8 - A tarde reserva os seus planos

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"Não pode ser. Como é que a menina da caixa e o informador (que também era um dos supeitos apontados por ela) são irmãos? São tão diferentes..." - pensou Filipe. - "E, se são mesmo irmãos, porque é que a menina da caixa o denunciou? Será que o queria incriminar? Ou será que não se lembrou que ele era seu irmão? Mas como é que se esqueceria que tinha um irmão? Seria doença, propósito ou falta de relevância? Seja qual for o motivo, tudo parecia demasiado suspeito e perfeito ao mesmo tempo... Como se tudo tivesse sido planeado por alguém para ter aquele objetivo específico."

Apesar dos pensamentos de Filipe, que tentava perceber se aquela ação era suspeita a menina não seria interrogada. A tarde já reservava outros planos para Filipe, que ia ver se encontrava alguma pista em casa da segunda vítima.

Paula, quando chegou à esquadra, foi diretamente à secretária do seu irmão, enquanto que os outros polícias, que a conheciam, olhavam para ela com desprezo. O pensamento comum que unia todas aquelas mentes era: "Tens uma lata para entrar aqui depois de teres sido despedida por prender a pessoa com mais poder nesta cidade". Contudo, Paula não queria saber o que os outros pensavam... Afinal de contas, só tinha feito o seu trabalho: investigar. E, ao contrário da maior parte das vezes, o seu irmão partilhava a mesma opinião. Achava que ser despedido por ter feito o trabalho da maneira correta era uma injustiça, e, apesar dos comentários constantes dos seus colegas de trabalho, este defendia a sua irmã.

Mas como eu, narrador, estava a dizer, Paula foi diretamente à secretária do seu irmão. Filipe olhou para a irmã de alto a baixo, e não conseguia perceber quem ela era. A sua parte direita das calças estava, ainda, coberta de sangue. O seu cabelo estava despenteado, como por reação à queda e as muletas que ela segurava baralhavam o irmão, mas os olhares dos seus colegas davam para perceber quem estava à frente do polícia.

- Estás bem? Nem pareces tu...

- Desculpa. Sabes, eu fui ao hospital... - disse a irmã, sarcasticamente.

- Pois... Olha, tens aqui o teu telemóvel. - referiu Filipe, tirando o telemóvel do bolso.

- Obrigada. Novidades? - perguntou Paula.

- Bastantes. Houve outro homicídio, e foi o de um informador que me ligou para me dar respostas acerca do que aconteceu no shopping. E, ouve isto... O informador era um dos suspeitos apontados pela menina da caixa, e esta é irmã do suspeito.

- Estás a dizer que a menina da caixa mencionou um suspeito que, na verdade, é seu irmão?

- Sim. Também fiquei impressionado, mas não a posso interrogar agora. Vou a casa da segunda vítima.

- Não devias ir à da primeira?

- Aquele homicídio foi aleatório. Colocar uma bomba num sapato é do género "Eu quero matar, mas não quero saber quem é que mato", enquanto que disparar sobre alguém é pessoal, ou seja, a única vítima selecionada foi a segunda. Assim, só vale a pena ir a casa da segunda vítima.

- Ok. Tu é que és o polícia... - disse Paula, pegando nas muletas.

Os dois irmãos saíram pela porta da frente e entraram no carro. A viagem foi calma. Nenhum dos irmãos falou e não houve nenhum perigo... Nenhuma aceleração por parte de um condutor, nenhuma tentativa de carjacking, nenhuma travagem ou nenhuma aceleração. Apenas uma velocidade constante para o endereço de Guilherme: Rua de Moçambique, São Cosme, Gondomar. Os dois irmãos passaram por essa rua e começaram à procura do número 97.

Assim que encontraram a casa, saíram os dois do carro com uma rapidez incrível (até Paula, que ainda estava com muletas) e bateram à porta. Ninguém vinha abrir a porta, então os dois irmãos começaram à procura de uma chave sobressalente. Acabaram por encontrá-la debaixo de uma pedra falsa, e, com ela, abriram a porta.

A casa estava numa desarrumação tremenda. Todos os objetos estavam ou fora de contexto ou derrubados, e seria impossível encontrar algo lá. Pelo menos era o que Filipe pensava. Os dois irmãos dirigiram-se para a sala de estar, onde uma mesa de centro se localizava entre a televisão e os rádios e o sofá e em cima de um tapete verde, branco, laranja e vermelho. Lá havia umas plantas azuis. Paula pegou nelas e comentou:

- Parece a planta do shopping. Mas porque é que o informador a teria aqui? E porque é que está um círculo vermelho à volta da zona onde está o cofre?

- Só me ocorre uma razão. Guilherme Sinde ia assaltar o shopping.

Sapatos de Salto Mortal (#Wattys2015)Onde histórias criam vida. Descubra agora