15 - A razão de um interrogatório

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- Dá para conseguir determinar quem enviou a mensagem? - inquiriu Paula.

- Bem, ainda não dá. E pode nem sequer ser possível determinar quem comprou o telemóvel. - pensou o técnico. - O telemóvel era descartável e, a não ser que tenha sido pago com cartão de crédito, não vai ser possível determinar o seu dono. Mas não há assim grande probabilidade.

- Raios! - berrou Filipe.

- Calma...

- Não, não consigo manter a calma. Este caso está a destruir-me a cabeça. Parece que um profissional fez tudo! 'Tou farto!!!!!!

- Seria de pensar que nenhum polícia fosse assim... - sussurrou Paula.

- Paula...

- O que é que foi? É uma investigação...

- A primeira que, provavelmente, eu não vou conseguir resolver.

- Se ficares a pensar assim, podes ter a certeza que não a vais resolver. - O técnico, ao ver a pequena discussão, começou a afastar-se, acabando por ir embora. Paula continuou: - Vamos resolvê-la, mas temos que trabalhar.

- Ok. Por quem queres começar primeiro?

- A cabra que não me deixava entrar...

- Cuidado com a linguagem... Vamos lá. Mas olha que eu não acho que ela nos vá dar respostas... - preveniu Filipe.

- Eu sei. A única ação que eu vou fazer se entrar naquela sala vai ser ficar a olhar para ela nos olhos enquanto ela está presa.

- E diz que não guarda rancores... - sussurrou Filipe. - Se é isso que queres fazer, eu não me vou por no caminho, mas fâ-lo sozinha. Eu vou interrogar o brutamontes. Depois, se quiseres, podes interrogar ou o gerente do shopping ou o segurança.

- Ok.

Os dois irmãos entraram em salas diferentes. Paula ficou sentada silenciosamente, a observar a mulher, que também olhava para Paula. Os seus olhares pareciam gritar por um desafio, mas, felizmente, as duas apenas se limitaram a olhar uma para a outra. Na sala ao lado, estava Filipe, com o Senhor "Brutamontes", que, na verdade, se chamava Hugo Lima.

- Então, Sr. Lima, sabe porque está aqui?

- Bem, eu estava a pensar que a razão era que os seus colegas me obrigavam a estar sentado nesta sala, mas, aparentemente, não parece...

- Eu pensava que ia dizer que achava que tinha a ver com os dois homicídios que ocorreram no shopping, mas vou deixar passar. - disse Filipe.

- Para ser honesto, esse seria o meu segundo palpite. Mas há estudos que dizem que, geralmente, a primeira opinião é a correta...

- Estou a ver que tem lido o jornal... Mas é uma pena, porque o sítio para onde vai não tem jornais...

- Como assim? - inquiriu Hugo, já sabendo o rumo da conversa.

- Bem, supostamente devia ser o segurança do cofre, mas anda a aceitar subornos... E se calhar também vou conseguir por um bónus no seu cadastro... Homicídio duplo. Acho que é melhor começar a falar...

- Bem, você tem jeito para ameaças mas acho que desta vez não vai ser preciso... Eu tenho uma boa informação para si... Primeiro de tudo, vou esclarecer as coisas. Pode ser?

- Porque não?

- Por onde quer que comece? - indagou Hugo.

- De preferência, pelo início. - respondeu Filipe, esperando pela história de Hugo:

- Ok. Foi assim... Eu já estou com falta de dinheiro há alguns meses e tudo porque apostei demasiado dinheiro num casino. Nesse casino, ou se paga as dívidas, ou morre-se... Como eu não queria morrer...

- Aceitou um suborno para deixar uns homens passarem para, assim, conseguir pagar o que devia ao casino.

- Pode-se dizer que foi mais ou menos isso. - comentou Hugo. - Eles pagaram-me para não dizer a ninguém e, assim fiz. Até hoje. Só lhe conto isto para não ir para a prisão. Eu sei que fiz mal em não proteger o cofre de um roubo, mas era isso ou a minha morte. Já estou livre de ir para a prisão?

- Esse não foi o acordo. O acordo foi contar a história e a informação e não ia para a prisão.

- Ok. Mas é que você nem imagina. O sítio onde todo o assalto foi planeado foi no casino. E quando digo planeado, digo planear alvos, estratégias, equipa, forma de fazer isto e aquilo...

- O que é que isso tem de importante? - perguntou Filipe, sem perceber a relevância.

- O que tem de importante é que o diretor do casino pressionou a equipa para receber uma parte do golpe, porque ele sabia que estava muito dinheiro envolvido, e ou eles seguiam as indicações, ou "algo de muito mau" ia acontecer, segundo as palavras do diretor.

Filipe, ao ouvir estas palavras, começou a pensar: "Se Guilherme não cedeu a chantagem, o diretor do casino pode ter matado Guilherme.

Sapatos de Salto Mortal (#Wattys2015)Onde histórias criam vida. Descubra agora