003

174 13 0
                                    

- 10 de Abril de 1912

OLÍVIA APERTAVA SUA irmã, Catarina, em seu colo na medida que entravam mais no Titanic. Elas não entregaram bagagem alguma para aqueles homens que as pegariam, passaram reto por todos eles sentindo um grande aperto no coração. Oh, como Olívia queria estar na primeira classe daquele navio.

Mesmo entrando por um lugar "simples", Olívia conseguia bisbilhotar de canto de olho. As paredes eram imensas, bem decoradas e o chão limpíssimo. Ela conseguia sentir o cheiro de tinta fresca e pensava em como sua cama seria, o que comeriam e o quão quente seria seu banho.

— Eu poderia ir e voltar para a América duzentas vezes só para morar aqui. — Olívia dizia mais para si mesma do que para os outros, mas Fabrizio, que caminhava ao lado da morena escutou.

— Eu poderia ir e voltar só para tomar um banho aqui! — ele diz animado. — Vamos! — o garoto puxava seu amigo em direção ao seu quarto sem olhar para trás.

Olívia não aguentava mais correr, mas a felicidade encheu o coração dela assim que ela viu sua irmã sorrir.
— Bem mocinha, chegou sua hora de correr também.

— Atrás desses moleques? — a garota sorri com a mão na boca.

— Lave essa mão quando chegarmos ao quarto.

[...]

— Com licença senhorita, esse aqui é o seu quarto. — Olívia quase arregala os olhos diante do rapaz uniformizado, gentil. Ela nunca fora tratada dessa maneira, nem quando dormiu em um hotel caro quando havia roubado dinheiro de um senhor. O homem olhou de cima a baixo para as garotas num sorriso forçado e lhes apontou um quarto pequeno, apertado, mas mesmo assim confortável.

Ao entrar, Olívia pode perceber o quarto pequeno cheio de mulheres. A maioria delas estavam felizes, exceto uma criança que chorava no chão.

Olívia olhava de um lado pro outro no quarto procurando a mãe, avó, tia ou qualquer pessoa que cuidasse dessa criança, mas parecia que nenhuma daquelas mulheres se importavam muito.

— Por que ela está chorando? — Catarina cutucava a calça suja da irmã com os dedos que acabara de tirar da boca.

— Já lhe disse para lavar esta mão. — Olívia olhava no fundo dos olhos da irmã, que arrumou seus cabelos encaracolados e foi a procura de um banheiro.

Desde que sua irmã nasceu, Olívia virou a mãe de Catarina. Sua mãe era uma mulher muito pobre que preferia passar os dias fumando a alimentar sua filha e tampouco procurar o pai da criança. Seu papel foi ser a mãe de sua própria irmã, e desde então, Olívia carrega muitas responsabilidades para si, incluindo uma criança de seis anos que quase não tem onde cair morta.

Olívia continuava a espiar a criança chorona.
— Olá...— ela se aproximava devagar e a criança se assustava mais — Olá, pequena. Onde está sua mãe? — Olívia permitiu encostar nos braços trêmulos da criança.

A pequena garota loira dos olhos escuros se parecia exatamente como ela: pobre e perdida.

— Não deixaram minha mãe entrar — Olívia fez uma careta como quem tenta entender algo —, mas ela implorou para que eu fosse para a América.

— Oh...

Olívia sentia seu estômago revirar. A mãe dessa garota devia estar extremamente desesperada para implorar para que sua filha fosse para a América sozinha.

— Não se intrometa. — a voz grossa que vem do fundo faz com que Olívia quase caia de bunda. Uma mulher gorda dos cabelos amarrados dizia grosseiramente — Cuide da sua criança que está presa no banheiro. Essa garota é minha sobrinha.

Olívia sentiu a fúria percorrer por todas as veias de seu corpo, mas respeitar os mais velhos era quase um lema para a garota.

— Sim, senhora. Perdoe-me. — e foi em direção ao banheiro, bufando.

TITANIC - frio como nós. Onde histórias criam vida. Descubra agora