Capítulo 23

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ANA

Eu não entendo como um chefe do crime que aterroriza homens adultos pela mera menção de seu nome também pode ser tão aconchegante.

Estamos deitados, de conchinha, sua posição favorita. Seu grande corpo se curva ao redor do meu como se fôssemos moldados dessa maneira em um laboratório. Ele não se incomodou em tentar me despir, simplesmente me deitou na cama e puxou as cobertas para cima de nós, depois me virou de lado e se enterrou contra mim.

Seu hálito quente faz cócegas nos cabelos finos na parte de trás do meu pescoço.

Com uma voz sonolenta, ele diz: — Você está confortável?

— Fisicamente, muito.

Sabendo o que deixei subtendido, ele murmura: — A coisa mais difícil do mundo é estar em desacordo consigo mesmo.

— Você soa como quem tem experiência pessoal nessa área.

— Eu tenho. Eu também tenho uma recomendação.

— Qual é?

— Deixa ser. Aceite que você tem partes em guerra em seu íntimo. Se você vive de acordo com seus valores fundamentais, toda a segunda hipótese é apenas um ruído que você pode dar a si própria permissão para ignorar.

Meu lobo filosófico. Penso em suas palavras por um tempo, olhando para o escuro.

Ele pergunta: — Vamos ouvi-las. Eu sei que você tem uma lista.

Isso não deveria me surpreender, mas pergunto assim mesmo. — Como você sabe?

— Porque eu também fui um idealista.

Sua voz está pesada com algo que poderia se arrependimento. Ou talvez seja apenas cansaço.

— Ok. Em nenhuma ordem especial, meus cinco principais valores são não-conformidade, autoconfiança, bondade, honestidade e coragem.

— Top cinco de quantos ao total?

Não consigo ver o seu sorriso, mas posso senti-lo. — Diga-me o resto.

— Curiosidade. Liberdade. Persistência. Aprendizado. Humor. Gratidão. Solidão.

Depois de um tempo, ele diz baixinho: — É uma boa lista.

— Obrigada.

— Estou curioso, no entanto. Solidão? A maioria das pessoas não gosta de ficar sozinha.

— Estar sozinho e se sentir sozinho são duas coisas totalmente diferentes. Todas as vezes que eu estive mais solitária foram quando estive no meio de uma multidão.

Seu silêncio é pensativo, então ele me aperta mais forte contra ele, suspirando contra o meu cabelo. Eu o sinto lutando consigo mesmo, mas não sei por quê.

Eu sussurro: — Como você conseguiu ser o que é, Christian?

— O que eu sou?

— Um homem de pé no topo de uma montanha de ossos.

Ele exala devagar, virando a testa na parte de trás do meu pescoço. Está quente, como se estivesse com febre. Com a voz grossa, ele diz: — Era subir ao topo ou ser um dos esqueletos.

— Você está feliz?

Sua risada é cortante. — Você está brincando?

— Não.

— Felicidade é uma ilusão.

— Sinto muito por você pensar isso. A maioria das pessoas acha que a felicidade é basicamente o ponto principal da vida.

Lobo CruelOnde histórias criam vida. Descubra agora