Descuido

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Começamos a organizar nossos instrumentos. Kauã carregou a guitarra para dentro do bar. As pessoas estavam muito eufóricas e eu muito ansioso. Era minha primeira vez fazendo um show, mesmo que seja um pequeno, para mim, era muito significativo.
Nós quatro fizemos um pequeno círculo em cima do pequeno palco. E Kauã falou.
- Hoje é a nossa noite. Vamos arrebentar.- Unimos nossas mãos e gritamos.-
As pessoas gostaram muito do nosso som. Tocamos as dez músicas que ensaiamos. Cantei metade e Kauã a outra.
No final, poucas pessoas estavam presentes no bar. Olhei as horas e já passavam das uma da manhã. Esse meu adiamento só complicaria minha situação.
A dona gostou tanto do nosso show que pagou 800 reais para nós e ainda nos chamou para tocarmos lá no fim de semana. Claro que aceitamos.
- Agora só falta mil para conseguirmos aquele piano de segunda. Temos que consegui antes do festival. - Isa falou para nós.-

- Se ela gostar do nosso próximo show e pagar o mesmo que hoje, o piano não será mais um problema.- Kauã afirmou.-

- Temos que comemorar.- Lí disse dando pulinhos.-

- Hoje não. Temos aula amanhã.- Isa falou fazendo Lí ficar triste.-

- Sério gente? Queria tanto beber.

- Melhor não.- Falei por fim.- Tenho muitas coisas para resolver e preciso está sóbrio.
Lí ficou triste, mas concordou. Deixamos elas nas suas casas e no caminho...
- Posso dormir na sua casa Kauã?- Perguntei.-

- Sim. Mas não acha melhor conversar com sua mãe?

- Hoje não. Ela já deve está me odiando agora, prefiro enfrentar tudo depois da aula.

- Como quiser.- Ficamos em silêncio, mas Kauã começou.- No momento estamos priorizando a compra do piano, mas assim que tudo estiver pronto, e se fizermos mais shows, vamos dividir o dinheiro.

- Ainda não estou precisando de dinheiro. Não se preocupe.

- Só achei que devia saber.- Concordei. Peguei meu celular e mais ligações da minha mãe. Vi uma mensagem de Daví.-
"Está bem?"
Apaguei a mensagem e suspirei fundo, não queria me confundir mais ainda. Kauã desceu e eu o segui. Seu pai dormia na sala e subimos.
- Está com fome?- Kauã perguntou destrancando a porta.-

- Um pouco. Mas da para esperar até amanhã.

- Nada disso. Vamos até a cozinha.- Na cozinha. Kauã fez sopa para nós. Enquanto esperávamos ficar pronta, comemos salgadinhos.-
Levamos a sopa para o quarto e ligamos a televisão.
- Quer assistir algum filme?

- Hoje não, já assisti de mais.

- Tudo bem.- Comerciais passavam na medida que nós tomávamos a sopa.-
Terminamos e Kauã ajeitou o colchão para mim. Deitei e ele se deitou na cama. O quarto estava sendo iluminado só pela luz da tv.
Tudo ficou em silêncio, acho que Kauã tinha dormido, me ajeitei nas cobertas.
- Já vai dormir?- Kauã falou.-

- Pensei que estivesse dormindo.

- Estava pensando.

- Em quê... Quer dizer, eu posso saber?

- Na vida. Em tudo que anda acontecendo. Pensando que foi muito bom conhecer você.

- Também foi muito bom conhecer vocês. Passei muitos anos sem falar com ninguém.- Sentei no colchão.- Confesso que quando conheci vocês, fiquei receoso, achei que não pudessem ser meus amigos. As pessoas sempre se aproximavam de mim para maltratarem.

- E o que acha agora?

- Posso chamar vocês de amigos. Amigos de verdade.

- Também consideramos você nosso amigo.- Ele sentou em sua cama e ficamos em silêncio.- Posso perguntar uma coisa?

Odeio ser assim (Conto gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora