Capítulo 3

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ANA

Quando chego em casa, já passa de uma da manhã, está chovendo mais forte do que antes e estou presa em um estado de torpor tão grande sobre o que pode acontecer quando o lobo entrar no restaurante no meu próximo turno, que eu preciso me servir uma taça de vinho para me acalmar.

Encostada no balcão da cozinha e olhando para a chuva, eu o imagino.

Ele é tudo que eu não sou. Sofisticado. Interessante.

Seguro de si.

Mais velho. Dez anos, pelo menos, talvez quinze.

Suponho que me pareça estranho que alguém como ele possa se interessar por alguém como eu, mas sinto que ele é o tipo de homem que percebe coisas que outras pessoas não percebem.

Ele não apenas olha. Ele .

Talvez o que ele veja quando olha para mim sejam as coisas que eu tento tanto esconder de todos os outros. Toda a minha inquietação e desejos sombrios, tudo o que me incomoda.

Ou talvez seja apenas uma ilusão.

Estou terminando meu último gole de chardonnay barato quando ouço o som abafado do choro.

— Oh, querida, — eu digo para a cozinha vazia, suspirando. — O que ele fez desta vez?

Deixando o copo de vinho no balcão, ando descalça pelo apartamento e bato suavemente na porta da minha colega de quarto. — Ei, Elliebellie. Você precisa de alguma coisa?

Há um pouco de fungada, então o som de Ellie se aproximando da porta.

Abrindo, ela esfrega o punho em um olho vermelho e inchado. Seus cabelos pretos curtos estão loucamente espalhados por todo o lugar. Seu quarto cheira a meias sujas e sonhos perdidos. — Eu estou bem, — diz ela, soluçando. — Eu estava apenas assistindo as quatro vidas de um cachorro. Aquele maldito filme deveria ter um aviso de gatilho.

— Eu nunca assisti. É sobre o quê?

— É sobre um cachorro que fica morrendo e reencarnando com todas as memórias de suas vidas passadas e tenta repetidamente encontrar o propósito da vida, até que finalmente se encontra com seu primeiro dono, que era um garotinho quando o cão foi sacrificado em sua primeira encarnação, mas agora o menino é um homem velho e, no final, o cão narra que o verdadeiro significado da vida é encontrar aquela pessoa com quem você deveria estar.

— Isso é terrível... — Ela lamenta. — Até um cão fictício pode encontrar o amor verdadeiro!

Ellie recentemente passou por um rompimento ruim com seu ex. Foi o quarto — ou décimo deles, não consigo acompanhar. Toda vez que eles terminam, ela jura que é definitivo. Mas em algumas semanas eles estão juntos novamente e ela convenientemente se esquece de todas as maneiras que ele a machucou antes. Toda a indiferença, todas as mentiras, todas as outras garotas com quem ele andava por aí.

Eu nunca vou entender isso.

Quando meu ex me traiu seis meses depois que nos mudamos para Boston juntos, joguei todas as roupas dele em uma grande pilha no meio da calçada e taquei fogo.

Eu posso ser uma introvertida, mas tenho um temperamento irritadiço e guardo rancor como ninguém.

Mas, como amiga de Ellie, não é meu trabalho julgar. — Você quer um sorvete? Peguei um copo no caminho de casa.

— Você é um amor, — diz ela com tristeza. — Mas acho que vou assistir a uma reprise de Seinfeld e bater uma.

Eu faço uma careta. — Obrigada por compartilhar os detalhes. Estou traumatizada pelo resto da vida.

Lobo CruelOnde histórias criam vida. Descubra agora