Volta à escola...

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   Acordei seis horas na quarta-feira, o dia mais esperado da semana e também o mais temido. Na escola, teria que enfrentar Mel e Bruno. Daví e eu entramos no banheiro juntos. Já conseguia mexer meu braço direito e por isso, ele não precisou escovar meus dentes. Entrei embaixo do chuveiro e tomei banho devagar.
   No quarto, nenhum de nós falava nada. Peguei as minhas melhores roupas. Assim que acabei, uma chuva forte começou trazendo um frio intenso consigo. Minhas feridas já estavam completamente cicatrizadas. Peguei meu casaco por precaução.
   Daví também se preparou para ir a sua escola, pela primeira vez o via fardado. Fiquei feliz por minha escola não exigir toda aquela formalidade. O fitei por um tempo, ele riu, provavelmente sabendo o que achava daquilo tudo.
   Descemos as escadas, Dany e Rodrigo nos olharam. Dany já estava arrumada para ir ao escritório, pegou sua mala e saiu sem dizer nada. Rodrigo entrou na cozinha e nos o seguimos. Tomamos café da manhã no mais terrível silêncio.
   A chuva não cessava, acho que Dany se molhou um pouco até chegar no seu carro. Não conseguia encarar Rodrigo por conta da cena que presenciei. Jamais imaginei que algum dia da minha vida fosse ver meu pai - mesmo que eu negue, ele é meu pai, e eu teria que vê - lo como tal, já que moraríamos juntos - fazendo aquilo. Ele também não fez mençam em me olhar.
   Terminamos o café faltando quinze minutos para as oito. Daví saiu de casa pela porta da frente. Rodrigo o acompanhou e fechou a porta. Subi, peguei minha mochila e entramos na garagem. Ainda não tinha analisado seu carro, e nem sabia se era dele, era muito provável que não, já que ele morava em outro país.
   Saímos da garagem e a chuva continuava forte e não mostrava querer dá trégua. Permanecemos em silêncio. Queria perguntar muitas coisas a ele. Coisas que eu já não lembrava mais. Tinha sensações estranhas perto dele. Era como se eu soubesse de alguma coisa, mas não me recordasse. Meu orgulho falava bem mais alto e eu jamais daria meu braço a torcer fazendo qualquer pergunta. Nas minhas concepções, seria dar uma deixa para que ele acreditasse que o queria como um verdadeiro pai. Talvez ele pudesse pensar que eu estava disposto a perdoar tudo, mesmo que eu não soubesse o que de fato eu precisava perdoar. Eu só tinha certeza que não queria parecer muito vulnerável perto dele.
   Ele dirigia devagar, acho que ele estava mais traumatizado do que eu pelo meu acidente. No caminho ele me relembrou que eu tiraria um de meus gessos. Seria um alívio poder ter meu braço liberto mais uma vez.
   Não sentia mais dor. Os remédios ajudaram bastante, confesso que fiquei surpreso pela minha melhora. Depois de me informar, ele ficou em silêncio.
   Paramos no estacionamento, para minha sorte, ele era coberto, assim como toda a escola. Arrumei meu casaco e desci do carro. Ele me desejou um bom dia e avisou o horário que voltaria.
   Andei devagar e me arrepiei. Bruno desceu do carro de Igo. Olhei para trás e Rodrigo já estava saindo do estacionamento. Voltei a encarar Bruno, e Igo desceu do carro no mesmo instante. Minha respiração ficou trêmula e meus passos foram mais cambaleantes que o normal. Os gessos estavam coberto. Ajeitei minha mochila e passei por eles. Bruno me fulminava pelo olhar e Igo me chamou.
   O que ele poderia querer falar comigo? Acabei com sua família. Acabei com eles só que sofri mais. Minha cabeça procurou por algum assunto em comum, entretanto, nenhum apareceu. Suspirei e voltei a andar. Porém, mais uma vez ele me chamou. Virie lentamente e fiquei sério. Bruno não estava mais com ele. - Fala comigo?- Perguntei eu, não mostrando interesse em nada que ele pudesse me dizer.-

- Você havia me perdoado.- Ele falou em um tom baixo.-

- Como você esperaria que eu te tratasse depois de me ameaçar? Com flores e declarações?- Disse ironizando.-

- Desculpa...- Me virei, mas ele segurou meu ombro. Seu toque não despertava mais reação alguma em mim. O carinho, a admiração e até o respeito que sentia por ele, se foram. Acho que até para consegui ser amigo dele, seria um problema... Teria uma certa dificuldade. Ele não acreditou em mim.- Por favor me escuta.- Ele implorou.-

Odeio ser assim (Conto gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora