Cap 20

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Todos ficaram surpresos me olhando. Vejo minha irmã balançar a cabeça negativamente, numa última tentativa de fazer eu ficar calada.

Porém, o estrago já estava feito, eu tinha interrompido o casamento e agora teria que argumentar o por quê.

Eu nunca poderia viver em paz, sabendo que minha irmã tinha jogado a felicidade dela fora por causa de um acordo ridículo de negócios.

- Explique o porquê você é contra? - O padre resolveu pronunciar, quando percebeu que eu fiquei paralisada, enquanto todos me olhavam.

- Ela está comentando o pior erro...

Fui interrompida por Lincoln, que tinha chegado naquele momento para o casamento. Ele parecia estar ofegante, provavelmente, deve ter corrido para chegar a tempo da cerimônia, que se depender de mim vai terminar nesse momento.

- Ainda bem que vocês ainda estão se casando. - Disse escorando o braço nos meus ombros, sem sequer notar o clima tenso do lugar. - O que eu perdi? - Perguntou finalmente notando a expressão de choque das pessoas.

- Lincoln, sai de perto de mim. - Falo o fazendo engolir a seco, ele se afastou, se sentando na primeira cadeira que viu na frente dele.

- Como eu estava dizendo antes de ser interrompida. - Falo olhando para Lincoln, que ficou vermelho, se afundando na cadeira. - Eu sou contra esse casamento, porque ele não a ama, nunca a amou de verdade.

Confesso fazendo todos ficarem incrédulos, os murmúrios aumentaram mais, fazendo com que eu tivesse que falar mais alto para voltarem a me ouvir.

- Bernardo confessou que só se aproximou de Luiza para ficar mais perto de mim e ele...- Falo sentindo minha garganta secar.

As minhas próximas palavras simplesmente não saiam. Eu engolir a seco, quando percebo o quanto estou constrangida, a vergonha se apoderou de mim, como se eu tivesse culpa por quase ter sido estuprada.

Sendo que sou a vítima, não posso ter medo de contar a verdade, não posso deixar que o julgamento deles seja mais forte que a minha vontade de fazer o que é certo.

Se bem, eu perdi o Thales por causa disso. Será que vou perder minha família também? E se não entenderem? E se colocarem a culpa em mim?

Começo a hiperventilar, não consigo evitar a vontade de sair correndo daquele lugar.

Olho para Bernardo, a expressão vitoriosa no rosto dele só comprova que sabe exatamente o que estou pensando, que não vou ter coragem de contar.

Olho para Luiza, vendo o restante do brilho do rosto dela se esvair, ela está perdendo as esperanças de conseguir se livrar desse destino condenado, de passar o resto da vida com aquele canalha nojento.

Então eu resolvi respirar fundo e dizer tudo o que estava entalado na minha garganta.



Eu iria embora de qualquer maneira. Se quisessem cortar laços comigo não me importaria, pois essa família é tóxica, acho que se não acreditarem em mim, vai ser o maior motivo para eu parar de falar com eles de uma vez por todas.

- O Bernardo quase me estuprou quando vocês estavam no campo de golfe. Foi por isso que Thales foi embora, ele interpretou tudo errado e não me deixou explicar.

- Ele tem um fetiche por ela. - Minha irmã falou resolvendo abrir o jogo.

A cara dela demonstrava nojo perante a minha revelação. Seja qual fosse o motivo dela querer continuar o casamento tinha acabado ali.

Vendo a expressão de choque de todos. Olho para a minha família, observando minha avó sentar pálida, parecia está a beira de um ataque cardíaco, mas mesmo assim Luiza resolveu continuar.

- Ele não transa comigo há meses. Primeiro pensei que tivesse me traindo, depois pensei que o problema fosse comigo, que eu não era mais sexy. - Disse chorando, depois balançou a cabeça negativamente, como se tivesse pensado em algo desagradável. - Um dia, eu tinha acordado de madrugada, eu vi a porta do banheiro entreaberta e vi ele se masturbando com a foto da Gabi. - Disse deixando todos chocados e enojados. - Isso foi muito nojento, mas eu poderia aturar, mas descobrir que você tentou estuprar minha irmã foi o meu limite.

- Você está me fazendo um favor terminando comigo. - Disse Bernardo com raiva olhando para a minha irmã. - Não sabe o quanto é torturante você dormir ao lado de uma mulher que você não gosta, de namorar alguém pensando em outra pessoa, eu nunca te amei, você foi só um passatempo sem graça, desagradável e que acabou durando tempo demais...

Ele foi interrompido pelo tapa que ela deu na cara dele, o tapa foi forte o suficiente para fazer o rosto dele virar para o outro lado.

