Dois Príncipes - Drarry

O casamento

Em um primeiro momento os olhos azuis acinzentados não conseguiram focar em nada. Por um instante parecia que tudo não passara de um pesadelo ruim e que, mais cedo ou mais tarde, um dos criados do palácio de Monte Cristo iria entrar pela porta e abrir as cortinas deixando a luz forte do sol da manhã entrar e invadir o quarto.

A luz iria refletir na penteadeira de prata que brilharia de forma a cegar qualquer um que se atrevesse a olhar diretamente para ela. O criado iria lhe desejar bom dia, como eles sempre faziam desde que ele era uma criança, e depois iria se recolher dizendo que o rei Lucius e a rainha Narcisa o aguardavam para o café da manhã.

Infelizmente, para Draco Malfoy, tal rotina havia muito se transformado em lembrança e o príncipe se deixou aceitar, depois de mais uma vez ao acabar de acordar, que não estava mais em seu reino e sim no reino vizinho, Monte Carlo.

Pior do que isso, era a manha do dia de seu casamento. Um dia que iniciaria uma nova etapa na sua vida e na vida do noivo que tão arduamente ignorava havia pelo menos pouco mais de uma semana. O loiro suspirou, se sentindo miserável, e se deixou levantar sentando na cama.

Olhou em volta como sempre fazia todos os dias desde o primeiro que acordara naquele quarto que já não era mais tão estranho para si. Era um quarto de hospedes simples mas espaçoso, com grandes janelas e uma escrivaninha. O príncipe dormia em uma cama de casal mas esta estava longe da suntuosidade daquela que ainda estava lá, em seu quarto, no reino de Monte Cristo.

Era um quarto temporário. Logo após o casamento, como já haviam lhe informado, ele se mudaria para um quarto maior e mais luxuoso, que seria só dele. Harry também teria o próprio quarto e, no meio dos dois quartos, haveria um enorme closet com suas roupas, sapatos e acessórios divididos de cada lado. Era uma forma de cada um dos príncipes manter a própria privacidade e ainda sim ter algum tipo de interação pois se veriam juntos todos os dias no aposento do meio.

Draco, inicialmente, estranhou a ideia por pura falta de experiencia. Seus pais sempre dormiram no mesmo quarto e, é claro, dividiram o closet. No fim, porém, o loiro simplesmente aceitou que em Monte Carlo as coisas eram diferentes.

O lado triste disso tudo era o de que, depois que passara a conviver com Harry, não poderia negar para si mesmo, de forma alguma, que o estranhamento deu lugar a sensação de que a divisão dos quartos era, na verdade, um presente dos céus.

Draco suspirou mais uma vez quando um dos criados veio abrir as cortinas, lhe desejar bom dia e colocar a bandeja com seu café da manhã em cima da escrivaninha. Logo depois o criado se despediu fazendo uma reverência e saiu.

Ao longe o príncipe podia ouvir as musicas, gritos e comemorações dos plebeus pelas ruas. Estavam mais animados com o casamento como ele jamais estaria. Se levantou, ajeitando o pijama de seda verde esmeralda e se sentou para tomar o café da manhã em paz. Pelo menos, nesse dia, não haveria um Harry James Potter sentado a sua frente para ser ignorado.

Harry se espreguiçou na sua grande e confortável cama. Olhou para ela e passou a mão nas cobertas vermelhas com fios dourados. Era a ultima noite que passara no seu quarto de solteiro, na verdade, no seu quarto da vida. Aquele sempre havia sido seu quarto, desde que abandonara o berço no quarto de seus pais e passou a dormir sozinho. Tudo isso, para sua imensa tristeza, ficaria pra trás antes que o dia terminasse.

Será que sue noivo estaria tão infeliz quanto ele? Pela forma como fora tão determinantemente ignorado pelos últimos dias ele podia apostar que sim. Harry cruzou os braços no peito forte que estava a mostra e riu, um riso sarcástico e sem emoção. Ele e Draco não passavam de dois miseráveis. Dois fantoches levados, controlados pelos pais, a se juntar para um bem maior.