1 - Um mês infernal

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Tinha sido um mês bastante complicado para Paula Costa. O seu namorado tinha acabado com ela, o pai tinha morrido, ela estava com muitas insónias, devido aos pesadelos incessantes, a sua casa tinha ardido e tinha sido despedida da Polícia. O único trabalho que conseguira arranjar, pela altura, era numa loja de sapatos, onde ainda trabalhava como se tudo fosse um part-time (apesar de não o ser). E este não se revelava muito interessante por várias razões...

Primeiro de tudo, o salário não era o mais apropriado. As despesas de Paula eram de (mais ou menos) 1.175€ por mês (com a casa [nova], os filhos, o carro, etc.), mas o seu salário de 900€ não permitia o pagamento das mesmas. Em breve, teria de recorrer a qualquer outra coisa. Se tivesse que roubar o dinheiro, trabalhar a tempo inteiro, ou tivesse que fazer qualquer tipo de favor, fá-lo-ia sem piscar os seus olhos.

Em segundo lugar, passar de uma carreira emocionante como investigadora de homicídios para organizar sapatos por caixas não era nada de entusiasmante.

Paula sentia um grande desgosto e estava a entrar em depressão, pois ela achava que as investigações, os desafios e os crimes eram a única coisa que mostrava que ela era importante no mundo. Sem estas, a vida ficava sem objetivo.

Tudo começou quando, durante uma investigação, Paula tinha prendido o homem errado, que era na verdade o Presidente da Câmara. O Presidente jurou-lhe vingança pela destruição da sua carreira (mesmo que não fosse o culpado, todas as suas ações iriam ser questionadas), e acabou por conseguir cumprir a sua promessa. Este tinha uma grande influência na cidade, e tinha poder para despedir a agente. E assim o fez.

O seu pensamento foi interrompido pelo seu irmão, Filipe (ainda polícia), que chegou à loja:

- Oi, irmã.

- O que se passa? - perguntou Paula. - Não costumas passar por cá...

- Eu sei. Nunca tenho tempo com este trabalho. Mas há quanto tempo que eu não te via...

- Realmente, quanto tempo é que passou? 6 meses?

- Exato. Está tudo bem?

- Eu pareço-te bem? Este está a ser um mês infernal! - exclamou Paula, quase berrando.

- Pois. Olha, se precisares de ajuda já sabes que me podes pedir. - disse Filipe, gentilmente.

- Eu sei. Olha, obrigado por tudo desde já. Mas o que se passa?

- Nada. Só passei para ver se estavas bem.

- Bem? Eu pareço-te bem?! Eu já te disse que estava a ter um mês infernal e tu vens com esse tema outra vez?! - disse Paula, quase berrando outra vez.

- Calma. - disse o polícia, tentando acalmar a sua irmã. - Eu sei que as coisas na tua vida não têm sido fáceis, mas não é preciso descarregares em mim. E além disso, tu é que perguntaste porque é que passei por cá. Não iria mudar de assunto, pois sei que tu odeias isso.

- Desculpa. Sabes que eu te adoro, mas este shopping é um inferno, para não falar desta loja, e eu estou a fartar-me disto. Eu sempre sonhei ser era polícia, e concretizei esse sonho. Mas, passados 9 anos, parece que já não importo. - disse ela, entristecendo. - Olha, não podes falar com contactos teus para me devolverem o trabalho? - indagou ela, mudando logo o tom

- Sabes que eu adoraria fazer isso. Nos anos todos em que foste minha parceira, consegui resolver o maior número de casos da minha vida. Mas eu apenas não posso fazer isso.

- Ok, obrigado na mesma. Não te preocupes que se vir coisas suspeitas ligo-te. - disse Paula, despedindo-se.

Filipe foi-se embora e Paula continuou a organizar os sapatos, ao mesmo tempo que via televisão.

- "Notícia de Última Hora! O Assassino das Mil Caras está a ser perseguido na zona suburbana de São Cosme. Este assassino é assim conhecido por ter máscaras bastante realistas, que confundem sempre as autoridades sobre a verdadeira cara do assassino. Se souber alguma informação ligue para a Polícia."

"A minha casa fica lá! Não deve ser nada" pensou Paula. Afinal, ser morta por este assassino tinha a mesma probabilidade de ganhar a lotaria. Ainda pensativa, Paula trouxe umas caixas para a loja, quando, de repente, viu, num salto alto, uma luz vermelha. Pegou no telemóvel e ligou ao irmão.

- Estou? - atendeu Filipe.

- Olha, eu encontrei uma luz vermelha num sapato, e acho que é uma bomba.

Sapatos de Salto Mortal (#Wattys2015)Onde histórias criam vida. Descubra agora