A irmã perdida (Sou Luna temporada 4)

Capítulo XLIV - Os pais de ontem, hoje e amanhã.

Uma das outras cartas escondidas nas garrafas que Kara e Mist ajudaram a encontrar conta sobre a história de um trisavô de Luna e Sol, Rodrigo Villar Benson. Trata-se de uma mensagem ainda mais antiga, que remonta aos anos 1930, mais precisamente a 1935. Anos antes, Rodrigo Benson se casou com uma jovem dama da alta sociedade portenha, Lucila Hernández Urquiza, e com ela teve sete filhos ao todo. Todos eles criados no ambiente da opulenta mansão Benson, que foi construída em Buenos Aires na virada do século XIX para o XX, durante o período da Bélle Époque portenha, com arquitetura baseada no estilo art nouveau francês, muito em voga na época. Na ocasião, materiais foram trazidos da Europa para construir a mansão, incluindo lustres franceses, vitrais e mármore italiano, madeiras alemãs e espanholas e poltronas holandesas. O que mostra que a família Benson tinha uma riqueza considerável já no crepúsculo do século XIX. E quando a mansão foi inaugurada, uma grande festividade foi feita para isso, na qual a nata da sociedade portenha se reuniu, incluindo políticos das principais forças políticas argentinas da época, empresários, fazendeiros, veteranos da campanha do Deserto (expedição militar levada a cabo entre 1878 a 1885, com o intento de conquistar os povos nativos da Patagônia) e até mesmo ministros do governo argentino, a época comandado pelo presidente Julio Argentino Roca (presidente da Argentina entre 1898 a 1904, pelo Partido Autonomista Nacional).

Quando sua esposa Lucila teve sua quarta gravidez, nasceram do ventre dela duas filhas gêmeas, Silvia e Luzia, e no fim das contas Rodrigo e Lucila escolheram a segunda, enquanto que a primeira foi abandonada em um bosque. No fim da vida deles, os dois sentiram um remorso muito forte pela decisão que tomaram e escreveram tal carta que foi devidamente enterrada até Mist a encontra-la.

Kara ainda achou uma carta do primeiro dono da mansão Benson, o senhor Edgar Urquiza Benson (1864 – 1928). Os Benson, desde que se estabeleceram em Buenos Aires e ascenderam socialmente durante a segunda metade do século XIX, sempre se casaram com integrantes da alta sociedade portenha. E o primeiro dono da mansão Benson não foi exceção. Ele também se casou com uma dama da alta sociedade portenha, Fernanda Cristina Valdez, e nos anos 1900 foi um dos fundadores do Boca Juniors, um dos mais tradicionais clubes de futebol portenho, hexacampeão da Copa Libertadores da América e tricampeão da Copa Intercontinental (obs: Copa Intercontinental e Mundial de clubes da FIFA NÃO SÃO A MESMA COISA). No fim da vida, Edgar Benson tornou-se admirador de Benito Mussolini e do estado fascista italiano.

Edgar Urquiza Benson e Fernanda Cristina Herrera de Benson juntos tiveram seis filhos, e na terceira gravidez tiveram dois filhos gêmeos, que receberam os nomes de Alberto e Ricardo. O escolhido foi o segundo, enquanto que o abandonado foi o primeiro. Essa carta foi escrita nos últimos anos de vida de Edgar Benson, mais precisamente, em 1925, e seu conteúdo em essência é o mesmo das outras descobertas pelas cadelas de Luna e Sol. As outras cartas também têm conteúdo essencialmente idêntico ao dessa e das outras, apenas mudando as pessoas que as escreveram e as datas em que foram escritas, todas elas datadas do século XX.

Enquanto isso, todos, desde os pais de Sol até Matteo, Simón e Âmbar, se deliciaram com os quitutes mexicanos preparados por Miguel e Mônica. Mais uma vez, a mãe de Mônica mostrou a todos que ela é uma ótima cozinheira e quando o assunto é comida típica mexicana, ela é especialista. Enquanto os pais de Luna conversavam com Ruslan e Helena, estes contam algo no mínimo inusitado: sobre um sonho que tiveram com os pais de Sol e Luna. E que nele se encontraram também com Miguel e Mônica. "Sério? Pois também sonhamos com vocês e com os pais da Luna na última noite", diz Mônica. "Então deve ter sido o mesmo sonho que tivemos", diz Ruslan.

SONHO

Ruslan e Helena sonham que estão no Roller. "Então aqui é o Roller de que a Luna tanto fala, parece ser um lugar bacana", diz Helena. "E essa parece ser a pista de patinação do Roller", diz Ruslan. Enquanto Ruslan e Helena andam pela pista do Roller, surgem seis feras listradas, duas adultas e quatro filhotinhos. E eles revelam se tratar de Grom, Zoluška e as quatro crias deles, que já têm alguns dias de vida. "Grom, Zoluška, mas que surpresa encontra-los por aqui! E ainda com os filhotinhos!", diz Helena. Ruslan então faz algumas carícias no tigre que ele mesmo criou nesse tempo todo, enquanto Zoluška cuida das crias dela com todo o zelo do mundo.

