Abro os olhos sem ao menos saber que horas são. A luz do sol não está forte e isso me faz suspeitar que ainda é cedo. Sinto o braço pesado de Haymitch sobre o meu quadril e tento me mexer devagar para não acordá-lo, mas acho que minha tentativa foi em vão. Assim que começo a me virar, Haymitch move o seu braço, me apertando num abraço, o que acaba me arrancando um sorriso. Sua barba roça no meu pescoço e sinto meus pelos se arrepiarem. Viro-me, então, de frente para ele, observando seus olhos inchados por ter acabado de acordar.
É a primeira vez que o vejo acordar.
– Dormiu bem? - pergunto.
– Claro.
– Ah é, esqueci - continuo. - Você estava fingindo ter pesadelos ontem.
– Foi um bom motivo - Haymitch diz, rindo. Acabo sendo contagiada pelo riso. Ele me abraça e enterra o rosto no meu pescoço. Sua barba começa a me deixar com cócegas e desato a rir.
Alguém bate na porta e isso acaba me assustando. Ficamos em silêncio por alguns instantes, até a pessoa se pronunciar.
– Desculpem atrapalhar os pombinhos - ouço a voz de Cinna e isso acaba me fazendo sorrir. - Mas temos uma turnê da vitória para ir! Terminem o que estão fazendo no trem, por favor. De preferência num quarto bem afastado!
Haymitch abafa o riso ao meu lado.
– Minha nossa! - exclamo. - A turnê! - me surpreendo por ter esquecido o real motivo de ter vindo ate aqui, mas Haymitch não parece nem um pouco preocupado. Começo a me levantar da cama. - Minhas roupas... - sussurro para mim mesma. - Ah não... estão no trem... - olho de um lado para o outro e Haymitch continua no mesmo lugar, mas agora com um olhar meio intrigado. - Minhas roupas! - berro e isso faz Haymitch se assustar. Começo a andar de um lado para o outro, tentando encontrar uma forma de conseguir ao menos uma roupa decente.
Haymitch se levanta e se aproxima de mim.
– Calma - ele diz e levanta as mãos quando dou um passo para trás. Levanto o indicador para fazê-lo parar e ele me obedece. - Você ainda tem aquela roupa... é... ridícula que você estava usando ontem.
– Ridículo é esse seu bafo de cachaça, Haymitch! - retruco e jogo um travesseiro em sua direção. Ele o segura a tempo e joga de volta na cama. Suspira antes de se voltar para mim.
– Olha só - ele começa a dizer, juntando as mãos. - Por que não pega aquela roupa que usou ontem e quando chegar no trem você troca? Hm?
– É... até que é uma boa ideia - concordo com ele. - Parece que essa cabeça cheia de álcool ainda pensa - Haymitch abre a boca para protestar, mas o interrompo. - Eu vou na frente e os encontro no trem. Não quero ser vista... assim.
Haymitch suspira, impaciente, e abre a porta para que eu passe.
– Claro, princesa - ele murmura antes que eu saia pelo corredor e entre na segunda porta. Começo a recolher as minhas coisas, mas percebo que deixei aqui apenas a minha roupa, então trato de me arrumar o mais rápido possível. Não tem maquiagem aqui, então me xingo mentalmente até que Cinna finalmente entra no quarto.
– Deixa eu adivinhar - ele começa a dizer, se aproximando de mim. - Vocês brigaram mais uma vez.
– Discutir com o Haymitch faz parte da minha rotina - respondo. - Preciso da minha maquiagem, Cinna - digo com a voz triste. - Eu disse que iria na frente para poder me trocar direito no trem... se importa de ir comigo?
Cinna me fita por alguns instantes e, após me avaliar, abre um pequeno sorriso.
– Claro, querida - ele diz. - Também quero chegar logo lá. Acho que vai ajudar a adiantar os outros.
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You're Always Here - Hayffie
RomanceExistem coisas que apenas o tempo pode nos mostrar. Coisas que estão na nossa frente o tempo inteiro, mas não conseguimos enxergar. Precisávamos um do outro cada vez mais, e essa necessidade de companheirismo acabou se transformando em algo maior.