Em pé

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Ele me soltou e virou um pouco seu corpo para cima.
Houve um silêncio, a respiração de Samir ficou densa, e eu que pensava que ele havia adormecido fui surpreendido pelo timbro encorpado de sua voz de sono.

— Bom... — começou ele — Eu tenho um amigo, quer dizer minha irmã tem — me virei na cama um tanto confuso, e me ajeitei cuidadosamente com a cabeça em seu ombro para o olhar. Ele coçou a barba e me olhou, depois desviou o olhar para o teto. — Uma vez ele desabafou comigo, o nome dele é Levi, ele era casado com o Italo, acontece que ambos eram um casal que se davam superbem, bem amigos... mas Levi o traiu.

— Samir... — falei baixinho confuso.

— Eu sei, eu sei — ele me interrompeu — Mas eles se amavam e... de repente Levi disse a mim que já não via mais ítalo como o cara que casou, que se apaixonou, mas ainda amava ítalo, Levi teve muitos problemas por isso, por que no fundo dele não queria ser traidor, ele não queria ter feito aquilo, ele tentou e... merda.

Eu beijei o ombro de Samir e o apertei. Respirei fundo.

— Desculpa por não conseguir te dar a garantia de que seremos eternos.

Ele sorriu.

— Queria não sentir isso tudo por você, essa é a verdade. Eu não sei... eu... falhei.

Agora eu mordi de leve seu ombro.

— Você está pensando de mais Samir. — expliquei.

— Eu sei, Adriano eu estou morrendo de medo de... sei lá. De não ser o que eu quero, de não ser bom para você, de... Não durar, de... você partir igual a minha, minha mã...

— Shhh — fiz para ele.

Me ejetei na cama e o puxei para mim, acho que ele quem merecia um colo, ele deitou a cabeça em meu peito em silêncio e me braços enquanto eu acariciava seus cabelos curtos.
Eu não sei como é perder a mãe, perder o Jonathan que era meu ex marido não é igual a perder alguém que... bom "todo mundo tem", uma mãe. Minha mãe é uma mulher difícil, brava, irritante, as vezes narcisista, as vezes cuidadora, superprotetora, as vezes psicopata, neurótica.... minha mãe é um pouco de tudo para mim.

— Você deve sentir muita falta dela, não é?

— Sim — murmurou baixinho — Muita, como meu pai ficou arrasado, eu... tenho medo de um dia ficar igual a ele ficou.

— Eu não entendo você, por que não posso entender como é perder a mãe, mas um dia eu vou perder a minha, não de uma maneira trágica ou talvez sim eu não sei... e bom... você vai cuidar de mim quando isso acontecer. Mas espero que seja daqui muitos anos... e talvez eu compreenda sua dor ainda melhor.

Ele deu um riso.

— Você não é nada bom com conselhos, cê é muito duro, credo, tu tem sentimentos aí? — falou ele

Eu ri.
Ele riu.

— É, é que... bom as vezes sou mais racional, é por isso que sou inteligente, e tenho um QI alto. Logicamente inteligente — expliquei mas ele não pareceu interessado. Respirei fundo tomando um fôlego — Desculpa não saber dizer coisas fofas.

— Não, isso é ótimo, é ótimo ouvir você dizendo essas coisas. Mostra que você é humano, sincero, acho que foi isso que me fez se apaixonar por você. Você não fica fantasiando como se nada fosse acontecer, pelo contrário tudo em você é uma probabilidade.

— É, espera até me ver irritado e ouvir as merdas que falo por ... por não pensar nos sentimentos dos outros ou não conseguir ler sentimentos nos outros ou sei lá... provavelmente vou te chatear muito nesse namoro.

Sobre mentir e amarOnde histórias criam vida. Descubra agora