Nesse exato momento, as crias de Grom e Zoluška enfim abrem os olhos pela primeira vez. "Veja só Helena, os filhotinhos abriram os olhos!", diz Ruslan. "E como são lindos os olhinhos deles, Ruslan", responde Helena. Após abrirem os olhos, os filhotes mais uma vez vão mamar nos seios da mãe. De repente, surge na cena os pais de Luna, Miguel e Mônica. Os dois rapidamente se apresentam. "Olá, Ruslan, olá Helena", diz Miguel. "Mas que surpresa encontra-los por aqui, Miguel e Mônica!", diz Ruslan. "A honra é toda nossa", diz Mônica. Miguel e Mônica ficam encantados de verem os filhotes de Grom e Zoluška, e invariavelmente acabam se lembrando de quando a Mist ainda era uma filhotinha.

Conversa vai, conversa vem, até que de repente o cenário é coberto por uma névoa. À medida que a névoa se dissipa, duas figuras aparecem na frente dos pais de Luna e de Sol e de Grom e Zoluška. Eles são ninguém menos que Bernie e Lili, os pais biológicos de Sol e Luna!

"Olá a todos os presentes aqui", diz Lili. "Vocês devem ser...", diz Miguel. "Os pais biológicos da Luna e da Sol! Pelas fotos que nós já vimos deles, só podem ser eles", diz Mônica. Dessa vez, Lili e Bernie aparecem no sonho com os corpos deles intactos, antes de serem queimados pelo incêndio que ceifou as vidas deles. Grom e Zoluška de início mostram os dentes para cima de Lili e Bernie e até ameaçam rugir, mas no fim não passou de uma ameaça. A energia angelical emanada pelos dois consegue acalmar as feras listradas rapidamente, e toda a agressividade de Grom e Zoluška some como se fosse um passo de mágica. A tal ponto que Zoluška aceita ser acariciada por Lili e Grom por Bernie, e a própria Zoluška deixa que seus filhotes sejam acariciados por Lili.

"Mas que tigrinhos lindos esses! Parecem uns gatinhos fofinhos, né Bernie", diz Lili. "Como o Mime, aquele gato persa que eu tive quando ainda era criança", diz Bernie. "Só que esses gatinhos não são que nem o teu gatinho de estimação. Esses um dia serão feras com mais de 200 quilos e capazes de matar um ser humano com a maior facilidade do mundo", diz Ruslan. "Então é você, o pai adotivo da nossa filha Luna", diz Lili. "E vocês dois devem ser os pais biológicos da Sol e da Luna", diz Helena. "Sim, somos nós", diz Bernie. "Nós lemos a carta que vocês escreveram poucos dias antes de virem a óbito, na qual expõem o que sentem sobre a filha que vocês abandonaram", diz Ruslan. Ruslan e Helena contam aos pais biológicos de Luna e Sol que se emocionaram com o agradecimento contigo na carta. "Para quem criou uma filha adotada, não há nada mais gratificante que o reconhecimento e o agradecimento dos pais biológicos por tudo o que fez", diz Ruslan. "E nós também tivemos essa mesma sensação quando lemos a carta", diz Mônica. "Apesar do fato de termos criado a escolhida de vocês, isso não muda o fato de que nós sentimos como se a carta também tivesse sido endereçada a nós e tal qual o Ruslan e a Helena também sentimos a mesma gratificação que sentimos", diz Miguel.

Ao olhar para os filhotes de Grom e Zoluška e esta os criando com todo o zelo e dedicação do mundo, Bernie e Lili começam a chorar. Invariavelmente, eles se lembram do fato de que tiveram duas filhas gêmeas e abandonaram uma delas por conta de superstições tolas que no fim das contas não impediram que a mansão Benson sofresse um terrível incêndio. E pedem encarecidamente para que tanto Ruslan e Helena quanto Miguel e Mônica não cometam o mesmo erro que cometeram há muitos anos e que criem os filhos com o mesmo carinho e zelo com que Zoluška e Grom criam os filhotes deles. O mesmo zelo que Ruslan e Helena tiveram para criar Sol e Grom, Miguel e Mônica para criar Luna, Luna para criar Mist e Sol para criar Kara. O quarteto faz uma promessa aos finados Lili e Bernie de que darão tudo de si para criar as crianças vindouras. "Tenho certeza que vocês não vão falar conosco", diz Lili. E assim termina o sonho em que os pais de ontem, os pais de hoje e os pais de amanhã se encontram todos juntos.

FIM DO SONHO