6 - Onde a penumbra dominava

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- Quem era? - perguntou a mãe de Filipe.

- Trabalho. Tenho de voltar à cena de crime. - mentiu Filipe. - Descobriram uma nova pista. Depois ir-te-ei ligar para falar com a Paula. - O seu telemóvel tinha caído na queda, e Filipe ainda não sabia onde estava.

Filipe foi para o elevador do hospital muito pensativo. Quem estaria a ligar-lhe naquela altura? Seria mesmo um informador, ou seria tudo uma armadilha para impedir o polícia de investigar aquele homicídio? Seja o que fosse, nada impediria Filipe de assegurar a sua presença no encontro, a não ser a Morte, que acabaria por não interferir na situação (pelo menos nesta altura). Filipe entrou no parque de estacionamento, e, posteriormente, nos seus pensamentos. Estes iriam causar o seu atropelamento, mas a realidade voltou a instalar-se na sua cabeça mesmo a tempo, e Filipe saiu sem um arranhão.

Então, aí, começou a dirgir-se para o centro comercial. O seu carro tinha estado no estacionamento do centro comercial a manhã toda, e foi a ambulância que o levou para o hospital, pelo que Filipe teria que andar até o local do encontro, o que até achou que era melhor, pois assim podia estar sozinho com os seus pensamentos. Continuava a pensar no encontro... Era tudo muito misterioso. Como é que teriam obtido o seu número? Como é que saberiam da situação bizarra que havia acontecido naquela manhã? Seria o homem do telefone o assassino que estava com peso na consciência e queria confessar? Ou seria apenas uma testemunha que achava que devia cumprir o seu dever civil?

Seja quem o homem fosse, não devia ser um criminoso... No telemóvel, o homem não soava ansioso, mas sim assustado. Estava certo do que iria fazer, e os assassinos costumam pensar uma segunda vez se não existe mesmo outra escapatória... Tudo isso deixava Filipe aperceber-se de que não corria perigo nenhum, e se sofresse, não seria por culpa do informador (pelo menos era o que Filipe pensava). Entrou no centro comercial pela porta principal e, desta vez, já havia bastantes homens ativos, todos a examinar a cena de crime e a processá-la.

Todos os pedaços da bomba e dos sapatos tinham sido catalogados e, assim a cena estava cheia de etiquetas de várias cores (diferentes cores, diferentes classificações) , que simbolizavam a presença de provas naquele lugar. Todos os corpos, todos os vidros, todos os elementos que tinham sido remexidos na cena estavam catalogados de acordo com a importância, tipo de objeto, entre outros elementos. O pó preto que cobria a cena continuava lá, sendo de vez em quando levantado por uma rajada de vento de uma janela. Um detetive, que estava a por num saco um pouco de pó, levantou-se de repente e pôs-se em direção a Filipe:

- Detetive Filipe, encontrámos uma impressão digital num dos pedaços da bomba que nós achamos que pertence ao temporizador. Para além disso, já contamos mais de 23 vítimas.

- Coitadas. Envia a impressão digital para o laboratório e obriga o médico legista a começar as autópsias delas. Quero saber como morreram e se tiveram morte instantânea ou não. - disse Filipe, não parando de andar em direção ao local acordado para o encontro.

Filipe ficou na parte central do estacionamento e, de repente, um homem começou a falar atrás dele, onde a penumbra dominava:

- Ah... Vejo que veio mesmo ao encontro. Sabe, não imaginava que tivesse a coragem para vir. A maior parte dos polícias costuma trazer sempre reforços e fica a gravar tudo.

- Primeiro de tudo, eu não sou como a maioria dos polícias. Segundo, como é que sabe que eu não estou a fazer isso?

- Bem, eu tenho controlado os seus movimentos desde que lhe telefonei. Os telemóveis são aparelhos que se deixam ser clonados. Coitados! Tão vulneráveis... Fazem-me lembrar as pessoas mortas no shopping.

- Que encantador... Psicopata até ao tutano. - sussurrou Filipe.

- Não, não fui eu que provoquei aquele desastre. Mas sei bem quem é que o provocou... - esclareceu o homem misterioso.

- Ai sim? Quem? - perguntou Filipe, tentando ganhar tempo para conseguir perceber quem o homem era... Filipe não prestava atenção nenhuma ao que o homem contava. Era a história da introdução, e o desenvolvimento e o desfecho é que importavam.

O homem batia na descrição de um dos homens misteriosos que tinham carregado os sapatos. A altura e a cor da pele comprovavam isso. Filipe sabia disso tudo, mas não sabia da presença de uma terceira pessoa na cena que atuaria em poucos segundos, com o objetivo de matar o homem misterioso. E assim o fez.

O homem misterioso foi abatido passados 10 segundos. Filipe tentou alvejá-lo e atingiu-o no ombro esquerdo. Porém, essa não era a sua maior preocupação. Filipe bem berrou por um paramédico ou por uma ambulância, mas era tarde demais. O homem tinha morrido.

Sapatos de Salto Mortal (#Wattys2015)Onde histórias criam vida. Descubra agora