Um Novo Lar?

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A viagem durou horas. Seguimos o caminho todo em completo silêncio e não poderia ser diferente, pois estava deixando para trás uma vida inteira ao lado da minha família para ficar ao lado de Kaname. Para sempre.

Chegamos ao sul de Londres ao fim do dia e a paisagem era linda. A mansão dos Kuran era simplesmente magnífica. Não poderia esperar nada diferente. Logo na porta principal, diversos empregados nos esperavam, prontos para qualquer ordem. Isso me deixou um pouco sem jeito. Kaname podia ver o quanto eu estava espantada.

– Bem-vinda ao nosso novo lar, Yuuki. Seremos muito felizes aqui.

Olhei-o com um jeito de quem perguntava "Tem certeza?". Desviei-me então, e entramos. O hall de entrada era digno de um rei, tudo do mais lindo e mais caro possível, cada objeto com sua característica especial de dizer "sou exclusivo", os Kuran, realmente, tinham um gosto requintado, isso eu jamais poderia negar.

Enquanto Kaname ordenava os empregados, eu adentrei mais à casa e segui até um enorme quadro pendurado ao sul da elegante sala, perfeitamente decorada com as cores branca e dourada. Um casal sorria apaixonado. Era o casal mais lindo que eu já vira. A moça tinha seus cabelos castanhos, levemente despenteados, soltos até a cintura, vestia um vestido de seda, branco, estava sentada numa cadeira branca, perfeitamente esculpida e moldada, já o rapaz, um homem muito belo, estava de pé, ao lado da cadeira, com uma mão posta sobre o ombro da moça, ele usava um lindo terno branco, seus cabelos eram como os de Kaname e seus olhos eram de um profundo vinho. Os dois pareciam muito felizes.

Logo me lembrei deles. Meus pais. Eles eram maravilhosos e eu os amava muito. Mesmo que eu não os tenha visto durante anos e tivesse vivido como se nunca os tivesse conhecido, o sentimento por eles em meu coração parecia tão vivo como se estivessem sempre comigo. Eu era muito parecida com minha mãe e agora, depois de crescida, vi como realmente meus traços eram semelhantes aos dela. Senti um pesar ao lembrar que eles haviam morrido.

Subi as escadas, namorando cada detalhe perfeito do corrimão, e fui conhecer o andar superior. Entrei numa sala ao fim do corredor, que parecia um tanto escondida. A sala era bem ampla, com uma vista perfeita para o jardim - em longe dali, via-se uma cachoeira que brotava das montanhas que cercavam a cidade – havia alguns quadros pendurados nas paredes, muitos livros nas prateleiras e bem ao centro, havia um piano. Ele estava em perfeito estado, poderia se passar por novo se não estivesse esculpido "1424" na lateral. Sentei-me no banco e passei meus dedos pelas teclas. Um flash de memória passou por minha mente e eu ouvi uma linda melodia e quando dei por mim, estava tocando, como se fizesse isso minha vida toda.

– Você sempre tocou muito bem. – disse Kaname, entrando na sala.

– Eu tocava piano mesmo? Que incrível!

– Nossa mãe lhe ensinou quando tinha três anos. Depois disso, tocava todos os dias ao pôr-do-sol, dizendo que era a melhor hora para tocar, porque todos os seres existentes podiam ouvi-la e sentir a mesma felicidade que você sentia. E que se alguém, em algum lugar do mundo, estivesse triste, sorriria no mesmo instante.

– Que sensível. – eu disse, sorrindo.

– Você sempre foi doce e sensível. Nossos pais eram muito orgulhosos. – ele também sorriu.

  Parei de tocar e baixei a cabeça. Zero veio em minha mente e eu não conseguia tirar seus olhos tristes da memória. Como ele estaria agora? Será que me perdoaria por deixá-lo? Não conseguia pensar em outra coisa. Kaname percebeu minha aflição. Olhei para o horizonte e uma lágrima rolou quente em meu rosto.

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