019

214 18 0
                                    

Karina

  Dou risada com o vídeo que o Cl7 me mandou, me sentando no sofá ainda entretida no celular. Conversar com ele é bem legal, temos bastante coisa em comum. A única coisa que não bate é o gosto musical.

  Eu amo The Weeknd, já ele prefere chorão e odeia música internacional. Mas eu também amo o cantor chorão, uma pena ter perdido a vida pra droga.

  Mas fora isso é muito de boa conversar com ele. E sabe que no início eu achei que ele iria querer apenas uma transa? E o pior é que eu também achei que eu iria querer assim. Mas não, foi bem pelo ao contrário.

  Sinceramente eu ainda tenho um puta medo de traficante, em bora meu cunhado e meu irmão sejam um deles. E isso me ajudou bastante a saber como de fato eles são. Uns são de boa, se você respeitar-los, claro. Mas se você não gostar de levar desaforo pra casa e tentar contrariar-los, vai de arrasta pra cima. Você tá na quebrada deles, e a única coisa que eles exigem é respeito. O mínimo que todo mundo deveria ter um pelos outros.

  Tem uns que são bem doidos da cabeça também. Se ele disser "você é minha", nada vai fazer ele mudar de idéia. De uma ou duas; ou você foge e muda de nome, ou você aceita, ou você morre.

  Em fim, o Brasil que nós tanto amamos.

  Desperto quando vejo alguém me chamar. Olho para o lado vendo minha mãe.

  Enquanto a ela, nos resolvemos por cima. Eu ainda tô bem decepcionada, não vou mentir.

  As palavras que aquele disse sem pensar, eu pensei por dias.

Nina: Já comeu? Fiz fricassê de frango, seu favorito! - Ela diz empolgada e eu faço careta, me ajeitando no sofá.

Karina: Não tô com fome, mas obrigada! Se der fome mais tarde eu como, dona Nina! - Ela sorriu fraco concordando com a cabeça.

Nina: E aí, como foi o seu dia? - Ela questiona tentando puxar assunto. Dou de ombros.

Karina: Falar a verdade foi horrível. - Sou sincera e ela muda a expressão, ficando preocupada. - As vendas lá da joalheria estão horríveis. Fora o prejuízo do assalto, eles definitivamente pegaram bastante coisa. - Digo antes de soltar um suspiro. Eu ainda sinto uma culpa lá no fundo do peito.

Nina: É, é complicado. - Ela diz cabisbaixa, parecendo realmente compreender minha situação. - Mas eu tenho fé em Deus que essa situação melhorará, talvez até para melhor. - Ela diz com um sorriso no rosto tentando me alegrar. Olho de relance para ela, dando uma risada sem graça, mas na real com vontade de chorar.

Karina: Sei lá, mãe. - Digo fazendo um contorno com o dedo na minha barriga. - Eu também tenho fé, mas não nessa situação. - Digo me ajeitando no sofá. - Eu estou sinceramente cogitando começar a procurar outro emprego. - Ela me olha e fica calada, apenas me escutando. - É difícil, sabe? Porque de certa forma, eu me sinto culpada. Se eu não estivesse ido lá buscar meu celular, tivesse esperado o outro dia, provavelmente o dano não seria sido tão grande. - Acabo desabafando e ela nega fraco com a cabeça, fazendo um carinho que apenas ela sabe fazer no meu cabelo.

Nina: Eu ainda não entendi perfeitamente o porquê de você se sente culpada. - Ela diz pensativa. - Você apenas foi pegar seu celular, amor. Qual o problema nisso? - Ela questiona e eu fecho os olhos, suspirando logo em seguida.

Até o Final.Onde histórias criam vida. Descubra agora