Estou sozinha num compartimento do aerodeslizador. Pedi um momento solitário quando Haymitch me largou do abraço que me deu após entrarmos. Ele sentia por Portia, mas não como eu. Nunca como eu. Meus olhos estão inchados e ainda soluço vez ou outra.
Minha cabeça gira e começo a sentir o sono chegar. Preciso de descanso.
Não consigo sonhar. Não consigo ter pesadelos. Não consigo ter nada além da escuridão.
Acordo um pouco atordoada. Minha cabeça ainda dói um pouco, mas é uma dor leve. Não sei há quanto tempo estamos voando, nem se já resgataram os tributos. O que me desperta, na verdade, são as batidas na porta.
- Effie - é a voz de Haymitch. Me levanto e vou até ela, abrindo-a para que ele entre. - Está bem?
- Mais ou menos - respondo com a voz fraca. - Como estão as coisas?
Haymitch suspira antes de responder. Ele se encaminha até a cama onde eu estava e se senta. Faço o mesmo, olhando-o com atenção.
- Conseguimos resgatar os tributos - ele diz e finalmente algo me tranquiliza entre toda essa confusão. - Mas... não conseguimos salvar Peeta. Ele ficou.
- Ele está...?
- Não sabemos, Effie - ele diz, interrompendo-me. - Espero que não, mas não é uma certeza. Não temos como saber agora.
Meu olhar está preso num ponto distante. Começo a imaginar mil formas de ver Peeta morrendo naquela arena, sozinho. Tento imaginar como Katniss está agora.
- Como está Katniss?
- Está desacordada - ele responde. Olho para ele desentendida. - Tivemos que contar sobre Peeta e ela ficou alterada. Plutarch a dopou e ela está dormindo.
Percebo que ele parece mais preocupado do que deveria estar. Algo mais o está perturbando, tenho certeza disso. Suas marcas de expressão estão mais visíveis. Ele está suando. Aposto que também esteja sedento de álcool.
- Tem mais alguma coisa, não tem? - indago um pouco receosa.
Haymitch respira fundo e fecha os olhos. Ele abaixa a cabeça por alguns instantes.
- O Distrito Doze foi destruído.
A fraqueza presente na sua voz mostra que está se contendo para não chorar. Há grandes chances, ou melhor, é quase certo que sua casa tenha sido destruída.
Pouso minha mão em cima da dele e passo o polegar de leve em cima dela.
- Sinto muito - é só o que consigo dizer. Sua vida já era uma droga até agora. Sem casa, então, foi de mal a pior.
Passamos os minutos seguintes em silêncio.
Eram raros esses momentos de sensibilidade de Haymitch. Mesmo tendo desfrutado disso mais do que qualquer outra pessoa, não deixava de ser uma raridade, pois ele sempre teve a sua mania de quebrar todo o clima formado falando bobagens. Às vezes era só para me fazer rir, outras vezes para me provocar. Nada muito sério. Típico dele.
Passo os meus braços ao seu redor num abraço. Trago-o para mais perto e beijo o topo da sua cabeça, encostando-a no meu colo. Depois de alguns minutos, sinto o peso dele sobre mim aumentar, então percebo que Haymitch caiu no sono.
Com cautela, me movo lentamente até que Haymitch fique deitado, com a cabeça sobre minha perna. Levo um pouco de tempo para fazê-lo, já que o peso de Haymitch não colabora com a minha ausência de forças. Assim que consigo, passo a acariciar seus cabelos até sentir o sono chegar para mim também e, aos poucos, meus olhos se fecham e eu durmo sentada, encostada na parede.
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You're Always Here - Hayffie
DragosteExistem coisas que apenas o tempo pode nos mostrar. Coisas que estão na nossa frente o tempo inteiro, mas não conseguimos enxergar. Precisávamos um do outro cada vez mais, e essa necessidade de companheirismo acabou se transformando em algo maior.