4 - Suspeitas explosivas

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Posso certificar-vos que, como narrador desta história, aquele cenário era calmo, apesar da explosão. As ações das pessoas dos pisos de cima eram silenciosas e o piso afetado pela explosão detetava poucos movimentos. A maior parte das pessoas perto da zona de perigo tinham morrido ou pela entrada de destroços nos seus corpos, ou pelo impacto da explosão, ou mesmo por quedas de cabeça. Felizmente, nenhuma pessoa morta era um dos irmãos. Estes dois tinham-se baixado a tempo, visto que conheciam o limite do temporizador. As suas cabeças ficaram cobertas pelas mãos, e nenhum dos destroços a alta velocidade os tinha atingido, o que não podia ser dito das outras pessoas na cena. Nos pisos de cima, todos fugiam à aparente agonia sentida pelos feridos.

A cena estava recheada do líquido vermelho conhecido como sangue. Um pó preto cobria o local onde a explosão tinha ocorrido, e estava espalhado em direção a todos os lugares por onde a onda de choque se tinha propagado. Os vidros das luzes que já tinham estado debaixo da vítima principal (Leonor Freitas) estavam totalmente estilhaçados. Várias rachas acompanhavam os outros vidros em redor. Os bancos da gelataria ao pé do local de detonação estavam desorganizados e o homem da gelataria estava escondido debaixo do balcão, sem ferimentos.

Paula e Filipe levantaram-se ao mesmo tempo, doridos do choque. Por muito sãos que estivessem, estavam feridos na mesma. As pernas de ambos os irmãos sangravam. Os dois, depois de se terem levantado, verificaram a pulsação de todos os que se encontravam no chão (alguns ainda respiravam, de forma muito fraca, mas a maior parte estava morta), procuraram lenços para fazer um torniquete, de forma a parar a circulação do sangue na ferida e dirigiram-se para uma loja onde eram vendidos aparelhos de função médica. Aí, Filipe ajudou a sua irmã a escolher uma bengala para sustentar o peso do seu corpo que não conseguia ser sustido pela sua perna ferida.

Depois destes 5 minutos, os dois irmãos foram falar outra vez com a menina da caixa que tinha registado a compra da vítima.

- Vocês outra vez? O que é que se passa? - questionou ela.

- A pessoa a quem você vendeu os sapatos morreu com uma explosão, oriunda do sapato. - respondeu Filipe.

- Como assim?

- Bem, houve uma explosão, e a bomba estava dentro do sapato. Essa explosão feriu mortalmente a pobre mulher e mais outras quantas pessoas. - explicou Paula.

- Credo!

- Você é que quis saber...

- Ok. Mas, desculpe a pergunta, qual é o interesse que vocês têm em mim?

- Olhe, nós estamos a tentar apanhar o culpado... - O polícia foi, quase imediatamente, interrompido pela menina da caixa.

- E pensam que fui eu. - disse ela.

- Nã... - O polícia foi outra vez interrompido.

- Eu não fiz nada, a não ser que não cumprir uma das normas que a loja tem seja crime. Eu até posso ter comido dentro da loja, contra as regras mas isso nem afetou as qualidades sanitárias da loja nem influenciou a capacidade de compra de alguém.

- Meni...

- Se isso pode ser considerado burla...

- MENINA!! - berrou Filipe, obrigando a menina da caixa a calar-se. - Não estamos cá por causa disso. E se estivéssemos, porque é que falaríamos da bomba?

- Eu sei lá... Podia-vos passar pela cabeça. - esclareceu a menina.

- Pois, mas este não é caso. Não se preocupe, que não é suspeita neste caso (pelo menos ainda não). - esclareceu o polícia. - Só queríamos saber se não viu nada de suspeito hoje... Como alguém que nunca tenha visto a pegar em demasiados sapatos ou experimentar muitos deles...

- Bem, havia três pessoas suspeitas. Duas delas estavam a carregar os sapatos para cá só que, ao contrário do costume, eram dois homens diferentes. Os dois tinham à volta de 50 anos e pareciam havaianos (muito bronzeados). Eram os dois exatamente iguais, tirando que um deles era estrábico.

- E a mulher? - perguntou Paula.

- Bem, para ser honesta era igual aos homens.

- Ouviste isto... Paula, estás bem? - perguntou Filipe, à sua irmã, que estava vermelha. Normalmente, esta responderia que sim. Mas Paula não estava bem. 2 segundos após a pergunta do seu irmão, Paula caiu para o lado, desmaiando.

Sapatos de Salto Mortal (#Wattys2015)Onde histórias criam vida. Descubra agora