Ela Se Foi

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NAQUELE MESMO DIA, NA ACADEMIA KUROSU

– Diretor! ... Diretor! ... DIRETOOOOOR!!! – gritou Zero, entrando abruptamente na pequena sala, batendo a porta e derrubando tudo.

– Zero-kun, não bata a porta! Em que posso ajudá-lo? – disse Kaien, calmamente, sem tirar seus olhos do livro que abrigava em suas mãos.

– "Em que posso ajudá-lo?"?! "Em que posso ajudá-lo?"?! O que você está pensando? Sabe por que estou aqui e não finja que não! Você sabe o que aconteceu e continua aqui sentado?! Como pode estar tão calmo? Não posso acreditar nisso! Ele a transformou! O Kuran tomou Yuuki de nós! Você não se importa? – ele deixou uma lágrima de desespero brotar em seus olhos.

Mas Kaien nada disse. Apenas continuou com sua leitura, como se Zero não estivesse ali. Aquilo fez seu sangue ferver e, enraivecido, bateu com as mãos na mesa tão forte que fez com que ela rachasse. Logo após isso, derrubou tudo que havia em cima da mesa do diretor.

– Não importa! Fique aí com a sua vidinha e seus alunos preciosos, enquanto sua filha está nas mãos de um assassino que arrancou sua humanidade! Eu vou atrás dela! Sei que está no Dormitório da Lua. Vou buscá-la antes que ele a leve embora!

Antes mesmo de chegar até a porta, Zero foi parado por uma única frase.

– É tarde demais. – o diretor disse baixo, mas o suficiente para que um vampiro pudesse ouvir.

Zero virou lentamente na direção de Kaien, que estava cabisbaixo, ainda com o livro nas mãos, mas só agora percebera que havia lágrima em seus olhos. Andou até a mesa e tomou o livro pra si. Era, na verdade, um álbum de recordações, que Yuuki o havia dado de presente, num Natal há quatro anos. O álbum estava aberto numa página, em que havia um pequeno texto, um desenho feito de giz de cor e uma foto: a primeira foto que tiraram como uma família. Zero reconhecera seu olhar triste e solitário na foto, mas Yuuki estava abraçando-o animada, ela adorava Natais. Logo atrás dos dois, o diretor Kurosu sorria um sorriso feliz, com um bolo nas mãos. Foi um dia ótimo. Foi a primeira vez em que Zero realmente se sentira em casa novamente, desde a tragédia com sua família.

Ele fechou o álbum e pôs sobre a mesa.

– O que você quer dizer com "É tarde demais."? – perguntou Zero, com o coração apertado.

– Os Kuran já se foram. Yuuki se foi. Partiram à quinze minutos.

Zero arregalou os olhos e num ataque de fúria, tentou correr até a janela.

– Não tente! – disse o diretor – Não conseguirá alcançá-los. Por mais rápido que seja, não será o suficiente. – ele fez uma pausa – Não por você, mas Kaname garantiu que não fosse seguido de forma alguma. Portanto, por mais que corra, jamais conseguirá chegar até eles.

– E você diz isso assim?! Precisamos ir atrás deles. A Yuuki...

– Ela não foi contra sua vontade. – rebateu Kaien. Zero sentiu um forte dor no peito e olhou incrédulo para ele. – Ela veio aqui a pouco, se despedir.

Ao ouvir aquelas palavras, Zero se sentiu inferior. Yuuki havia se despedido do diretor, mas não dele. Nem sequer havia dito que decidira ir embora com Kaname. Mal conseguira segurar as lágrimas teimosas, então olhou para o céu, pensativo.

– Você pensa que não me importo, mas pelo contrário. – começou o diretor – Criei Yuuki como se fosse minha filha e sinto em meu coração que ela é. Quando a vi pela primeira vez, foi como se eu tivesse olhando para um pedaço de mim. Eu a amei imediatamente. – ele suspirou – Você pode pensar que Kaname transformou Yuuki contra sua vontade... Pode até ser, mas aconteceria sozinho mais cedo ou mais tarde.

Zero olhou para ele, não entendendo uma palavra do que dizia, mas como se pedisse para continuar.

– Yuuki é, na verdade, um vampiro sangue-puro da família real, que esteve escondida entre os humanos, com seu lado vampiro, adormecido até agora. Ela é irmã de Kaname e herdeira legítima dos Kuran.

