Escolhas

Noite Estranha

Yuuki POV's

Acordei com uma risada de criança, parecia que ela acabara de passar correndo por mim, era uma risada feliz, ela estava brincando. Levantei a cabeça devagar pra ver quem estava ali, mas não havia ninguém. Olhei novamente em volta e percebi que ainda estava na biblioteca.

– Que droga! Peguei no sono. – disse pra mim mesma. – Preciso ir para o quarto, ainda quero dormir.

Afastei o livro que lia até dormir e me levantei. Andei até a janela e olhei pra fora. Não era pôr do sol, mas o céu estava vermelho. Era lindo. Eu admirava o céu quando ouvi a risadinha outra vez. Virei depressa, mas não foi o suficiente, a criança já havia saído da biblioteca, ainda pude ver quando sua mãozinha puxou a porta. Fui atrás. Não sabia que havia crianças na mansão.

– Quem está aí? – perguntei mais pra não me sentir sozinha. A mansão estava tão escura. Não me lembrava de ser assim. – Quem é você?

E a criança continuava correndo, brincando pelos corredores da mansão.

– Vem brincar comigo! – Era uma garotinha. – Vem brincar comigo! – e saiu correndo mais uma vez. Ainda não consegui ver seu rosto.

Corri atrás dela, como se fosse outra criança. Até esqueci que queria dormir ainda. Descemos as escadas, passamos por uma sala e passamos por uma porta que dava nos fundos da mansão. O jardim era lindo. Logo depois da fonte, subindo uma pequena elevação, havia uma cerejeira e lá, havia um balanço. A garotinha se divertia rodando e balançando. Seus risos eram contagiantes. Ela lembrava muito a mim, quando era menor. Tão cheia de vida.

– Vem me balançar! – ela gritou pra mim. Pulei a pequena cerca depois da fonte, subi a elevação e fui até a garotinha. Brincamos bastante. Ela era linda e muito esperta.

– Qual o seu nome? – perguntei, lembrando-me que não sabia nem quem era essa menina, muito menos de onde ela havia saído.

– Shhhh.. Não posso dizer. – ela sussurrou.

– Por que não? – insisti.

– Por que é um segredo. – essa garotinha é doida, só pode. Então tentei outra vez.

– E de onde você veio? Você mora aqui na mansão?

– Eu moro aqui, agora, mas não vim daqui. Eu vim de longe. – ela parecia dar o mínimo de informação possível. Será que não confiava em mim?

– E onde estão seus pais? – essa ela teria que me responder direito.

– Não sei onde está o meu pai, mas a minha mãe, que é uma moça muito boa, está aqui comigo. Ela está dormindo. – ela sorriu.

– E ela não se preocupa de você sair pra brincar a essa hora?

– Não sei... – ela balançou a cabeça, confusa, olhando pra mim.

Foi quando olhei em seus olhos e percebi que havia algo nela que fazia meu coração disparar. Seus olhos eram lindos. Cor de ametistas. Aquela cor já me encantara uma vez. E brilhavam como se nada a pudesse fazer infeliz. Por um instante eu me lembrei que eu não estava feliz. Começamos a conversar sobre várias coisas que gostávamos e o que nos deixavam felizes, ela me disse que não conhecia muita coisa ainda, porque nunca saía de casa, mas que um dia ela iria sair, com certeza e adoraria ver o mundo.

– Quer saber de uma coisa? – ela começou – Eu sonho todos os dias com um homem bonito. Queria tanto que ele existisse. – ela sorriu – No meu sonho, eu estou andando numa floresta e tropeço numa pedra, então esse moço aparece, me pega no colo e diz que tudo vai ficar bem, aí ele dá um beijo no meu machucado e fala que logo irá melhorar, depois brincamos juntos e nos divertimos muito. No final do sonho, ele fica triste e vai embora, mas antes de sumir na escuridão da noite, ele olha pra mim e diz "Não se preocupe, vamos nos ver novamente" – ela tentou imitar uma voz masculina – e então ele vai embora.  – ela fez uma pausa – Eu sonho isso todos os dias. Eu fico triste por esse moço não existir, não sei nem mesmo o seu nome, mas fico feliz, porque sei que quando a noite chega e eu vou dormir, ele vem me visitar no sonho.