- Eu te odeio! - Ela gritou furiosa, o enchendo de tapas. - Eu tenho nojo de você, some da minha vida!

- Com todo o prazer. - Disse segurando as duas mãos dela, a obrigando a parar de bater nele.

- Por que você nunca disse nada, Luiza? - Disse meu pai com raiva.

- Você gostava tanto dele, passou anos o treinando para assumir a presidência da empresa. Eu não quis estragar o acordo de vocês e também a mamãe perturbou tanto, julgou tanto a Gabrielle por estar solteira, que não tive coragem, era melhor estar em um relacionamento péssimo do que ficar sozinha e ser julgada por ela.

- E você, Gabrielle? - Foi a minha vez de ver a decepção no rosto dele. - Por que demorou tanto para contar o que aconteceu? Pelo amor de Deus! Ele quase estuprou você, é um assunto muito sério.

- Acontece pai é que ninguém tem coragem de contar uma coisa dessas. Eu fiquei me sentindo culpada, fiquei com nojo de mim, isso me abalou muito emocionalmente, eu quis morrer, quis esquecer que isso aconteceu, mas é impossível, essa experiência horrível vai ficar para sempre comigo, fiquei traumatizada.

- Nós teríamos ficado do seu lado. Eu já teria colocado esse cara para fora daqui. - Disse meu pai furioso.

- Vocês nunca me perguntaram o porquê o Thales foi embora. Ele interpretou do jeito dele e me deixou. Claro que no caso dele, ele não sabia, pois não me deixou explicar. Mas tem mulheres que resolveram contar, porém a sociedade é tão machista e nojenta que culpam as vítimas. Se uma mulher é violentada andando na rua, sozinha, à noite. O que eles falam? Quem mandou a mulher andar sozinha, a culpada é ela. Também tem aquelas que andam com roupas curtas e são culpadas por isso somente pelas roupas que vestem.

- Isso é verdade. - Camila concordou comigo, me lançando um olhar de pena.

- Para não passar esse tipo de julgamento é que preferimos ficar caladas, pois no final a culpada é sempre a mulher...Isso é horrível, uma mulher não deveria ser julgada pelas roupas que vestem. Esses caras nojentos, na maioria das vezes conseguem fugir, é por isso que o mundo é assim cheio de violência, pois até a sociedade culpam as vítimas e acho isso injusto e ridículo. - Eu digo chorando, estou tremendo de raiva, porém aliviada por ter contado tudo.

- Viu o que você obrigou as nossas filhas fazerem? - Meu pai vociferou para a minha mãe, que naquele momento começou a chorar de soluçar. - A sua fixação de exigir que elas se casem, fez a Gabi fingir um namoro e Luiza ficar com um homem péssimo, que não a ama, que a deixa infeliz para fazer as suas vontades, os seus caprichos idiotas, o seu julgamento errado, quase destruiu nossa família e a felicidade das suas próprias filhas.

- Por favor, me perdoem, vocês duas, eu nunca vou conseguir ficar em paz e também sei que não mereço o perdão de vocês , eu sinto muito. - Ela falou chorando na frente de todo o mundo, eu nunca tinha a visto vulnerável daquela maneira.

- Mãe, está tudo bem. - Luiza falou a abraçando, eu estava indo fazer o mesmo, quando Bernardo segurou meu braço, me impedindo.

- Eu estou solteiro. - Falou dando um sorriso largo, fazendo meu desprezo aumentar.

- Solta o meu braço. - Digo tentando me desvencilhar dele, fazendo o seu aperto aumentar. - Você está me machucando.

- Eu te amo, eu guardei esses sentimentos durante anos. Você não sabe o quanto é horrível desejar uma pessoa e não poder estar com ela. Mas agora solteiro nada me impede de ter você, eu vou lutar por você, não tenho mais nada que faça eu parar de correr atrás de você. - Disse se ajoelhando na minha frente, fazendo não só eu, mas todos ficarem incrédulos perante a audácia dele. - Casa comigo, Gabi? Não era assim que sonhei te pedir em casamento, mas já que o padre ainda está aqui.

- Você só pode está louco. - Eu falo sentindo tanta raiva, que a minha única reação foi de levantar ele e dar um tapa utilizando toda a minha força, o que resultou em deixar a marca de todos os meus cinco dedos na bochecha dele. - Eu nunca ficaria com você, mesmo se você fosse o último homem do mundo.

- Já chega. - Falou meu pai, o pegando pelo o colarinho. - Saia imediatamente da minha casa e fique longe das minhas filhas seu monte de lixo. - Disse o arrastando para fora daqui.

- Luiza. - Falo a abraçando apertado, que correspondeu na mesma intensidade e nós duas desabamos nos braços uma da outra.




Namorado de aluguelOnde histórias criam vida. Descubra agora