A proposta

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Abro a porta e dou espaço para que Haymitch entre, e ele o faz rapidamente. Tranco a porta e me viro para encará-lo, notando em como, nesse pequeno intervalo de tempo, ele mudou. Seu olhar está mais atento. Até adquiriu postura, algo raro de se ver nele.

As roupas de dormir daqui são estranhas. São como um uniforme também, só na cor: brancas. Haymitch traja uma calça com uma camisa de manga curta. Ambas folgadas em seu corpo. A única diferença é que ele está usando um casaco preto, o que todos recebem quando chegam aqui - no meu caso, recebi e fui deixada nesse compartimento e até então não me lembro de como foi isso. Tem horas que acho melhor nem tentar lembrar.

- Ainda está com o lenço - murmura apontando para a minha cabeça. Ele se aproxima como se fosse retirar, mas ponho a mão em cima do tecido.

- Não, Haymitch - peço. - Por favor... Meu cabelo está horrível.

- Ei - ele diz e se aproxima ainda mais. Consigo sentir seu hálito e estranho não haver o cheiro de álcool, típico dele. Há apenas o cheiro de pasta de dente. - Está tudo bem.

Suas mãos quentes encontram as minhas, afastando-as da minha cabeça vagarosamente. Cruzo os braços em frente ao corpo enquanto Haymitch começa a retirar, aos poucos, o lenço da minha cabeça. Fecho os olhos e abaixo a cabeça, até que ele retira o tecido por completo e o deixa em cima da mesa. Sinto minhas madeixas caírem levemente nos ombros, mas sei que não estão do jeito que eu quero. Os fios estão quebrados, maltratados.

- Ei - ele me chama. Levanto a cabeça ainda um pouco receosa e o fito. Haymitch me olha fixamente e põe uma mão no meu rosto. À medida que se aproxima, meus olhos vão se fechando e meus lábios abrem um pouco, ansiosos, suplicantes, à espera dos dele. Nossos rostos se encostam e nossos lábios se encontram, dando início a um calmo beijo. É confuso, levando em consideração a ansiedade que sentia até então. Mas ele parece ler os meus pensamentos e então desliza sua mão até a minha nuca e puxa de leve os meus cabelos, intensificando o beijo. Sua mão livre vai até as minhas costas e me puxa para mais perto.

Acabo gemendo baixo em seus lábios quando ele puxa o meu cabelo com mais força. Em resposta a minha reação, Haymitch sorri e morde meu lábio.

Chega a ser estranho tudo o que estou sentindo agora. É como se estivéssemos começando tudo de novo, nos descobrindo novamente. Dois desconhecidos descobrindo algo em comum. Dois conviventes que finalmente resolvem abrir os olhos para o que realmente está acontecendo e se notam. Duas almas perdidas, na esperança de encontrar uma a outra depois de tanto tempo solitárias.

Sei que ele não é o mesmo Haymitch que estava no aerodeslizador. O cheiro de álcool abandonou o seu corpo.

Nos afastamos um pouco para nos observarmos. Ele está tão diferente...

Depois de um ou dois minutos Haymitch me pega no colo e me conduz até a cama. Nos sentamos um ao lado do outro e eu seguro sua mão. Meu polegar faz movimentos circulares nas costas da mão dele.

- Sente falta da bebida - digo. - Não sente?

- Muita - Haymitch responde e suspira tristemente. - Mas isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. Por bem ou por mal.

Quando termina de falar, Haymitch olha para mim e assim permanece por alguns instantes, até que eu percebo o que ele quis dizer.

Era por mim.

Sorrio e aperto um pouco mais a mão de Haymitch.

- Obrigada - sussurro. Penso em perguntar sobre a reabilitação, mas não acredito que seja um momento propício para tal pergunta. Haymitch também parece hesitar em falar alguma coisa, o que faz o silêncio se estender entre nós.

You're Always Here - HayffieOnde histórias criam vida. Descubra agora