- Repita lá isso...
- Resumidamente, a mensagem diz que para o plano correr como acordado, o seg... - resumiu o técnico forense, antes de ser interrompido por Filipe.
- Não é essa parte, a outra.
- As impressões digitais na bomba que matou a nossa primeira vítima pertencem à nossa segunda vítima.
- Então já podemos ignorar a teoria do homicídio de Guilherme Sinde ter tido algo a ver com uma denúncia em relação ao caso do homicídio de Leonor Freitas. - pensou Paula.
- Não necessariamente. - disse Filipe.
- Como assim?
- Caso houvesse outra pessoa a ajudar Guilherme com a bomba, esse cúmplice pode ter matado Guilherme para o silenciar. Assim, o cúmplice foge sem um arranhão e as autoridades pensam que já prenderam o culpado.
- Suponho que tenhas razão. - disse Paula, à medida que o técnico forense se afastava.
- Olhe, como é que vai a informação sobre a vida de Guilherme Sinde? - perguntou Filipe, dirigindo-se ao técnico forense que já estava longe.
- Ainda vai demorar um bocado, senhor. Não é fácil conseguir exibir a vida de uma pessoa numa folha de papel. - disse ele, aproximando-se.
- Já não é preciso, mas obrigado. - disse Filipe, como quem dá a ordem para uma pessoa se afastar.
- Achas que o segurança o pode ter matado?
- Possivelmente, mas agora temos outras pessoas para interrogar. Por quem é que queres começar? Carlos Batista ou Luísa Sinde? Companheiro de casa que faz assaltos e mata seguranças ou menina da caixa que é muito objetiva e apontou o seu irmão como suspeito?
- Eu vou atrás de ti... Escolhe tu...
- Luísa Sinde... Ela já está à nossa espera há muito tempo...
Os dois irmãos iam a sair da esquadra quando foram interrompidos pelo médico-legista:
- Detetive Filipe, já tenho o relatório da autópsia. A causa da morte é óbvia. Paragem cardíaca provocada por uma bala no coração.
- Há alguma coisa de relevante que não seja completamente óbvio? - questionou Filipe.
- Bem, eu enviei a bala para análise para compararem com outras amostras para sabermos que arma disparou e a quem pertence, mas há muitas coisas que podem mudar as estrias numa arma... Água, temperaturas extremas, uma chave de fendas enfiada pelo tubo abaixo... - começou o médico-legista a enumerar, antes de ser interrompido.
- Qual é o objetivo nisto tudo?
- Bem, se compararmos estrias, o resultado pode não ser o mais acertado.
- Ok, fantástico. Muito obrigado e adeus... - disse Filipe, virando as costas.
- Isso foi um bocado rude. - disse Paula.
- O tipo é um chato. Fala e fala e fala...
- E... Não sabes ser bem educado?
- Fala a pessoa que berrou comigo por estar a ter um mês infernal e disse um palavrão à beira de alguns clientes. - referiu Filipe.
- Cala-te... Entra apenas no carro.
Os dois irmãos entraram no carro e tiveram uma viagem atribulada. Para além do trânsito incessante, onde milhares de carros, carrinhas, autocarros e outros veículos buzinavam (barulheira infernal), um acidente ocorreu (um pneu de carro teve um furo), e o carro começou a guinar para a direita onde bateu noutro carro, uma menina ia sendo atropelada e um cão perdeu-se no meio da estrada. Enquanto todos estes acontecimentos iam ocorrendo, os dois irmãos falavam da investigação, mais uma vez:
- A quem é que achas que pertence a arma?
- Provavelmente vai pertencer a uma pessoa da qual ainda não suspeitamos. Só não sei é se a arma em si não é um beco sem saída. - respondeu Filipe.
- Como assim?
- Pode ter sido roubada. Pode-se ter perdido. Pode ter sido vendida ilegalmente. Não vamos conseguir perceber a quem é que pertence. Mas isto é a minha opinião e...
- CUIDADO COM O CÃO! - berrou Paula de repente, vendo o cão perdido à frente do carro. - Se calhar é melhor ficarmos calados. Ainda atropelamos alguém. - Os dois irmãos calaram-se e Filipe só falava para protestar ora com o condutor de trás ora com o condutor da frente.
Quando os dois irmãos chegaram finalmente à casa, achavam que ia ser um desperdício de tempo. Afinal de contas, tinham estado 37 minutos no trânsito para ter uma conversa que se resolveria em 5. Mesmo assim, os dois irmãos seguiram para a casa e interrogaram Luísa Sinde, mal ela lhes abriu a porta:
- Olá, Luísa. Lembra-se de nós? Filipe e Paula Costa? - perguntou Filipe.
- Sim, lembro-me. O que é que vocês querem agora? - questionou Luísa, deixando os dois irmãos entrar.
- Queríamos perguntar mais umas coisas... - disse Paula. Os dois irmãos sentaram-se no sofá com Luísa e começaram o interrogatório.
- Luísa, queríamos, primeiramente agradecer a sua ajuda a resolver este caso... - começou Filipe.
- Se já resolveram o caso, porque é que ainda me vão perguntar coisas? - perguntou Luísa.
- Bem, enquanto resolvíamos este caso, houve outro homicídio. Hoje percebemos que a segunda vítima é a responsável pelo homicídio da primeira, e é um dos suspeitos que apontou. - respondeu Paula. - Mas nós temos uma pergunta... Por que é que não disse que o suspeito era seu irmão?
- Não é. - respondeu Luísa. Filipe refutou logo:
- Por acaso é. Um dos homens que viu a por sapatos na loja é seu irmão.
- Até pode ser, mas eu não me lembro. Eu tenho alzheimer.
- Mas alzheimer não é a partir dos 65? - perguntou Paula.
- A maior parte das vezes sim, mas há casos onde aparecem mais cedo. Olhem, eu sei que devem ter feito uma viagem longa para cá, mas eu ia sair quando vocês entraram.
- Ok. Nós vamos sair agora também. Muito obrigado pela ajuda. - disse Filipe, terminando o pequeno interrogatório.
- Foi rápido. - comentou Paula assim que entrou no carro da Polícia.
- Concordo. Mas não faz mal. Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela!
- Não digas isso à minha frente. Sabes que eu não acredito em Deus.
- Nem eu, mas isto é uma força de expressão. - acrescentou Filipe. - O que eu quero dizer é que se este interrogatório correu mal, nós ainda temos outro, por isso não fiques assim.
- Supo... - O comentário de Paula foi interrompido pelo telemóvel de Filipe, que tocava. Era o técnico forense:
- Desculpe estar a ligar agora, mas isto é urgente.
- O que é que se passa? - perguntou Filipe, pondo em alta-voz para Paula conseguir ouvir.
- Eu analisei a escrita nos planos e consigo afirmar que a pessoa que escreveu é destra. Mas temos um problema...
- Qual? - perguntou Paula.
- Bem, a vítima era canhota e Carlos também é, mas nenhum deles é ambidestro. Isto significa que há uma terceira pessoa que sabe destes planos, sabe do assalto e, provavelmente, vai ajudar os outros a assaltarem o shopping.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Sapatos de Salto Mortal (#Wattys2015)
Mystery / ThrillerUma explosão com origem num sapato de salto alto matou várias pessoas num shopping. Conseguirão a dona da loja e o seu irmão resolver o caso, onde assaltos, raptos, e outro homicídio estão envolvidos?