23° Capítulo

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A passos lentos, o homem, pouco coisa mais alto que um metro e sessenta, cruzou o enorme campo de treinamento do exército em busca da mulher que sumira mais cedo.

Na realidade tinha receio de vê-la.
Não queria se despedir.
Não conseguia ao menos imaginar se por algum acaso do destino, a perdesse. Não deveria sobreviver.

Seus olhos percorreram a quantidade de mulheres consideráveis correndo pela enorme  pista da divisão das forças armadas.
Reconheceu o corpo um tanto pequeno sentado em um dos bancos, virando uma enorme garrafa de água junto aos lábios.

A passos lentos, aproximou-se, encarando o corpo suado da mulher vestida apenas com uma regata militar.

— Elas parecem estar morrendo, não acha que está na hora de finalizar o treinamento?— a voz do tenente surgiu um tanto curiosa, fazendo com que Maia pulasse assustada.

— Ninguém me deixou folgar na minha época!— a mulher suspirou, fechando a garrafa. — Eu não quero ver você, vá embora!— Maia resmungou melancólica.

Pelo canto do olho, observou sua capitã apitar longe, chamando as soldados de volta ao vestiário.
Estava finalmente sozinha com Cristian, no entanto a sensação não era tão boa quanto antes.

— Mas eu quero ver você.— De Luca observou a mulher levantar-se, tomando a parte superior de sua farda em mãos.— Maia, por favor, olhe pra mim...— o tenente chamou, sem resposta. — Querida!?— Cristian soou mais alto.

— Não faça isso comigo!?— Maia cerrou os dentes, segurando as próprias lágrimas.

Lentamente, De Luca aproximou-se, tocando o ombro feminino.
Virou a mulher lentamente, recebendo os olhos melancólicos sobre seu rosto.

— Eu sei que você pensa demais, meu amor, mas nada vai acontecer...— Cristian suspirou, tocando o rosto feminino.

— Tanto eu quanto você pode morrer, Cris! Não consigo nem imaginar viver isso... Não sem você...— a mulher suspirou, permitindo que as lágrimas caíssem por seus olhos.

O homem envolveu o rosto da tenente entre os dedos, puxando-a para mais perto.
Ele mesmo tinha medo de perde-la.
Mesmo que a amasse mais que tudo, sua vida carregava a honra de um soldado e jamais negligenciaria a responsabilidade que havia conquistado.

— Eu sei. Por isso não vamos pensar nisso. Eu só quero ficar com você. Por favor!— o tenente pediu com um sopro, unindo sua fonte a da mulher.

Mesmo que morresse, queria se lembrar de seus últimos minutos de vida com a mulher que amava.
Pois sabia que jamais amaria outra pessoa como a amava.

Maia entendeu por fim o que Cristian queria dizer.
Mesmo que morressem, a memória do que foram juntos, estaria guardada na história de cada um.

— Vamos almoçar em um restaurante novo aqui perto e depois ligar para a vó Alma!— Maia suspirou, deixando um sorriso surgir por seus lábios, enxugando suas lágrimas.

Os olhos de Cristian observaram a mulher tomar sua mão e passar a puxa-lo por entre o campo em direção a saída da divisão.
Não tinha dúvida nenhuma de que aquela mulher seria sua, naquela vida ou em outra.

Distante, a mulher cabelos longos observava o casal sai, enquanto retirava o apito de seu pescoço.
Ela torcia para que ambos vivessem e construísse uma história que marcaria aquela geração de soldados hipócritas.

— Achei você?!— a voz masculina a fez virar-se, revirando os olhos ao encarar o homem, ainda vestido com a sua farda.

— Não vai ver sua mãe antes da missão? E Safira?— a capitã pigarreou, aproximando-se do homem.

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