20° Capítulo

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O dia já estava no fim, quando a tenente aproximou-se do cais de madeira, encarando as costas da mulher de cabelos castanhos.

Havia algum tempo que a capitã havia retornado a casa da praia, informado os detalhes sobre a situação da investigação.
Sem dar satisfações de onde estaria Kalan e Tales.

Passou as ordens a Cristian, que deveria retornar a base da aeronáutica e que Safira devia ser enviada a ala de pesquisa da divisão aérea para auxiliar nas pesquisas sobre o inibidor da bomba tóxica.

A capitã havia simplesmente relatado a ordem e desaparecido.
Maia sabia que algo havia acontecido durante o pouco tempo que Irene ficou na central das forças armadas e estava disposta a descobrir o que era.

— Eles já foram?— a voz da capitã surgiu um tanto cansada, enquanto encarava o som se por no horizonte.

— Sim. O jeep da central veio buscá-los pra pegar o avião.— Maia suspirou, sentando-se ao lado de sua capitã.

— Então seremos só nós mesmo, Maia.— Irene suspirou, balançando os pés dentro da água fria.

Maia voltou os olhos para o céu, lançando os pés dentro do mar, gelado.

— Vamos lá, Irene. O que aconteceu? O que Kalan fez?— a tenente suspirou, sentindo o vento frio surgir, atingindo seu corpo.

A capitã deitou as costas ao chão, voltando os olhos para o céu.
Sentia-se anestesiada.
De alguma forma sua dor parecia atingir seus músculos.
Não entendia o motivo de sentir-se tão deprimida após ouvir as palavras doloridas do capitão da aeronáutica.

— Irene... Não adianta fingir. O que aconteceu na central?— Maia suspirou, voltando os olhos para a mulher a seu lado, que sentava novamente.

— Ele é tão alto como o céu. Livre. Lindo. O tigre da aviação militar.— a mulher resmungou, encarando os próprios pés balançarem sobre a água. — Mesmo que eu sequer imaginasse algo, não imaginei que terminaria assim!— Irene murmurou cansada.

— Não se sinta assim, capitã. Apesar da colaboração para a missão, o capitão Kalan era o melhor amigo do tenente Isaac. Ambos podem descansar agora que a justiça foi feita.— a tenente suspirou, observando os olhos perdidos de sua superior.

A lua brilhava alta no céu, espelhando-se na água cristalina.
Estava finalmente livre do peso do luto.
Seu irmão poderia finalmente descansar em paz.

— Acabou, Maia, já podemos ir pra casa!— a capitã suspirou, levantando-se do cais.

Estava disposta a seguir a ordem de seu pai e trazer honra a sua família, assim como trazia a seu país.

— Nossa casa é a mata, protegendo a fronteira. Como fomos nós apaixonar por pilotos de caça? Aff!—  Maia praguejou, passando a seguir sua superior que riu sozinha.

Irene ao menos sabia distinguir se o que sentia por Kalan era realmente amor, ou afeto, por ser alguém que compactuava da dor da perda de Isaac.
No entanto, suas próprias palavras ditas no vestiário masculino da aeronáutica paravam firmemente sobre sua mente.

Ele era o céu e ela, a terra.

Os olhos castanhos da mulher voltaram-se para o ponto brilhante distante no céu.
Sua memória trouxe a noite em que prometeu a Kalan que não estariam sozinhos se ainda dividissem o mesmo céu.

De alguma forma, a lembrança lhe confortava, mas ainda lhe dava algum medo.
Afinal, sua vida era tão sua quanto uma ordem de algum superior.
Tanto ela, quanto Kalan, estavam em uma moeda, em que sua sobrevivência dependia somente de seu fuzil e de o quão confiável era aquele que estava a seu lado.

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