Zero estava se lembrando. Kaname falou alguma coisa sobre irmão mais velho, mas estava tão enfurecido, que mal prestara atenção nas palavras que saíam da boca de seu rival. Até mesmo depois, em seu quarto, após aquela noite linda, Yuuki o havia chamado de irmão, mas nem se deu conta. Ainda parado, olhando para o diretor, pediu que ele continuasse a falar e então ele continuou.

– Pouco antes de os pais de Kaname morrerem, estavam sendo perseguidos por um vampiro muito cruel, Rido, também descendente a linhagem Kuran e irmão mais novo de Haruka, pai de Kaname. Esse vampiro era apaixonado e foi rejeitado por Juri, mãe de Kaname, por isso, tentou seqüestrar Yuuki, sua filha mais nova e tomá-la como esposa, como forma de vingança. A primeira tentativa foi falha, mas ele jurou voltar e antes que pudesse fazê-lo, Juri, que conhecia algumas formas de magia e encantamentos, fez um feitiço, sacrificando-se e tornando Yuuki, temporariamente, humana e quando completasse 18 anos, voltaria a ser uma sangue-puro. Juri já havia me procurado, implorando que eu cuidasse de Yuuki como se fosse minha e eu o fiz. Ela imaginou que ninguém a procuraria comigo, pois, como Hunter, eu jamais abrigaria um vampiro em minha casa. Então, na noite em que o feitiço foi feito, a memória de Yuuki foi apagada e ela foi deixada onde eu pudesse encontrá-la quando acordasse. Mais tarde, nessa mesma noite, Rido foi atrás de Yuuki novamente, mas não a encontrou. Procurou incansável pela casa, mas ninguém mais a habitava, apenas um corpo morto, caído ao canto de uma sala grande. Quando se aproximou, viu que era Juri caída ali e não soube o que fazer. Logo, Kaname e seu pai voltaram e, juntos travaram uma batalha contra Rido que foi gravemente ferido e teve seus braços e pernas arrancados por Kaname, mas não antes de arrancar o coração de Haruka, dizendo que poderia morrer, mas levaria consigo o homem que destruiu seus sonhos, roubando o amor de sua vida e os filhos que poderiam ter sido seus. Kaname achou pouco matá-lo por isso. Queria fazê-lo sofrer, então, mutilou o tio o máximo que pôde e fez com que suas partes fossem espalhadas por todo o planeta. Depois disso, Kaname veio me procurar e saber do bem estar da irmã e desde então, ele tem acompanhado seu crescimento e olhado por ela às escuras.

Zero não podia acreditar no que estava ouvindo. Então Yuuki era realmente um sangue-puro. Não porque Kaname a havia transformado, mas porque ele só adiantou o que seria inevitável. Ele se sentiu enganado e humilhado, mas não era culpa de Yuuki. Ela também não sabia o que era.

– Mas porque Kaname queria levar Yuuki daqui? – perguntou.

– Kaname suspeita que Rido conseguiu, de alguma forma, juntar suas partes e teme pela vida de Yuuki. Então resolveu levá-la e escondê-la. E também.. – ele fez uma longa pausa – porque ele pretende casar-se com ela.

As palavras foram como um tapa na cara de Zero. Ele não aceitaria isso de forma alguma. Não poderia perder Yuuki assim. Não depois daquela noite que tiveram. Não depois de ele ter finalmente confessado seu amor.

– Vou procurá-la! – ele começou – Nem que demore cinqüenta anos! Vou encontrá-la!

– Já disse! – Kaien rebateu – Ela não foi obrigada!

Zero baixou a cabeça, com raiva e saiu da sala.

– Zero-kun! – o diretor chamou, antes que o perdesse de vista – Isso é para você! – e estendeu-lhe um envelope azul. – Yuuki pediu que lhe entregasse.

Ele pegou o envelope e voltou para seu quarto. Jogou-o de lado e deitou-se na cama, fitando o teto pensativo.


NA MANSÃO KURAN, JÁ DE NOITE

A mesa era repleta de gostosuras. Yuuki, que acabara de sair do banho e fora para a sala de jantar, mal sabia por onde começar e se sentia incomodada. Kaname a observava, com uma taça de vinho na mão.

– Coma um pouco, Yuuki. – disse ele.

Ela o olhou, envergonhada, pegou um pouco de salada e uma taça de vinho. O resto do jantar foi silencioso. Depois de terminado, dirigiu-se à biblioteca e começou a procurar algo que lhe interessasse. Encontrou um livro grande, com uma capa esplendorosa, pegou, sentou-se numa poltrona e começou a lê-lo. Após alguns minutos, sua vista foi embaçando, as palavras foram entrando umas nas outras e logo ela se pegou no mundo dos sonhos. Havia dormido.

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