Capítulo LXXII - A decisão a ser tomada e o preço a ser pago (parte III)

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Horas mais tarde, Luna vai ao Roller, e na hora do treino Juliana pede satisfações da parte da morena. "Ora, ora, veja só, quem está ai, aquela que faltou ao ensaio para poder ver as irmãzinhas nascerem. Que comovente", diz a instrutora Juliana, zangada com o fato de que Luna faltou no dia de ontem. Luna então responde que se tivesse ido ao ensaio os pais dela jamais a perdoariam.

"Luna, eu entendo que esse é um momento muito importante para a tua família, mas você irá para uma competição em uma semana e meia, e dessa forma não posso tolerar esse tipo de atitude da tua parte", diz Juliana. Luna então contra-ataca e pergunta a instrutora o que ela faria se estivesse numa situação similar à dela. E Juliana nem sabe responder à pergunta de Luna. Até que das cadeiras uma voz é ouvida. Mais precisamente, a voz de uma velha conhecida de Juliana, dos tempos em que ela ainda era uma aspirante a patinadora no Brasil. E ela, literalmente, espalha certas coisas no ventilador.

"Juliana, não seja boba, vai! você fez a mesma coisa que a tua pupila fez hoje! Eu me lembro muito bem daquela ocasião, de como a nossa instrutora ficou uma fera contigo", diz a pessoa em questão, que ouviu atentamente a conversa entre instrutora e pupila. Juliana não tem outra escolha, a não ser apresenta-la a seus pupilos. "Pessoal, essa é a Mariana Almeida de Oliveira. Ela foi minha colega de patinação lá no Brasil, era uma das minhas melhores amigas daquela época e veio aqui me fazer uma visita. Digam olá a minha velha amiga Mariana!", diz Juliana. Mariana (que é instrutora de patinação no Brasil e que está passando uns dias de férias em Buenos Aires – assim aproveitando a estadia na capital argentina para ver a velha amiga que não vê há muito tempo) após responder ao olá dos pupilos de Juliana, então começa a contar uma história de 30 anos atrás. Uma longa história do tempo em que Juliana ainda era Marisa Mint.

30 ANOS ATRÁS

À época, Marisa Mint era uma aspirante a patinadora de 16 anos de idade da cidade de São José dos Campos. Era pupila da instrutora Helena dos Santos Prado, uma das mais renomadas do sudeste do Brasil, e ensaiava sob os cuidados dela em uma das principais academias da cidade. E, bem naquela época, Juliana ensaiava junto com seus companheiros de academia para uma competição que teria lugar em São Paulo uma semana e meia mais tarde, na qual estiveram presentes patinadores de várias partes do país.

Concomitantemente, os pais dela estavam esperando mais uma criança, que com o tempo descobriu-se tratar de uma garota. Os pais de Marisa a batizaram de Fernanda. Com o nascimento da caçula Fernanda, Juliana terá ao todo quatro irmãos. E o dia em que a criança veio ao mundo aconteceu a poucos dias antes do início da competição. E, para piorar ainda mais as coisas, bem na mesma hora do ensaio.

De bom grado, Marisa resolveu faltar do ensaio e acompanhou os pais e os irmãos no hospital, onde viu a irmã caçula Fernanda nascer. Entretanto, uma pessoa não gostou nem um pouco da falta de Marisa Mint ao ensaio: a dona Helena dos Santos Prado. No dia seguinte, Marisa compareceu ao ensaio, e tomou uma bela de uma bronca da instrutora Helena. "Como pode, Marisa, você querer participar de uma competição importante e de repente faltar do ensaio! Isso é o tipo de coisa que não posso tolerar!", diz a instrutora. Marisa então responde que se não fosse com os pais ver o nascimento da irmã, estes jamais a perdoariam, além de ser uma indelicadeza muito grande da parte dela. "Quer dizer então que para você é mais importante ver o nascimento da irmã que ir ao ensaio? Francamente...", responde a instrutora.

As duas ficaram discutindo por vários minutos, até que Mariana interveio e acalmou os ânimos entre as duas partes, dizendo que essa era a hora de ensaiar e não de discutir. A senhora Helena deixou que Marisa treinasse no ensaio de hoje, com a condição de que não faltasse mais nos próximos. Condição essa que Marisa, obviamente, concordou. Afinal, a irmãzinha dela já nasceu e já não irá mais precisar ir ao hospital de novo tão cedo. E o resto é história.

