Somos conduzidos ao refeitório, onde nos dão macarrão com carne. Me pergunto se isso é comida de gente, mas quando vejo que a bebida oferecida é água, desisto de tentar compreender qualquer coisa que seja relacionada a este Distrito.
Que fim de mundo.
Fico encarando a comida por um tempo e sinto meu estômago revirar. Você precisa comer, digo para mim mesma. Mas algo me diz que se eu o fizer, colocarei tudo para fora depois.
Olho para a pasta preta ao lado do prato e lembro de Cinna. Ele estaria me incentivando a colocar a comida no estômago agora, tenho certeza. E Portia estaria me dizendo que todo esse meu mal estar é resultado de uma "paixonite aguda" chamada Haymitch. Ele iriam rir e me contagiar com isso e, no final, acabaria comendo.
Se já estava sem fome, agora realmente não estou.
- Effie? - ouço uma voz bastante conhecida e, quando dou de ombros, vejo Katniss se aproximar com aquele amigo dela. Nossa, que memória horrível.
Ela corre até mim e me abraça tão calorosamente que acaba me passando um pouco de paz.
- O que está fazendo aqui? - ela indaga. Seus olhos cheios de ansiedade. É óbvio que eu seria a última pessoa que alguém imaginaria usando uma roupa como essa.
- Sou uma refugiada política - digo.
- Plutarch te resgatou?
- Resgatou, assim como ele diz - explico. - Eu e você não sabíamos de nada - minto em parte. Haymitch havia dito uma vez que Katniss não estava ciente do plano de fuga, da revolução. Só pioraria as coisas se eu deixasse que ela descobrisse que até eu sabia disso. - Agora estou condenada a esta vida de macacão - continuo, olhando para os lados, sentindo repulsa de todos os presentes aqui.
Olho por sobre o ombro de Katniss e lembro do amigo dela.
- É maravilhoso ver você de novo - digo e estico o braço para apertar sua mão, que ele retribui.
Volto a olhar para o meu prato. Pego o copo com água e o levanto.
- Acreditam nesse lugar? - indago, mostrando o objeto cheio com água gelada. - Eu sinto falta de café - volto a depositar o copo na mesa. - Não sabia que um lugar poderia ser tão rigoroso assim. Digo... Pensei que pelo menos nos escalões mais altos teria... alguma ação.
Katniss me olha de uma forma um pouco estranha, como se tentasse compreender o que eu digo e não conseguisse.
- Sinto falta das minhas perucas - digo e ponho uma mão na cabeça. Minha voz sai um pouco manhosa. - Ainda bem que lembrei que isso - aponto para o lenço na minha cabeça - era moda antigamente. Tudo que é velho pode voltar a ser novo... como a democracia... o que me leva a isso.
Afasto minha bandeja e puxo a pasta preta para mais perto, entregando-a a Katniss, que a abre de imediato, começando a analisar tudo que contém nela.
- Cinna - murmura, então volta a olhar para mim. - Ele está morto, não é?
Já esperava que ela fosse me perguntar isso. Ela não faz ideia de como isso ainda dói em mim. Talvez estejamos sentindo a perda na mesma intensidade. Éramos tão próximas dele...
Balanço a cabeça positivamente.
- Sim querida - digo, apenas.
Katniss volta a analisar a pasta. Todos os croquis que ele fez.
- Ele fez Plutarch prometer que não te mostraria isso até você decidir ser o Tordo por conta própria - explico enquanto ela continua analisando página por página. - Ele sabia dos riscos. Assim como todos nós... Ele acreditava nessa revolução.
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You're Always Here - Hayffie
RomanceExistem coisas que apenas o tempo pode nos mostrar. Coisas que estão na nossa frente o tempo inteiro, mas não conseguimos enxergar. Precisávamos um do outro cada vez mais, e essa necessidade de companheirismo acabou se transformando em algo maior.