Cap 19

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Todos ficaram surpresos, me encarando como se tivesse surgido um bicho de sete cabeças na minha cabeça. Eu deveria ter sido mais sutil para revelar aquela loucura, que por dias achei que fosse a coisa certa a fazer, mas que no final só serviu para me destruir, estou mais triste que nunca, pois acabei perdendo o homem que amo.

- Como é que é? - Minha mãe perguntou perplexa.

- Eu estou chocada. - Luiza falou colocando a mão na boca, igualmente incrédula.

- Não entendo porquê faria uma coisa dessas. - Disse minha avó desapontada.

- Você não precisava fazer isso. - Meu pai falou fazendo uma careta de desaprovação. - E pensar que eu estava começando a gostar daquele rapaz. Quem era ele afinal de contas? Um aproveitador? Você dormiu com ele? - Perguntou me olhando seriamente, recebendo silêncio de resposta. - Não precisa responder, o seu silêncio já confirma tudo. Que bom que foi embora por conta própria, se não eu mesmo teria botado ele para correr daqui.

- Pai. - Falo chocada por aquelas palavras. - O que tem termos dormido juntos? Eu já não era mais virgem mesmo.

Meu pai teve um ataque de tosse perante a minha declaração, resolvendo não dizer mais nada.

- O que ele era afinal? Um garoto de programa? Um acompanhante de luxo? Não acredito que teve coragem de trazer qualquer um para dentro da nossa casa. - Minha mãe falou furiosa.

- Eu não precisava ter feito isso se não fosse sua insistência para eu ter um homem. - Falo levantando o tom de voz cansada de todos aqueles julgamentos.

- Não tente virar isso contra mim. - Ela retorquiu também levantando a voz. - Não é minha culpa que não consiga um por conta própria. Eu só estava querendo ajudar, querendo que você fosse feliz.

- Quem disse que precisamos de um homem para sermos felizes mãe? - Falo começando a chorar. - Nós precisamos primeiramente de amor próprio, precisamos gostar da nossa própria companhia e acho que sou muito mais feliz sozinha. Pois eu estou aqui apaixonada por ele, sofrendo por ter o perdido.

- Eu só queria que você encontrasse alguém bacana e construísse sua própria família. - Minha mãe falou começando a chorar.

- Eu não ter o que você deseja para mim não significa que eu já não seja feliz. Eu era feliz só com o meu amor próprio que você fez questão de destruir.

- Desculpa, eu não sabia que estava te fazendo mal. Você poderia ter me falado e não arrumado qualquer um para fingir um relacionamento.

- Ele não é qualquer um, ele era meu amigo e acho que o perdi até para isso. - Desabafo começando a chorar mais, sendo abraçada pela minha avó agora.

- Se você ama o rapaz, lute por ele. - Minha avó falou beijando o topo da minha cabeça.

- E se ele me rejeitar?

- Não é melhor levar um fora do que passar o resto da vida pensando em como poderia ter sido? - Luiza me incentivou.

- Luiza tem razão, se ele não era acompanhante de luxo, não era ator, então deveria ir atrás dele, pois ele parecia bastante apaixonado por você. - Disse minha mãe enxugando as lágrimas.

- Eu vou ligar para ele. - Digo discando o número, apenas para saber que o seu celular estava fora de área. - O celular dele está desligado.

- Se você o amar de verdade, se for tentar ter um relacionamento sério, eu aprovo a relação de vocês, desde que seja compromisso sério e nada dessas coisas de ficar ou sei lá o que isso significa. - Disse meu pai me dando um sorriso encorajador.

- Obrigada pai. - Digo agradecida.

