele está tenso. Seus olhos estão selvagens. Sua respiração superficial. Suas mãos apertam e abrem, do jeito que fazem quando ele está especialmente agitado. Não consigo decidir se ele está furioso, ansioso ou outra coisa, mas seja o que for, isso me assusta.

— Você está bem?

Ele se dirige diretamente para mim, agarra-me do balcão e dá um abraço de urso esmagador, exalando irregularmente no meu cabelo.

Minhas palavras são abafadas contra o seu peito. — Christian? Hum. É difícil respirar.

Agarrando meus braços, ele se afasta e olha para mim. Seu olhar está incrivelmente intenso. Sua mandíbula se mexe, mas ele não diz nada.

— Foi o telefonema? — Eu digo, observando-o com cautela. — Está tudo bem?

— Não. Quero dizer, sim. Estará. Tenho esperança.

Esperança? Ele não usa palavras como — esperança. — Eu nunca o vi tão distraído e nervoso. Ele está totalmente estranho. Parece que alguém acabou de lhe dizer que ganhou a maior loteria da história, mas para conseguir o dinheiro, ele tem que serrar suas próprias pernas com uma faca enferrujada.

— Você quer falar sobre isso?

— Não.

Eu digo secamente: — Nossa, que surpresa.

Ele me arrasta de volta para um abraço forte e coloca a mão no meu cabelo. No meu ouvido, ele diz asperamente: — Eu tenho que sair por algumas horas. Quero você pronta para mim quando voltar. Nua, na cama, molhada e pronta. Sem argumentos.

Meu Deus, este homem é irritante!

Estou prestes a protestar, mas ele me interrompe com um beijo. É duro e exigente, afiado com desespero e o melhor beijo que ele já me deu. Em vez de gritar sobre machões mandões sem boas maneiras, eu me entrego. Ele me libera tão abruptamente que cambaleio para um lado e me inclino contra a ilha, ofegando. Ele sai da cozinha até o elevador sem olhar para trás, desaparecendo pelas portas no instante em que elas se abrem. Então ele se foi, deixando-me olhando para ele com descrença.

Não faço ideia do que aconteceu.

Conhecendo Christian, eu nunca vou saber.

******************

Passo a manhã estudando na biblioteca. Já faz pouco mais de um mês que eu me preparo para a OAB, e embora eu tenha sido diligente em relação aos livros, ainda há muito mais para cobrir.

Christian não volta para o almoço, então pego um recipiente de escaloppini de frango preparado da geladeira, aqueço no micro-ondas e como sozinha, de pé em frente a pia. Depois volto para a biblioteca e estudo por mais algumas horas, perdendo-me no trabalho.

Fico surpresa quando olho para o relógio mais tarde e descubro que já passa das seis.

Acho que Christian e eu temos ideias diferentes do que — algumas horas— significa, porque ele passou o dia todo fora.

Considerando que só temos mais três dias, isso dói.

Janto, tentando não sentir pena de mim mesma. Eu estudo mais um pouco. Quando não consigo mais me concentrar porque os pensamentos sobre onde Christian poderia estar me distraindo, desisto e vou para a sala, enrolando-me no sofá enorme com um cobertor para esperar. Devo ter adormecido, porque acordo algum tempo depois com a sensação de que o tempo passou. O sol afundou além do horizonte. O crepúsculo pinta a sala em tons mais profundos de roxo e azul. Sento-me, desorientada, perguntando-me por que as luzes automáticas não acenderam com o meu movimento e farejo o ar.

Lobo CruelOnde histórias criam vida. Descubra agora