Filipe estava chocado. Tinha a certeza que ia ser alvo de um processo disciplinar, e tudo porque decidiu ir a um encontro perigoso sem reforços e sem qualquer forma de conseguir perceber quem era o assassino ou o informador, no qual teria de haver perigo envolvido, quase por obrigação. Porém, a parte de não saber quem era o informador já estava resolvida. Com este morto, a máscara da escuridão já não conseguia esconder nada acerca do misterioso homem.
Este mostrava ser igual à descrição: 50 anos, pele bronzeada (parecia mesmo pele laranja) provavelmente por culpa de bronzeadores e por excesso de vitaminas (até parecia havaiano) e estrabismo. Porém, ainda havia duas pessoas que ainda não tinham sido apanhadas: a mulher que tinha experimentado todos os sapatos e o segundo homem que tinha carregado os sapatos. Todos estes suspeitos ainda tinham de ser interrogados e, posteriormente, excluídos ou presos.
Filipe estava sentado na borda de uma ambulância e tinha uma manta a cobrir-lhe o corpo e ainda estava bastante nervoso e furioso ao mesmo tempo. Bebia um café que estava num copo de tamanho pequeno. Estava quase a acabar, quando o mesmo polícia que tinha examinado o pó veio à sua beira para lhe falar:
- Não encontrámos nada para além de vários cartuchos e de sangue. Nem o informador nem o assassino tocaram em algo e, assim, não deixaram impressões digitais.
- Raios... E em relação ao sangue? Alguma coisa?
- Nada de especial até agora. Ainda não conseguimos levar nenhuma amostra para o laboratório, mas conseguimos determinar que parte do sangue pertence ao teu informador e que parte pertence ao assassino. Tenho que admitir uma coisa... Nunca pensei que tivesses uma pontaria tão precisa como a que tens. Atingiste uma pessoa em movimento a 30 metros de distância... Isso é uma boa pontaria.
- Eu sei.
- Olha, - disse o outro detetive. - tens que começar a ter mais cuidado. Acho que o capitão vai pedir aos Assuntos Internos para investigarem o que aconteceu, e se calhar vais ser despedido.
- Ai. - suspirou Filipe. - Desde que resolva este último caso...
- Se tu assim o dizes. Olha, mais uma coisa. A partir do ângulo de entrada da bala, o médico legista consegue confirmar que o assassino tem 1,75m.
- Ok, obrigado. - disse Filipe. Ele levantou-se e foi ver a cena.
A recordação de ter o informador a morrer nos seus braços voltava constantamente à sua cabeça. Não conseguia dissolvê-la, fosse qual fosse o solvente... Podia ser água, vento, até podia ser morte, mas aquela lembrança ficaria para sempre na sua memória, acontecesse o que acontecesse. Tudo ficaria retido, e Filipe só conseguiria expulsar quando tivesse resolvido o caso. Isso sim era o solvente correto. Mas, ainda haveria uma longa jornada até à resolução destes crimes.
Filipe começou a olhar com mais atenção o sangue e, por fim, começou a mexer nele. Havia algum relevo, como se alguma coisa estivesse debaixo da longa camada líquida. Filipe ficou 10 segundos a tentar retirar o objeto do sangue com a menor interferência possível nas prováveis provas. Encontrou uma bala. Filipe pensou que a bala tinha entrado no corpo do informador e estava perto de sair, mas tinha ficado presa. Porém, no momento em que caiu, a bala devia ter caído com o impacto da queda. O seu pensamento foi interrompido pelo seu telemóvel que tocava. Filipe atendeu. Era a sua mãe que lhe ligava:
- Estou?
- Filipe sou eu. - disse Paula, do outro lado da linha. - Os médicos já me trataram.
- Fantástico. Olha, podes-me ligar depois... Aliás, vem à esquadra. Preciso de te dar o telemóvel e podemos falar com mais privacidade.
- Ok. Quando puder vou para aí.
Filipe, que já tinha o telemóvel da sua irmã, seguiu para a esquadra. Ainda estava a pensar na possibilidade de de ser despedido. Se fosse, ficaria como a sua irmã: deprimido, zangado, suicida... Pegou no seu carro e conduziu 10 minutos até à esquadra. Sentou-se na secretária, à espera que alguém lhe viesse dizer algo, fosse um técnico forense ou um detetive dos Assuntos Internos. Felizmente, foi a primeira hipótese que apareceu primeiro.
- Você é o Detetive Filipe, certo? O detetive encarregado pelo caso da bomba no shopping e pelo assassinato do informador...
- Sim. - respondeu Filipe.
- Eu tenho aqui a informação toda sobre a vítima. - Filipe pegou no arquivo e começou a ler. O nome da vítima era Guilherme Sinde, tinha 52 anos, isto, aquilo, mais informações, menos informações, imagens, famílias, e outras coisas. Filipe leu tudo na diagonal, até que, de repente, focou-se num ponto. Era uma cara muito familiar. A irmã do informador parecia uma pessoa muito familiar. E era mesmo... O arquivo mostrava que a irmã do informador era, na verdade, a menina da caixa.
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Sapatos de Salto Mortal (#Wattys2015)
Mystery / ThrillerUma explosão com origem num sapato de salto alto matou várias pessoas num shopping. Conseguirão a dona da loja e o seu irmão resolver o caso, onde assaltos, raptos, e outro homicídio estão envolvidos?