O chão estremece sob os nossos pés e eu aperto ainda mais o abraço em Haymitch. A calmaria que existia até agora se dissipou e a tensão tomou conta do ambiente. E por mais que ele aparente estar calmo, sei que está tão assustado quanto qualquer outra pessoa aqui dentro.
Abro os olhos e vejo Plutarch concentrado na mesa onde estava. Beetee deve estar passando alguma informação importante, pois ele está tão concentrado em ouvir que nem se assusta com o som que as bombas fazem quando atingem o solo.
Continuo abraçada a Haymitch até sentir minhas mãos formigarem.
- Eu to cansado - murmura.
- Quer sentar?
Haymitch balança a cabeça num sim e então sentamos, encostando-nos na parede fria do porão. Sua cabeça pousa no meu ombro e começo a afagar seus cabelos. Dou de ombros de vejo Miri nos observando, e acabo sorrindo.
- Acho que vocês devem estar cansados de ouvir isso - ela começa a dizer -, mas nunca cogitei essa possibilidade... Vocês dois, sabe? Juntos...
- De fato - digo entre risos. - Já ouvimos isso.
- Muitas vezes - Haymitch resmunga ao meu lado, o que faz como que eu e Miri desatemos a rir novamente.
- Pessoal! - ouço a voz de Plutarch um pouco longe e o procuro com o olhar. Haymitch desencosta do meu ombro para fitá-lo também. - Pessoal! Ah, bom, eu não diria isso até ter certeza, então... - ele pigarreia antes de prosseguir. - Podem se instalar em qualquer lugar deste porão. Se quiserem descansar, deitar, fiquem à vontade. Instalamos um mecanismo de defesa nessa casa só por garantia e ele foi ativado. Se cair alguma bomba nas proximidades, não seremos afetados.
Aplausos são ouvidos no porão. Algumas pessoas trocam abraços, suspirando aliviados.
Olho para Haymitch e ele traz um leve sorriso nos lábios. Mas ele permanece exibindo seu cansaço acumulado.
- Ei - digo e ele olha para mim. - Quer deitar um pouco?
Haymitch balança a cabeça num "sim" e eu me sento com as pernas cruzadas, deixando-o pousar sua cabeça em cima delas. Enquanto o tenho no meu colo, passo as mãos delicadamente pelos seus cabelos.
Miri se senta um pouco mais próxima a mim e voltamos a conversar. Ela me conta tudo o que aconteceu enquanto ainda não estava no Distrito 13, até nos encontrarmos lá. Como Plutarch a ajudou, a manteve viva.
As bombas continuam caindo, produzindo um som que, quase sempre, me assusta. Haymitch está deitado, mas seus olhos continuam abertos. Volta e meia ele os fecha, mas quando uma nova bomba atinge o chão, ele os abre novamente. Então passo as mãos no seus cabelos novamente, e ele volta a fechar os olhos. Como um filhotinho.
Como um filho.
Esse pensamento me arranca do ambiente e me leva às minhas piores lembranças que, querendo ou não, ainda são recentes. Ainda doem bastante. E me pego perguntando como seria se eu ainda estivesse grávida, de que tamanho a minha barriga estaria, como ele estaria me mimando agora, por mais impossível que isso possa parecer. Mas consigo imaginar.
Lágrimas brotam nos meus olhos e eu fungo, passando as costas das mãos no rosto para impedi-las de cair. Mas Miri acaba notando.
- Ei, Effie - ela diz, franzindo o cenho. - O que foi?
- Ah, nada, nada, querida - me apresso em responder. - Eu estou bem.
- Não está, Effie - Miri insiste, com o olhar preso em mim. - Vamos, o que houve?
- Haymitch! - Plutarch o chama e ele levanta um pouco a cabeça, relutante. - Pode vir aqui um minuto?
Revirando os olhos, Haymitch se levanta e me beija rapidamente antes de ir ao encontro de Plutarch, que parece um pouco aflito.
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You're Always Here - Hayffie
RomanceExistem coisas que apenas o tempo pode nos mostrar. Coisas que estão na nossa frente o tempo inteiro, mas não conseguimos enxergar. Precisávamos um do outro cada vez mais, e essa necessidade de companheirismo acabou se transformando em algo maior.