Namorado de aluguel

Reecontro

Gabrielle

Eu tinha acordado com péssimo humor, havia me entupido de brigadeiro a maior parte da minha noite, pouco me importando que vá tudo para a minha bunda ou que eu fique com dois quilos a mais. Afinal, eu merecia um docinho depois daquele telefonema.

A maior dificuldade da vida adulta não se resume somente a ter um emprego, pagar contas e se sustentar. Existe um outro lado nessa história, um lado desnecessário na minha opinião, mas ainda é muito importante para a sociedade que é construir uma família.

Minha família é muito sufocante nesse sentido, o fato de todas as mulheres da família terem alguém, enquanto estou solteira só aumenta a cobrança.

Como se arrumar um homem querendo relacionamento sério hoje em dia fosse fácil de encontrar virando uma esquina.

Está a cada dia mais difícil encontrar a cara metade, a metade da laranja, o grande amor da sua vida, o príncipe encantado, na verdade, a maioria dos homens hoje em dia estão mais para sapos. Não estou dizendo que nenhum queira compromisso, existem as raras exceções que buscam relacionamento sério, mas encontrar um desses é quase como ter um bilhete premiado da loteria.

Estou exagerando? Talvez mas estou com mal humor, dor de estômago de tanto chocolate e deprimida. As coisas que ela me disse pelo o telefone, me deixou irritada. A maioria foi desnecessária, ela me colocou como inferior a minha irmã, somente por ela ter um noivo.

Pensar nele me deixou com coração apertado. Trouxe memórias que eu insistia em esquecer, foi por causa disso que acabei me mudando de cidade, tentando ter um novo recomeço. No passado aconteceu coisas que sequer tenho coragem de lembrar, eu não consigo tocar nesse assunto, não agora, não nesse momento que estou tão abalada, mesmo depois de todo esse tempo ainda fico balançada por ele.

Fecho os olhos, lembrando daquela ligação desagradável.

- Alô. - Falo preocupada vendo que a ligação é dos meus pais, talvez tivesse acontecido algo ruim com eles.

- Alô querida, está tudo bem? - Ouço a voz da minha mãe, ela parecia estar alegre, então acabei me acalmando.

- Estou bem mãe e com vocês?

- Estamos todos ótimos, apesar de estarmos com saudades de você, parece que se esqueceu que tem uma família. - Ela disse mantendo um tom alegre, mas sentir uma pitada de irritação no final da frase.

- É difícil tirar férias sendo professora, é muito trabalho, só tenho férias em tempos específicos do ano.

- Eu sei disso, mas também não precisava se mudar para muito longe, até parece que saiu fugida de alguém. - Falou a última parte, fazendo eu apertar o celular com tanta força que meus dedos ficaram brancos.

- Só ligou para isso? - Pergunto soando rude demais, mordo o lábio inferior, me arrependendo quase instantaneamente. - Desculpa, isso foi grosseiro, eu não quis...

- Está tudo bem querida. Só quero saber as novidades. Como você está? Conheceu alguém? Está namorando? Quando vai casar? Engravidar? Você já está com 28 anos meu anjo, daqui a pouco vai ficar difícil, as mulheres tem fertilidade diferente dos homens, temos o tempo certo para procriar...

- Mãe! - Digo no tom a repreendendo.

- Eu quero um neto ou neta. Sua avó quer conhecer o bisneto antes de partir, ela disse que só estar faltando isso para poder morrer em paz. Ela já está com 70 anos, não sabemos quando será...

- Por que não pede um neto a minha irmã, é ela quem está noiva e não eu. - Digo soando mais amargurada do que deveria. - Eu estou solteira, sequer tenho um ficante, embora eu não saiba o quanto isso tem importância. Eu sou independente, tenho um emprego dos meus sonhos, consigo pagar minhas contas, me sustentar.