Simples

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Quando enfim consegui me controlar no meio do desespero, tentei deixa-la o mais confortável possível, de modo que ficasse melhor na cama que tínhamos. Beijei seu rosto antes de sair de casa às pressas. Estava começando a perceber o quão perigoso as coisas estavam sendo e o quão rápido precisávamos do antidoto.

Peguei o equipamento e a primeira máscara que vi. Já não me importava mais se era perigoso ou com o anoitecer que se aproximava. O simples saber de que a S/N corria perigo por conta da minha incompetência em fazer um simples antidoto me deixava ansioso. O sentimento de culpa dominava o meu peito.

Tudo porque eu não conseguia fazer algo tão simples...

Não era simples.

Fazer um antibiótico não era simples.

Achar os elementos para tal não era simples.

Amar não era simples.

Amar essa garota não é simples. Amar a rainha, princesa, mulher, garota, cientista, biologa, professor, minha...

Como eu posso expressar o meu sentimento por ela? Como contar que eu estou ficando louco? Louco por ela... Eu sou louco por ela há anos, décadas, milênios.

Eu faria tudo por ela. Eu farei tudo por ela.

Senti Chrome segurar o meu braço, forçando-me a parar. Ele parecia estar dizendo algo, mas a única coisa que eu prestava atenção era na casa em que S/N estava, me lembrando de que ela precisa do medicamento o quanto antes. Que ela precisa que eu faça o medicamento para ela.

- Chrome, prepare as coisa. Sairemos assim que nascer o sol.

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Dito e feito.

No primeiro raio de sol nos levantamos e seguimos rumo até a piscina de ácido, apenas Chrome e eu dessa vez.

Meu coração batia forte ao lembrar da importância do sucesso de conseguir esse ácido. Sabia que a doença não estava muito avançada no corpo de minha amada, mas isso não significava que não queria que ela se curasse o quanto antes. Me doí ver o seu belo rosto murcho pela dor que invade o seu corpo a cada segundo.

A máscara era sufocante por mais que necessária, me fazia lembrar de guerras mais do que laboratórios. Não muito longe da fonte ácida, a prata que banhava a lança começou a escurecer foi o suficiente para o medo da morte se aproximar.

Desci a ladeira e ouvi o grito de Chrome. O medo do rapaz era evidente e claro que justificável, contudo, quanto mais ficasse parado ali, mais rápido seria gasto o oxigênio que ele podia consumir e o medo iria se aflorar a cada pensamento.

Ouvi ele descer reclamando sobre a sua falta de coragem e que do medo que não tinha, mas ele estava errado.

Eu estava com medo. Muito medo. Medo de duas mortes. A minha e a de S/N.

Ouvi o borbulhar da lagoa enquanto cavava nas rochas e o moreno pegava um pouco de seu liquido mortal, guardando-o nos frascos de vidro. Num dos borbulhar, os respingos atingiram a o tubo da minha máscara. Chrome gritou a tempo o suficiente de eu tapar, mas no que ele veio correndo para me ajudar...

Eu vi o chão se quebrar debaixo de seus pés. Meu coração bateu a mil. Minha respiração falhou. E quando comecei a correr até ele a gravidade foi cruel...

























A lança de Ginrou foi a salvação para que Chrome não morresse. O alívio tomou meu corpo enquanto ajudava a puxar a lança e trazer Chrome para o beirado, os braços do loiro já estavam começando a tremer. Eu não sabia que um magrelo de só carne e osso era tão pesado.

Respirei fundo quando ele tocou o chão e me sentei. Agradecendo a qualquer coisa pela força que tínhamos.

Consegui sorrir por debaixo da máscara e agradeci a nossa sorte.

Ficamos até o amanhecer para recolher os frascos de ácido sulfúrico. Foi uma glória poder chegar na vila e respirar de novo.

Estávamos na metade do processo e isso era um alivio. 

Eu ia começar a parte empolgante. A "culinária química". Mistura de elementos químicos era e sempre foi sem qualquer duvida a parte divertida desse ramo. A parte favorita minha e de S/N, na qual tenho certeza que estaria louca pegando os frascos e elementos. 

Uma memória de escola me veio a tona. Uma lembrança tão vivida que me fez parar apenas para aprecia-la.

Estávamos na escola e fui obrigado a me sentar para que ela pudesse se concentrar na atividade que ela fazia. Disse que eu devia prestar atenção caso ela fizesse algo errado, mas... Ah... Como eu podia me concentrar quando via ela usando aquela regata branca e o coque bagunçado? Eu não conseguia me concentrar quando ela me tirava qualquer foco.

Ela estava tão linda, tão perfeita e tão minha.

Os tapas que recebi por não prestar atenção valeram a pena. O simples fato de enxergar ela daquele jeitinho empolgante me deixava feliz o suficiente. Aproveitar aquele momento foi tudo para mim.

Uma lembrança boa e gostosa.

Avisei o pessoal para descansar enquanto ia até a cabana, na qual S/N foi levada de manhã.

Ela estava dormindo de lado, as costas viradas contra porta. Consegui ver o meu travesseiro em seus braços. Fiquei irritado com a substituição.

Me sentei ao seu lado e vi seu rosto preguiçoso, seu olhar se direcionou a mim e observei o sorriso surgir em seu rosto.

- Você volto. - A ouvi dizer baixinho.

- Você sabia que eu ia voltar.

- Isso não me impede de me preocupar.

A sua tosse estava seca. Peguei um copo de água e a entreguei. Ela bebeu até a última gota com dificuldade, desde se sentar até conseguir falar.

A fraqueza que uma doença trás me preocupa. Não queria perde-la para uma doença que eu conseguia extinguir. 

- Eu te amo, S/N. Então trate de sobreviver.

- Não sou louca o suficiente para não fazer isso.

Você vai nos salvar, meu doutorOnde histórias criam vida. Descubra agora