Bem Vindo

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Eu não dirigia e também como minha irmã disse não andava de ônibus, e as raras vezes que andei fui obrigado, mas por opção nunca era uma opção. Eu também não gostava de Uber embora fosse minha única opção eu sempre tinha medo de andar com desconhecido e as vezes aquilo atacava minha ansiedade.
Samir me deu as costas, mas deu meia volta.

— Uma carona?

— Não obrigado. Vou de Uber, já estou pedindo.

— Agora que sei que fica ansioso quando anda de Uber... Me deixa ao menos te levar para casa?

— Quem disse que vou para casa?

— Ah, então agora você tem um encontro?

— Tudo bem! — falei irritado.

Samir era tão irritante que brigávamos feito um casal.

— Tudo bem!  — falei mordendo os dentes.

Fomos até o seu carro que estava no estacionamento.
Entramos no carro e eu coloquei o fone de ouvido, não queria ouvir nada eu queria só me distrair com alguma música eu não sei, aquilo sim me acalmava.
Houve um tremendo silêncio, mas não durou cinco minutos, o telefone dele tocou, notei ele atender mas ouvindo música não prestei atenção no que ele falava. Dirigir no celular é um absurdo, aquilo também me dava medo, mas ele não ficou muito tempo, logo desligou e falou algo comigo, tirei o fone o encarando.

— Não está vendo que estou de fone?

— Tá, então tira.

Eu o encarei meio bravo.

— Então, meu pai me ligou ele precisa de mim, não se importa se.... O restaurante dele é aqui perto.

— Tanto faz — retorqui — Eu devia ter pego um Uber, pego um Uber de lá.

Ele me olhou meio irritado, e fez um curva acentuada como se mudasse de direção. Mais silêncio, e finalmente ele parou o carro no meio fio de uma estrutura meio barroca, o restaurante com um requinte de casa e comida caseira estrangeira. Eu desembarquei do carro já pegando o celular para pedir o Uber.

— Vamos lá dentro — ele falou — Não da para ficar aqui fora moscando com o celular.

Ele tinha razão, odiava pensar que ele tinha razão, então entramos no Pedacinho da Arábia, e não havia muitas pessoas, pareciam estar fechando o local ou algo assim, havia apenas uma família perto do caixa um homem uma mulher e duas crianças, o chão era preto e as mesinhas pretas de assento nas cadeiras vermelhas que se destacavam, havia ornamentos e por um instante parecia que eu havia entrado num portal para outro país, eu nunca havia entrado um restaurante árabe, era bem bonito do lado interno, mais do que o lado externo, tinha bastante enfeite, bastante coisas interessante eu diria.
Fui seguindo Samir, modo curioso e olhando tudo, havia um caixa e uma garota no caixa essa era bem novinha, ela sorriu para Samir quando ele passou, passamos por um balcão e nesse balcão havia uma fenda retangular sem vidro, onde havia dois cozinheiros do lado de dentro, um senhor e uma garota que estava meio escondida com aqueles véus que as mulheres usam na cabeça.

Habib, ainda bem que está aqui — disse o senhor.

— Esse é meu pai, ele fala meio enrolado — Samir falou a última frase baixinho quase cochichando em meu ouvido — Se não entender finja.

Baba, esses é meu amigo Adriano! — me apontou

— Bem vindo Adriano, já estamos fechando você fica para o jantar! Amigo do meu filho é meu amigo também — ele falou num sotaque engraçado mas eu não ri. — filho a porta emperrou de novo.

— Ah, que bom que está aqui, arrume a porta e vem ajudar falta só servir aquele casal. — disse a mulher escondida no véu

— Samia eu não vim cozinhar. — respondeu Samir

— Ah sim você fará o jantar com o babi, não eu.

— Filha sem brigar com seu irmão — riu — Vá arrumar a porta se não entrará mais clientes.

Samir deu meia volta e o acompanhei confuso.

— Não se importa se pedir seu Uber depois né? — ele falou — Já está fechando, eu só vou fechar a porta e falta só um cliente. E... Bom meu pai faz questão.

— Tudo bem — falei com receio de negar.

— Eu te levo para casa.

— Tá...

Fomos até a porta de entrada, que era aquelas portas que abre em duas bandas e depois uma de rolar, dessas de bar, ou de garagem. Ele puxou a de rolar e estava empresa, fez força e nada da mesma descer.

— Porra! — disse ele

Em seguida me deixou ali plantado, cancelei o Uber mesmo contra minha vontade, retornou lá dentro e voltou sorrindo com um martelo.

— As vezes tenho vontade de dar com um desses na sua cabeça — ele disse balançando o martelo

Subiu em cima de uma cadeira para alcançar o alto, isso por que ele já era bem alto. Bateu aqui e ali, e a porta desceu com tudo, dei um passo para o lado assustado com o estrondo.

— Ótimo, estourei a correia — riu

— E agora?

— Pelo menos hoje o restaurante está fechado, agora para abrir amanhã vai ser uma luta — riu — mas eu vou arrumar sempre falo que vou e nunca arrumo...

Ele travou a porta com as travas de segurança, e uma chave depois ele fechou as de vidro a trancando também, e havia um desenho nela como se fosse uma mandala.

— E os clientes?

— Ele saem pela porta dos funcionários. Meu pai não faz o jantar, a essa hora todos os cozinheiros já foram embora, mas sempre chega alguns conhecidos depois do horário e sobra para mim ou para minha irmã — explicou Samir — Mas eles levam para viagem

Retornamos até a cozinha, Samia saia da cozinha com um pedido em três Marmitex de isopor empilhadas uma sob a outra.

Sobre mentir e amarOnde histórias criam vida. Descubra agora