Dois

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- Bom dia. - Meu pai aparece na cozinha, de pijamas.

- Tecnicamente, está de tarde. - Corrigi, mastigando uma barra de cereal sabor papel com cobertura de plástico. Meu Deus, o que é isso aqui? "Contém sabor artificial de morango". Eu preciso reeducar a minha alimentação urgentemente.

- Mas já?! - Olhou para o relógio de pulso. - Meu Deus, dormi demais.

- É sua folga. Você precisava. Que tal tomar um banho?

Ele coçou a cabeça, os cabelos escuros apontados para várias direções. Ele parecia mais jovem desse jeito.

- É uma boa ideia. Mas primeiro preciso de café. - Respondeu, se servindo de uma xícara.

- Eu coloquei bastante açúcar - alertei, contendo uma risada enquanto ele estremecia ao sorver um gole.

- Blergh. Isso é horrível.

- Eu gosto. Pra mim quanto mais doce, melhor.

- Bom, já sabemos de onde você tira tanta energia para nadar. - Ri. - Inclusive, já foi nadar hoje?

- Sim - respondi -, um dos vizinhos me viu na piscina e pensou que eu estava tentando me afogar.

Ele não riu e me xinguei mentalmente por ter dito aquilo. Ele tomou alguns goles de café e limpou a garganta antes de responder.

- E você estava?

- Não, pai, eu não estava. Só estava nadando.

Ele só me encarou.

- Pai, foi apenas um acidente, um impulso, e já faz meses. - Insisti.

- Sei disso.

- Não sou suicida.

Pude notar que ele estremeceu.

- Já passou. É passado.

- Certo.

- Certo?

- Certo.

É. Café da manhã encerrado.

- Vou para o quarto.

- Certo.

Depois Que Eu Te ConheciOnde histórias criam vida. Descubra agora