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O VENTO FAZIA seus cabelos voarem.

— Nós precisamos buscar ele. — Olívia deixava as palavras no ar. Ninguém a respondia, uma alma viva sequer — Estão deixando os botes onde? — ela se virou devagar e jurou que escutou seus ossos quebrando. Seus olhos foram direto no homem que comandava o bote.

— Eu não sei, mas acho melhor você ficar quieta — o homem feio respondeu —, ou você mata todos nós aqui.

— Aquele navio vai afundar com todas aquelas pessoas se você não remar mais rápido! — Olívia gesticulou firme olhando para todas as pessoas do bote. Ninguém ousou olhar em seus olhos.

— Você não pode ficar quieta? — uma voz veio do fundo do bote. Olívia se virou rápido. Era uma mulher magra, com a pele claríssima por conta do frio e com cabelos grandes. Seus olhos eram puxados e a mulher encheu a boca para falar com Olívia— Quase nos matou quando balançou o bote todo. Tem sorte sobreviver.

— De qualquer forma, viver  sem o Pietro é como estar morta. — Olívia cochichou para ninguém.

— Bem, se você acha que sua vida não vale nada, podia se jogar do bote. — uma mulher que estava ao seu lado cochichou direto no seu ouvido. Olívia quase pulou de susto — Iria ter mais espaço no bote e todos ficariam mais confortáveis e confiantes. — Seu cabelo era loiro e bem bagunçado, o corte era completamente torto e sua aparência era de um fantasma.

Olívia não respondeu, apenas encarou os olhos azuis da garota. Ela percebeu pequenas rugas e em seu rosto e linhas pretas rodeando seus olhos.
— Não tem nenhum jeito de voltarmos? — Olívia se virou para o mesmo homem como da última vez.

— Olhe este bote. — os olhos vazios do homem passaram por todas as partes do bote, e Olívia o acompanhou — Se mais alguém entrar aqui, todos morreremos.

Olívia abriu a boca para tentar falar algo uma. Duas vezes. Três vezes, mas não conseguiu.

— ...Mas se você quiser voltar, sinta-se a vontade para pular nessa água quente e gostosa. — ele deixou um sorriso irônico e torto para Olívia e voltou a prestar atenção nas águas.

Ninguém a olhava, as pessoas fingiam estar em outro universo. Nem mesmo as crianças faziam algum barulho. Olívia se sentiu sozinha.

TITANIC - frio como nós. Onde histórias criam vida. Descubra agora