Como Tudo Termina

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– Precisamos conversar, Zero. Só nós dois. – Yuuki parecia falar sério, então recostei numa árvore qualquer e revirei os olhos, entediado.

– Não temos nada para conversar.

– Sim, temos. Muito. – ela se aproximou aos poucos.

– Não precisa se aproximar. Eu escuto bem. Pode falar daí mesmo.

– Por que não quer que eu me aproxime?

– Eu não te conheço. Não sei o que pode tentar fazer e eu não quero atirar em ninguém que não esteja na minha lista.

– Como não me conhece? – ela me olhou triste – Sou eu, Zero, a Yuuki que sempre esteve com você, sua amiga, sua irmã.

– Não, você não é. – eu disse duro – A Yuuki que eu conhecia, morreu há muito tempo.

– Claro que não. Ainda sou eu, Zero. Eu não mudei. Eu...

– Me poupe da sua conversa fiada! – interrompi – Diga logo o que quer, porque preciso voltar para casa.

Ela me encolheu os ombros e fechou os olhos. Notei que uma gota teimosa saía do canto dos olhos, mas ela não disse nada. Parecia pensar. Alguns segundos se passaram, mas pareciam horas. Eu queria mesmo ir embora. Estava cansado e minha filha faria um escândalo se eu demorasse demais.

– Bom, se não vai falar nada... – me virei e comecei a andar em direção à moto.

– Espere! – ela gritou, me fazendo parar, mas não me virei. Quando ela reparou que eu não disse nada, continuou – Amai é sua filha.

Um zunido tomou conta dos meus ouvidos e meu corpo estremeceu. Não consegui me virar nem falar nada. O que foi que ela disse? Eu acho que não posso ter ouvido direito. Ela realmente disse que sua filha mais velha, também é minha? Não pode ser. Ou pode? Aquelas palavras ficaram ecoando na minha mente e eu me peguei fazendo contas, afim de descobrir se o que ela estava dizendo tinha algum fundamento. Amai era apenas alguns meses mais velha que os gêmeos e eu engravidei Ruka poucos meses depois que Yuuki havia ido embora com Kuran. Então... é possível que...

Imediatamente me lembrei dos olhos da menina Kuran. Kaname e Yuuki são irmãos e ambos tem olhos castanhos. Portanto, acredito que seus pais também tinham olhos da mesma cor. O filho intrometido, mais novo, também tem os olhos dos pais. Apenas a garota adolescente tem os olhos de cor diferente. Lilases. Como os meus.

– Por que está me dizendo isso? – perguntei ainda sem me virar.

– Desculpe, Zero. – ela disse – Eu deveria ter lhe escrito uma carta, contando tudo antes, mas Kaname não ficaria feliz com isso. Não quero que faça nada nem que conte a Amai que Kaname não é seu pai verdadeiro, pois nunca dissemos a ela e prefiro que continue assim. Eu só contei a você, porque não agüentava mais viver com esse segredo. Ainda mais agora que ela viverá na Academia, tão perto de você.

– Você não me contou que eu tinha uma filha, porque Kaname não ficaria feliz? Foi isso mesmo que você disse? – dessa vez eu a olhava incrédulo.

– Sim, mas não entenda errado, eu apenas... – antes que ela pudesse terminar, eu a segurei pelo braço e olhei diretamente nos olhos dela.

– Você realmente não é a Yuuki que eu conheci. – franzi o cenho – Não é a Yuuki que um dia eu amei. Não é a Yuuki que eu queria ter ao meu lado. – fiz uma pausa e afrouxei minha mão de seu braço devagar, mas não quebrei o contato visual. Ela escutava tudo com visível espanto e seus olhos estavam marejados – E não se preocupe, Kuran, não chegarei nem perto de SUA filha. Eu já tenho os meus pra me ocuparem.

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