As horas pareciam se arrastar, as minhas malas estão prontas no canto da sala, enquanto fico pensando mentalmente que tudo vai dar certo, que ninguém vai desconfiar que estamos mentindo sobre o namoro, que tenho uma queda pelo o noivo, de quem venho nutrindo uma paixão doentia há anos.
Júlia me olhou preocupada, porém não a culpo, já que estou há trinta minutos andando de um lado a outro pela nossa sala de estar, estou ansiosa, nervosa demais para conseguir ficar parada.
Estou surtando pensando que posso ser descoberta, que reencontrar Bernardo desperte mais sentimentos que tento esquecer, que eu não consiga me controlar e acabe acontecendo algo que eu possa me arrepender.
- Se acalme. Você está quase fazendo um buraco no chão. - Júlia me alertou, porém eu não conseguia parar. - Para Gabi. - Ela falou se aproximando de mim, depois colocou as mãos no meu ombro, fazendo eu interromper os passos. - Ninguém vai desconfiar de nada, é só agirem naturalmente, se beijarem, mas convenhamos que beijar aquele Deus grego não é nenhum sacrifício.
- Eu estou me sentindo mal, sinto que estou pagando um cara para me beijar. - Digo mordendo meu lábio inferior constrangida.
- Se o cara for lindo igual Thales até eu pagaria. - Disse dando de ombros. - Agora pare de surtar, daqui a pouco o homem chega e você está tendo um ataque cardíaco.
- Talvez fosse isso que eu preciso, assim não vou ir ao casamento.
- Pare de dizer bobagens, você vai ficar bem, vai a esse casamento, vai exibir um homem lindo e gostoso como namorado e calar todos da sua família que te chamaram de encalhada. - Disse me dando um sorriso tão lindo, que foi impossível não corresponder.
- Você tem razão, todos os comentários deles foram maldosos dizendo que estou encalhada, que vou morrer sozinha, que sou a única da família sem um homem. - Falo amargurada.
- Pois é. - Disse ajeitando meu cabelo. - Agora você vai aparecer com o homem mais lindo que todos os caras da família, perto de Thales, todos os outros vão parecer insignificantes perto da beleza dele.
- Mas o que adianta aparecer com o homem mais lindo? Se o nosso namoro não é de verdade? Se eu não tivesse pagado Thales, ele nunca teria ficado comigo, não teria se interessado por mim, isso é deprimente até mesmo para mim. - Falo me sentindo péssima, sinto algumas lágrimas escorrerem pelo o meu rosto. - Por que ninguém se interessa por mim de verdade? Qual é o problema comigo? Será que sou tão feia assim?
- Não diga essas coisas. - Disse me segurando pela cabeça, me obrigando a encarar seus olhos verdes. - Cadê sua alto estima? Você é a mulher mais autossuficiente que já conheci, as vezes sinto que você tem tanto amor próprio que já se completou sozinha.
- Talvez eu tenha perdido minha auto estima, eu achei que amor próprio era o suficiente, mas minha família conseguiu destruir esse pensamento de mim, já que vive me obrigando a arrumar um homem, falando que preciso, que só vou ser feliz com alguém. - Respondo desabando em lágrimas.
Nesse momento a campainha tocou, mas eu sequer consigo me importar com isso, a única coisa que quero é chorar, minha cama e comer o resto do pote de sorvete que tem na minha geladeira.
Vendo que eu não me movia, Júlia foi atender, eu estou de costas para a porta de entrada, então não vejo quem é, mas posso escutar as vozes deles conversando.
- Oi, Thales. - Júlia disse com tom alegre. - Pode entrar, fique a vontade. A Gabi já está pronta, mas quero falar com ela primeiro em particular. Senta-se no sofá, já vamos voltar. - Disse segurando meu braço, me arrastando para um dos quartos.
Eu acabo olhando de relance para Thales que nos observava com expressão confuso.
Entro no quarto dela, que fechou a porta rapidamente, como se Thales tivesse desrespeitado a ordem dela e estivesse correndo na nossa direção.
Tento me recompor, enxugando as lágrimas, porém quanto mais eu passava a mão para limpar, mais lágrimas surgiam.
Julia me abraçou apertado, foi então que meus músculos relaxaram, eu dou um suspiro fundo, me acalmando, fazendo as lágrimas cessarem.
- Não pense que ele foi pago para fingir, se você ficar com esse pensamento será impossível fingir que são um casal. Só relaxe, se divirta, viva o momento, aja naturalmente e tudo vai dar certo. Tire bastante casquinha daquele Deus grego que está sentado no nosso sofá, se não é verdadeiro, então aproveite bastante cada momento que puderem passar juntos.- Mas estou me sentindo mal, se eu não tivesse pagado...