Depois todos voltaram a mesa para terminarem o almoço e resolvi me forçar a comer com o coração mais leve por ter desabafado.

~~~

A manhã seguinte, começou com a casa lotada de pessoas, decoradores dando os toques finais no quintal para que tudo ficasse lindo para a cerimônia mais tarde.

Eles resolveram fazer um casamento de quintal, já que tiveram que cancelar a que seria da igreja pela mudança da data.

Também tinham maquiadores, cabeleireiros, manicure e pedicure para deixar todas as mulheres da família deslumbrantes. O que acho extremamente exagerado, não precisava de tudo aquilo.

Vou até o quarto de Luiza para ver como ela estava, mas a vejo chorando encolhida na beirada da cama.

- Luiza. - Falo me apressando para chegar nela, substituir o travesseiro que ela segurava fortemente contra o peito por mim, deixando que ela me aperte tanto ao ponto de doer meus ossos. - Você está infeliz, acho que deveria cancelar o casamento.

- Não posso cancelar. - Disse molhando minha camisa com suas lágrimas grossas. - Nosso pai está contando comigo para o acordo.

- Você não pode sacrificar seu futuro e sua felicidade por causa de negócios.

- Eu não tenho escolhas...- Disse sendo interrompida por nossa mãe, que entrou no quarto carregando um vestido nos braços.

- Seu vestido chegou filha. - Disse radiante, como se quem fosse casar era ela e não minha irmã. - Acabou de ser passado, os toques finais foram ajeitados e vou deixar no cabideiro para não amassar até de noite. - Disse colocando o vestido no closet. - Por que está chorando? Você deveria está feliz, é um grande dia na vida de uma mulher. - Falou percebendo só agora o estado da minha irmã.

- É a emoção mãe. - Respondeu no sussurro.

- Ok, é melhor chorar agora do que mais tarde para não estragar a maquiagem.

- Será que você não percebe? - Falo me levantando incrédula.

- Gabi, não, por favor. - Ela me suplicou, fazendo meu coração doer por sua impotência.

- O que não percebo? - Judith perguntou franzindo a testa.

- Que existe maquiagem a prova d'água. - Falo a primeira desculpa que veio na minha cabeça.

- É verdade, vou falar com a maquiadora. - Disse saindo do quarto.

- Você não pode se casar, na hora do sim você pode fingir desmaiar, pode sair correndo o abandonando no altar, se quiser posso deixar um Uber te esperando no portão...

- Eu agradeço Gabi, mas eu vou casar, preciso fazer minha parte, não dar mais para voltar atrás. - Disse forçando um sorriso para os profissionais de beleza que invadiram seu quarto.

Eu suspiro frustrada, pois não posso fazer mais nada para impedir que ela cometa o pior erro da sua vida.

~~~

Eu estou sentada na primeira fileira, aguardando a entrada da minha irmã. Todos os nossos parentes, amigos e parentes de Bernardo estavam presentes.

Bernardo mesmo estando prestes a se casar com Luiza, não tirava seus olhos de mim, fazendo meu nojo aumentar.

Eu tentei ligar várias vezes para Thales, mas ele não me atende, me deixando mais triste do que deveria, estou começando a achar que a chance de termos algo juntos acabou.

A marcha nupcial começou a tocar, fazendo todos se levantarem. Olho minha irmã caminhando, o sorriso forçado no rosto, sendo acompanhada pelo nosso pai que estava a conduzindo com seus braços entrelaçados.

O vestido branco, longo com caimento de calda de sereia a deixou deslumbrante, seu buquê era branco e rosa, ela mantinha seu rosto abaixado, talvez fizesse isso para ninguém reparar a enorme tristeza que estava carregando consigo.

Olho para Bernardo, ele sequer a olhou nenhuma vez, seu rosto transparência tédio, como se quisesse estar em qualquer lugar do mundo menos ali.

Quando ela chegou ao altar, meu pai a entregou a Bernardo, que abriu um sorriso mais falso que uma nota de três reais, o ouço dizer que a faria feliz para o meu pai, que sorriu satisfeito pela promessa vazia dele e todos se sentaram para assistir a cerimônia.

- Estamos todos aqui reunidos para a união de Luiza Sampaio e Bernardo Fernandes...

Eu sinto minha mente desligar, eu não consigo prestar mais atenção naquilo, era torturante, não pelo fato de eu ter gostado de Bernardo, pois não gosto mais dele, a única coisa que sinto é nojo, por ter tentado me agarrar a força, por ter destruído meu relacionamento com Thales.

Tinha um novo motivo para ser torturante era o fato de Luiza está casando com um homem desprezível que não a ama, que não a merece, que sempre a usou, primeiro para se aproximar de mim e agora para virar presidente da empresa da nossa família, cargo que, obviamente, não merece nenhum pouco.

Sou interrompida dos meus pensamentos, quando ouço o padre dizer.

- Bernardo Fernandes, você aceita Luiza Sampaio como sua legítima esposa para amá-la, respeitá-la, na saúde, na doença, na riqueza, na pobreza e até que a morte os separem?

- Sim. - Ele falou sem hesitar.

- Luiza Sampaio, você aceita Bernardo Fernandes como seu legítimo esposo para amá-lo, respeitá-lo, na saúde, na doença, na riqueza, na pobreza e até que a morte os separem?

Luiza ficou em silêncio durante alguns segundos. Ouço as pessoas começarem a sussurrar coisas que não consigo entender, porém minha atenção estava totalmente voltada para ela.

Eu começo a desejar mentalmente que ela dissesse não, que não cometesse esse erro, porém depois que o padre refez a pergunta, a ouço dizer com a voz embargada.

- Sim. - Disse chorando, para todos pareciam serem lágrimas de felicidade, mas eu sabia que não era.

- Se tem alguém contra esse casamento que fale agora ou se cale para sempre? - O padre perguntou, fazendo um minuto de silêncio para alguém se pronunciar.

- Eu tenho. - Eu falo me levantando, fazendo as pessoas suspirarem de surpresa, antes de eu atrair a atenção de todos.



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