FIM

No fim, Juliana, depois de ouvir a história vinda da velha amiga, resolveu baixar a bola, e admitiu aos pupilos que, de fato, fez outrora a mesma coisa que Luna fez hoje. Também conta que jamais irá esquecer-se da bronca que tomou da instrutora Helena na ocasião. Entretanto, pede à sua pupila favorita a mesma coisa que a instrutora Helena pediu a ela na ocasião: que não falte nos próximos ensaios. Luna obviamente concorda com a condição.

Foi um ensaio e tanto. E algo que saltou aos olhos tanto de Juliana quanto de sua velha amiga Mariana foi o desempenho de Luna. Ela estava mais inspirada e mais enérgica do que nunca. A sinergia dela com Matteo, os passos dela, a agilidade, parecia que ela estava flutuando na pista de patinação.

Ao término do ensaio, a instrutora resolveu perguntar à pupila o motivo pelo qual ela estava tão inspirada no ensaio de hoje. Luna explica às duas que talvez seja pelo fato de que ela, depois de ter sonhado com o herói favorito dela e dois artistas marciais que ela muito estima, decidiu qual será a resposta que ela dará aos tios. "E o que eles querem que você faça?", pergunta Mariana. Luna então coloca as duas a par de tudo. As duas velhas amigas apoiam a decisão de Luna. Elas concordam com Luna que o lugar das duas garotas é a mansão Benson e que as superstições nas quais os tios dela acreditam não passam de tolices sem fundamento algum na realidade.

"Luna, você é uma garota incrível. E está tendo um momento incrível na tua vida. Pode ter certeza que você será a melhor irmã do mundo que a Marisol e a Safira poderão ter e que sairá muito bem no Roda Fest em Acapulco", diz Mariana. Mariana também revela à Luna que ela é um grande fã dos seriados Chespirito, e conta sobre o sucesso das criações de Roberto Gomez Bolaños no Brasil.

Enquanto que os países de língua espanhola da América do Sul conheceram as obras de Chespirito ainda nos anos 1970 (com direito a turnês reunindo o elenco das séries por todos eles), apenas em 1984 que elas chegaram à antiga América Portuguesa. Em grande medida graças a uma excelente e competente dublagem feita nos estúdios da finada Maga, Chaves e Chapolin, veiculados no SBT, repetiram no Brasil o sucesso que fizeram nos países de língua espanhola. O sucesso foi tamanho que os seriados foram exibidos por mais de 30 anos ininterruptos na TV brasileira e conquistaram fãs de várias gerações.

Ao fim do ensaio, Mariana e Juliana contam a seus pupilos histórias do tempo em que ainda eram aspirantes a patinadoras e treinavam sob os cuidados da instrutora Helena. Elas lembram que a instrutora Helena era um doce de pessoa fora do ringue, e ao mesmo tempo na hora dos ensaios era bem rígida e exigente com os alunos, vide o já citado episódio de quando a irmã caçula de Juliana nasceu. Mariana também se lembra de uma vez em que um dos colegas dela na ocasião teve que pagar 30 flexões por conta de indisciplina durante o ensaio. "E o pior é que ele teve que fazer 30 de uma vez só, sem paradas", responde Juliana, que lembra que ela também era muito exigente no que diz respeito ao preparo físico de seus pupilos. Elas também se lembram das festas e competições que elas fizeram juntas à época. E os pupilos de Juliana, obviamente, se deliciam ao ouvir tais histórias de muitos anos atrás.

Invariavelmente, ao lembrar-se da instrutora Helena, hoje uma senhora de 70 anos de idade, Juliana se lembra com muito carinho dela e diz que à velha Helena deve não apenas tudo o que sabe como patinadora, como também foi graças a ela e aos ensinamentos dela que chegou ao ponto ao qual chegou. E diz orgulhar-se muito de tê-la tido como instrutora de patinação, como também se inspira em muito da didática dela para conduzir os ensaios. Resumindo a ópera, um belíssimo sentimento de reconhecimento e gratidão por tudo que ela aprendeu com aquela que a iniciou no mundo da patinação artística. Percebe-se que Juliana, a despeito dos altos voos que deu ao longo de sua vida, jamais se esqueceu de onde veio, do seu ponto de partida na distante São José dos Campos.

A irmã perdida (Sou Luna temporada 4)Onde histórias criam vida. Descubra agora