- Você é incrível. - Ela falou me interrompendo. - Seu amor próprio é o suficiente sim, homem é só um complemento, uma peça no quebra cabeça que você pode colocar se quiser, mas não é importante, quem realmente importa é você mesma, você não precisa de homem para ser feliz, pois a nossa felicidade quem constrói somos nós mesmas.
- Obrigada amiga. - Falo a esmagando no abraço apertado, estou aliviada, como precisava dessas palavras, agora sim eu consigo passar por esse final de semana.
~~~
Eu estou ansiosa aguardando a chamada para o nosso voo. Minha família mora no Rio Grande do Sul, eu resolvi morar no Rio de Janeiro, pois eu tinha sido aceita numa das melhores universidades daqui, era uma experiência totalmente nova, nunca tinha ficado tanto tempo longe dos meus parentes, porém foi uma ótima oportunidade para fugir de Bernardo e tudo o que estava acontecendo na época.
Gostei tanto das praias, do calor, do pão de açúcar, fui visitar o Cristo Redentor, foi o momento mais maravilhoso e emocionante que já passei na minha vida, então decidi permanecer no Rio e não me arrependo nenhum pouco dessa decisão.
- O que você está pensando? - Thales perguntou me olhando.
Nós estávamos sentados nos bancos do aeroporto esperando o nosso avião ser anunciado pelos os altos falantes.
- No Cristo Redentor. Não é maravilhoso visitar ele? No alto da montanha, é uma sensação surreal.
- Não sei. - Ele deu de ombros.
- Como assim você não sabe? Você não é carioca? - Falo arregalando meus olhos de surpresa.
- Isso pode ser uma notícia bombástica, mas quase todo mundo que mora no Rio ou nasceu aqui não visitou o Cristo Redentor.
- Mas porquê não? - Pergunto incrédula.
- Digamos que todo mundo tem seus trabalhos, seus afazeres, muitos tem uma rotina exaustiva, são raros os momentos de folga ou lazer. Quando tem folgas optam mais pelas praias, as praias daqui são lindas, esse calor também só ajuda mais a ideia da praia. O Cristo Redentor é complicado ser visitado, fica longe demais, é bastante caro também e isso só dificulta tudo.
- Mas os estrangeiros o visitam sem nenhum problema. Como os estrangeiros podem visitar mais o Cristo Redentor do que os próprios moradores do estado?
- Também não sei, mas é a verdade. Mas pelo menos nos contentamos com as praias que na minha opinião já vale muito morar aqui.
Eu entreabrir a boca querendo dizer algo, mas sou interrompida pelo som dos altos falantes, era uma mulher anunciando o nosso voo em várias idiomas diferentes, então fizemos nosso check-in e embarcamos.
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Nosso voo foi tranquilo, mas percebi que Thales ficou aterrorizado a maior parte do tempo, porém ele mantinha uma expressão relaxada, só que seus olhos revelavam pânico.
Acho que foi a primeira vez que ele andou de avião, isso explica o medo, até eu também fico com receio da queda, porém é mais seguro que uma viagem de carro.
Já que existem mais acidentes de carros que aviões registrados, porém a viagem transcorreu sem nenhuma turbulência nem nada, mas acho que a mínima sacudida teria feito ele desmaiar.
Assim que pousamos no aeroporto, vejo Thales empalidecer, ele desceu as escadas correndo, depois parecia querer beijar o chão, como se tivesse aliviado por termos sobrevivido.
Achei engraçado, porém mordo meus lábios para não dar uma risada, ele me olhou ficando corado.
- Eu sinto que nasce pela segunda vez. - Confessou constrangido.
- Deixa de ser exagerado. - Falo cutucando seu ombro.
Entretanto, para a minha surpresa ele me deu um selinho, porém quando percebeu minha cara de espanto, ele ficou mais vermelho do que já estava e tentou se explicar.
- Eu só quis comemorar por estar vivo.
- Então escolheu me beijar para comemorar? - Digo abismada.
- Não vejo nada demais em beijar minha namorada. - Falou colocando um dos braços no meu ombro.
Depois ficou me guiando para dentro do aeroporto, mas acho que foi uma desculpa para me fazer de apoio, pois não parecia estar em condições de ficar em pé sozinho.
Pegamos nossas bagagens, Thales resolveu empurrar o carrinho, enquanto fiquei procurando alguém da minha família com a plaquinha na mão.
Estou com sorriso estampado no rosto, ansiosa para dar um abraço em algum deles, a saudade chegava a doer meu peito.
Entretanto, sinto meu sorriso desfazer, quando vejo quem veio nos receber era o Bernardo.
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Namorado de aluguel
RomanceGabrielle está farta de ser a única solteira da família, especialmente no casamento da irmã. Para escapar do olhar crítico dos parentes, ela decide contratar Thales como seu "namorado de aluguel". No entanto, conforme a festa se aproxima, Gabrielle...