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- 10 de Abril de 1912

OLÍVIA PULAVA DE felicidade sem se importar com os longos cabelos castanhos batendo em seu rosto. Olívia, uma jovem de 17 anos que acabara de ganhar dois ingressos de um velho bêbado pescador, corria incansavelmente agarrando firme os ingressos em sua mão direita, e sua irmã com a esquerda, tentando não perder nenhum dos dois no meio da multidão.

— Me espere! — uma voz doce dizia baixinho embaixo de seus pés. Catarina, uma garota de aproximadamente seis anos, sua irmã, tentava acompanhar os longos passos da garota. A garota usava uma macacão listrado de uma cor apagada, e por cima, um lenço branco rasgado. Carregava consigo um coelho de brinquedo sujo, além das marcas da pobreza que nunca deixariam de ser carregadas.

Olívia, a mais velha, girou sua irmã no ar quando a colocou no colo, fazendo esforço para que seus passos ficassem mais rápidos a cada pisada que dava no chão. Seus cabelos eram grandes, mas sujos. Usava uma calça quase que encardida e uma blusa masculina preta, sendo acompanhada por um tênis preto.

— Meu coelho caiu! — a menina gritava manhosa enquanto esbarrava em diversas pessoas na multidão. A mais nova sentia seu corpo indo e voltando para o colo de sua irmã, também sentia os cabelos da mesma batendo em seu rosto.

— Querida, estamos indo para a América! Compraremos milhares de coelhos como este! — Olívia gritava em resposta depositando um beijo em sua testa.

— Não como este. — manhosa, sua irmã respondia segurando uma lágrima que insistia em cair — A mamãe me deu este.

— Oh, meu querido e glorioso Deus...— A mais velha prometeu esquecer o comentário de sua irmã sobre sua mãe. Olívia sentia seu coração acelerar quando parou em frente a uma imensa fila. — Estamos em direção ao imenso Titanic! Olhe as escadas, querida. Olhe as escadas!

— Com licença. — Pessoas diziam a todo momento.

— Licença — As palavras enchiam a cabeça das irmãs. Pessoas de todas as classes gritavam. Uns de alegria, outros de tristeza. Olívia olhou para o lado e viu uma criança, com mais ou menos a idade de sua irmã, chorando.

— Eu quero entrar! — o pequeno garotinho jogava seus joelhos no chão doloroso. Olívia sentia vontade de abraçá-lo naquele momento.

— Oh, meu querido, não são todos que nasceram ricos. — uma mulher suja, pequena e velha dizia, também chorando, para o garoto.

— Não olhe. — Olívia conseguia sentir um pouco da dor daquela mulher ao esconder os olhos de Catarina. — Iremos aproveitar por eles. Tivemos sorte de ter esses ingressos. — ela dizia baixinho.

— UHUHU! — um garoto loiro dos olhos azuis berrava de felicidade, sendo seguido por outro garoto que fazia o mesmo. — VAMOS PRA O TITANIC! VAMOS PARA A AMÉRICA!— Olívia podia ver a corrida rápida deles se transformando em um vulto. Tão rápido que...

— Ei! — Olívia sentia seu corpo rachar no solo. Catarina gritou fino quando caiu em cima de Olívia, que usou as mãos para proteger a cabeça de sua irmã. De perto, era possível escutar cochichos contra os garotos desesperados.

— Perdoe-me...— o loiro, envergonhado, tentava deixar a pequena criança de pé — Ajude ela, Fabrizio! — o garoto moreno surge das costas do garoto loiro como um salva-vidas, pronto para salvar qualquer um que estivesse precisando.

— Céus! Olha só o que você fez! — ele dizia em um sotaque diferente. Não veio daqui, Olívia pensou. — Venha. — Olívia sentiu o toque gelado do garoto agarrando fortemente sua mão para levantá-la.

— Obrigada.

TITANIC - frio como nós. Onde histórias criam vida. Descubra agora